Mito abolicionista: Revolução Farroupilha foi financiada pela venda de escravos?

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Sabia que o gatilho da revolução farroupilha  foi um surto de carrapatos?

Vai comemorar a Semana Farroupilha?, muita comida boa, baile e reverência às tradições: tudo muito bom. Mas afinal comemoramos uma revolução que perdemos ou não? Muitos aspectos históricos estão sendo desmistificados com documentos por  historiadores.

Para começar, a comemoração da Semana Farroupilha, tal qual a fazemos hoje, começa em dezembro de 1964. É uma obra da ditadura militar. O patriotismo servia muito bem nessa época, já parou para pensar?

Uma coisa é achar que foi um marco importante para ser comemorado e outra coisa é realmente como foi a história, fora a festança de sete dias, os trajes caprichados e o churrasco melhor do mundo embalado com as melhores milongas.

O jornalista e historiador Juremir Machado da Silva colocou em cheque muitas “verdades” que só o Movimento Tradicionalista Gaucho ainda reverencia .

Revolução financiada pela venda e aluguel de negros

No livro “História Regional da Infâmia”, no qual relata, através de documentos, uma série de fatos pouco divulgados sobre a Revolução Farroupilha. Dentre eles, o de que ela foi financiada com a venda de negros: você sabia?

O mito de que os farroupilhas eram abolicionistas está completamente fora da realidade e os documentos da época que comprovam .Talvez um ou dois  donos de estâncias eram simpáticos à causa abolicionista.  Mas a maioria não era, pois prometeram liberdade para os negros dos adversários que aceitassem ser incorporados como soldados. Era uma forma de atrair mão de obra militar.

Tanto que os escravos dos próprios farroupilhas continuaram nas fazendas trabalhando para que eles pudessem fazer a guerra. Quando a Revolução acabou e eles voltaram para casa, continuaram escravistas. Quando Bento Gonçalves morre, deixa um inventário com 53 escravos aos seus herdeiros, quer mais argumento que este?

Se eles tivessem vencido e a Constituição entrado em vigor, o Rio Grande do Sul continuaria sendo uma sociedade escravista.

Domingos José de Almeida, além de ter vendido seus negros ao Uruguai para financiar a revolução, para ele mesmo se sustentar como ministro da Fazenda e cérebro da revolução, continuava alugando outros negros no Uruguai e vivendo das rendas desse aluguel. Os negros trabalhavam no Uruguai para que ele pudesse ser o chefe revolucionário.

No fim das contas, segundo as pesquisas do escritor  Juremir Machado e outros historiadores contemporâneos, os farroupilhas não eram abolicionista e não pretendiam ser. Só queriam usar os negros.

Segundo o  escritor  a cilada de Porongos chega a ser simplória. “Os negros foram realmente desarmados e dizimados. Davi Canabarro recebeu o aviso de um possível ataque e desarmou os homens, foi tudo muito preparado.”

Destino dos negros sobreviventes

Já o destino dos negros que sobreviveram ao massacre de Porongos, o jornalista e escritor puxa o fio da meada com  investigação histórica em documentos .” Uns escaparam, conseguiram fugir a cavalo, e muitos caíram prisioneiros. Sempre se discutiu o que teriam feito com esses negros . Os farroupilhas dizem que Caxias libertou todos, incorporou ao Exército e conferiu a eles uma condição quase de enobrecimento. E alguns diziam que eles tinham sido enviados para o Rio de Janeiro, para a fazenda imperial Santa Cruz.”

Incorporados como “arsenal”

“Fui atrás e consegui documentos mostrando que eles foram entregues pelos farroupilhas e transportados de navio,  para o Rio de Janeiro, para o “arsenal” da Marinha”, conclui

“Nosso hino é racista, ainda por cima, quando diz que “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. É um insulto àqueles que lutaram com os farroupilhas e foram atraídos e traídos com a promessa de liberdade”,  critica o jornalista.

 

Saco de Gatos

A política  era um saco de gatos segundo o escritor. “Antes de 1835 havia gente que oscilava. Bento Gonçalves, por exemplo, era um monarquista, não era republicano. Neto não era republicano. Bento Gonçalves tinha pendores para fazer uma associação com o Uruguai. Ele se relacionava com o Rivera e pensava, volta e meia, em uma perspectiva de junção com o Uruguai. Mas também não era algo muito convicto”

 

Surto de carrapatos

. “Em 1834 aconteceu a principal causa da Revolução Farroupilha: um surto de carrapatos que devorou o gado. Os fazendeiros ficaram com um prejuízo enorme e fizeram exatamente como os pecuaristas fazem hoje em dia: quiseram repassar o prejuízo ao Império”, argumenta Machado

“Mas essa ajuda do governo central não vinha. Por outro lado, havia um contexto de muitos militares no Rio Grande do Sul. Em 1831, quando Dom Pedro I abdicou, muitos militares foram mandados para cá, numa espécie de geladeira, porque tinham se insubordinado. Então se juntam esses militares cansados e insatisfeitos com os fazendeiros que se sentiam prejudicados pelo Império”, revela.

. “No começo das conspirações, eles só desejam que o Império atenda às suas reivindicações. Alguns querem ver reconstituída sua dignidade militar e serem transferidos para outros lugares. Nossos fazendeiros queriam atendimento às suas reivindicações econômicas.”

“O movimento vai ganhando vida e eles não conseguem mais recuar. Em determinado momento, surge a perspectiva da República, que nenhum dos líderes tinha em mente”.

“Não sou republicano”

No seu livro de Juremir Machado há  uma carta que Neto enviou aos vereadores de Pelotas. Ele, que tinha proclamado a República, disse “não sou republicano”. Eles não eram republicanos, mas aos poucos foram sendo empurrados para aquela situação e acabaram proclamando uma República que o Império nunca reconheceu. Para o Império, sempre se tratou apenas de uma província rebelada

Morreu pouca gente em 10 anos de “guerra”

Foi uma guerra de guerrilhas na qual o exército imperial ficava atrás dos rebeldes e, de vez em quando, tinha algum combate.

Houve muito pouco combate e morreu pouca gente. Em dez anos de guerra, morreram 2,9 mil pessoas. Morria mais gente de gripe do que de guerra.

Passava meses sem que houvesse combate. Claro que houve momentos de heroísmo e momentos de infâmia absoluta, com estupro, degola, sequestro e execução sumária.

 “Do ponto de vista ideológico, eram proprietários rurais em defesa dos seus interesses. E utilizavam os métodos que hoje se condena : sequestro, apropriação do gado e das terras alheias.”, finaliza o escritor

Outros historiadores desmistificam a”revolução”

Os grandes historiadores estão desmistificando a Revolução Farroupilha.

Nomes como Tau Golin, Moacyr Flores, Mário Maestri, Sandra Pesavento, Margeret Bakos, Décio Freitas… Moacyr Flores talvez seja aquele que trabalhou mais intensamente a Revolução Farroupilha.

O livro “O Modelo Político dos Farrapos” é um marco na desmistificação. Tau Golin fez uma espécie de panfleto que teve muito impacto, questionando se Bento Gonçalves seria herói ou ladrão.

Margaret Bakos trouxe muitos dados sobre a condição do negro na Revolução Farroupilha. São esses os caras que realmente têm escrito coisas importantes sobre a Revolução Farroupilha. Se fosse na França, esse pessoal estaria sendo destacado. Mas aqui é o inverso. T

alvez porque o Rio Grande do Sul, como qualquer lugar, precisa de um mito fundador. E o que tem à mão é esse. A história, nesse sentido, estraga um pouco este prazer.

Os fatos históricos não confirmam toda essa grandeza.