O Brasil possui um aparato jurídico robusto que protege os direitos das minorias e promove a inclusão. Contudo, o receio é que as mudanças nas políticas americanas possam influenciar negativamente as práticas corporativas no país
A recente reeleição de Donald Trump à Casa Branca acende um alerta sobre o futuro das políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) nos Estados Unidos, com reflexos potenciais no Brasil. A administração Trump já começou a implementar medidas que ameaçam desmantelar essas políticas, levando grandes empresas americanas a reduzir ou até mesmo encerrar suas iniciativas de DEI. Essa mudança não se limita às fronteiras dos EUA; há um temor crescente de que essa onda de retrocesso se espalhe para o Brasil, onde as desigualdades sociais e raciais ainda são profundamente enraizadas.
As políticas DEI são fundamentais para promover a inclusão e a equidade no ambiente de trabalho, especialmente para grupos historicamente marginalizados. No entanto, a nova postura da administração Trump pode criar um clima de insegurança que se reflete em empresas brasileiras, muitas das quais seguem diretrizes de suas matrizes americanas. Especialistas alertam que essa influência externa pode resultar em uma estagnação ou até mesmo um retrocesso nas iniciativas de diversidade no Brasil.
Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a participação feminina na força de trabalho é significativamente inferior à dos homens, com apenas 53,3% contra 73,2%.(Essas taxas medem o percentual de mulheres e homens com idade para trabalhar que estão empregados ou procurando emprego. Por exemplo: em idade ativa estão na força de trabalho (ou seja, empregadas ou buscando emprego). em idade ativa estão na força de trabalho.)
Além disso, as mulheres ocupam apenas 39,3% dos cargos de liderança, evidenciando a necessidade urgente de políticas que promovam a equidade de gênero.
A coordenadora de Recursos Humanos da Eccon Soluções Ambientais, Daniele Caetano, destaca que a resistência às políticas de diversidade não encontra respaldo nos dados. Ela enfatiza que a diversidade nas lideranças aumenta em até 39% a probabilidade de uma empresa ter um desempenho financeiro superior. Portanto, retroceder nesse debate não é uma opção viável.
A realidade brasileira apresenta um contexto mais favorável para a implementação dessas políticas em comparação com os EUA. O Brasil possui um aparato jurídico robusto que protege os direitos das minorias e promove a inclusão. Contudo, o receio é que as mudanças nas políticas americanas possam influenciar negativamente as práticas corporativas no país.
A agenda ESG (ambiental, social e de governança) continua sendo um caminho sem volta no mercado financeiro brasileiro, com investidores cada vez mais exigentes em relação às práticas empresariais responsáveis. Empresas como Natura e Banco do Brasil têm se destacado por suas iniciativas inclusivas, demonstrando que o compromisso com a diversidade pode ser uma vantagem competitiva.
É crucial que o Brasil mantenha o foco na promoção da diversidade e inclusão, independentemente das mudanças políticas nos Estados Unidos. A luta pela equidade não deve ser vista como uma escolha estratégica, mas como uma responsabilidade moral e social diante das desigualdades estruturais do país. As políticas públicas implementadas pelo governo Trump não devem servir como justificativa para retrocessos no Brasil; ao contrário, devem ser um chamado à ação para fortalecer as iniciativas que promovem um ambiente mais inclusivo e justo para todos.