Mamografia de rotina acima dos 70 Anos: benefício questionado em estudo de câncer de mama por Yale

2015-04-10_190211

O exame de rastreamento nessa faixa etária aumenta a probabilidade de detecção de distúrbios que não causam sintomas durante a vida de uma pessoa e pode trazer mais danos que benefícios

 

Um estudo com mais de 50 mil mulheres descobriu que fazer mamografias periodicamente após os 70 anos de idade para rastreamento do câncer de mama pode não trazer benefícios para as pacientes. De acordo com os pesquisadores, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mulheres com 70 anos ou mais que se submeteram a mamografias eram mais propensas a serem diagnosticadas com tumores em comparação com aquelas que não fizeram o rastreamento.

Entretanto, esses tumores não representavam uma ameaça à sua saúde. A justificativa para a triagem é justamente detectar uma doença em um estágio inicial para melhorar as chances de sucesso do tratamento. Se o tumor identificado não oferece riscos à saúde do paciente, essa detecção pode ser mais prejudicial do que tolerante, levando a tratamentos desnecessários e aos encargos psicológicos e emocionais que os acompanham.

possíveis outros danos da triagem nesse público incluem falsos positivos, que pretendem realizar de mais testes e procedimentos invasivos, e sobrediagnóstico, termo usado para definir a detecção de um câncer, geralmente por meio de triagem, que não causaria sintomas durante a vida de uma pessoa.

As diretrizes clínicas aconselham que a mamografia para rastreamento do câncer de mama seja realizada a cada dois anos, a partir de 50 anos de idade. Entretanto, o equilíbrio entre benefícios e malefícios do rastreamento em mulheres a partir dos 70 anos de idade não está claro, de acordo com o investigador. Alguns trabalhos anteriores indicaram que o benefício da triagem na mortalidade, por exemplo, pode ser limitado a mulheres com menos de 75 anos.

Tanto que a American Cancer Society recomenda a triagem de mulheres com mais de 55 anos se sua expectativa de vida for superior a 10 anos, enquanto o American College of Physicians recomendau a interrupção do rastreamento de mulheres com mais de 74 anos se a espera de vida por 10 anos ou menos.

No estudo publicado recentemente na revista científica Annals of Internal Medicine, o pesquisador da Escola de Medicina de Yale conduziu uma análise de 54.635 mulheres com 70 anos ou mais que haviam sido rastreadas recentemente para câncer de mama. Os resultados apreciaram que o risco de sobrediagnóstico aumentou significativamente com a idade.

Entre as mulheres com idades entre 70 e 74 anos, cerca de 31% foram superdiagnosticadas. Em mulheres de 74 a 84 anos, essa taxa foi de até 47%. Eles também descobriram que o risco de sobrediagnóstico era maior em mulheres com 85 anos ou mais, que apresentavam uma taxa de até 54% de sobrediagnóstico.

De acordo com os investigadores, não houve redução estatisticamente significativa na morte específica por câncer de mama associada ao rastreamento desses pacientes. A descoberta sugere que o sobrediagnóstico deve ser considerado ao tomar decisões de triagem, juntamente com os possíveis benefícios da triagem.

Em um editorial que acompanhou a publicação do estudo, investigador da Universidade Johns Hopkins, também nos Estados Unidos, citam adicionalmente o diagnóstico excessivo. São eles: risco de complicações decorrentes do tratamento excessivo, ansiedade desnecessária, dificuldades financeiras e consumo exigido de recursos. Segundo eles, uma solução para esse problema seria realizar estudos mais aprofundados da genômica e uma melhor compreensão da biópsia e da aparência patológica do câncer.