Zelar pelos pais não significa inverter papéis: pensar que o idoso voltou a ser criança é subvertê-lo

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O ciclo natural da vida é que os pais cuidem dos filhos quando crianças e que os filhos cuidem dos pais, quando esses precisarem. Envelhecer é um processo natural, gradativo e contínuo. Mesmo assim, os idosos nem sempre se conformam com as limitações físicas e psicológicas que a passagem do tempo impõe.
Para os filhos, aceitar este processo também não é dos mais fáceis, porque eles se deparam com a necessidade de ter cuidados com aqueles que dedicaram a vida para criá-los, como se fosse uma inversão de papéis.
No entanto, os especialistas da área da saúde alertam para não confundir os idosos com crianças. Afinal, os mais velhos têm mais experiência do que quem está cuidando. O respeito precisa ser a base dessa relação.
Isso significa que qualquer decisão a ser tomada, que envolva mudanças na vida do idoso, precisa ser combinada com ele. Em casos em que o idoso não está mais apto a decidir, por conta da perda de lucidez parcial ou total, os filhos podem tomar a dianteira, mas sem deixar de respeitar a história de vida, a personalidade e os hábitos daquela pessoa.
Como regra geral, é preciso intervir apenas quando a rotina do idoso desanda.

Como observar
É preciso observar as tarefas realizadas pelos idosos para ver se eles agem diferente que antes. Isso consta em ver por exemplo, a casa continua com a arrumação que costumava ter? Tem comida antiga na geladeira ou falta comida no armário? As caixas de medicação estão com os comprimidos usados na dose adequada? O autocuidado parece adequado? As panelas estão com marcas de queimado? Os armários ou gavetas parecem muito desorganizados? E, principalmente, se ele deixou de fazer por vontade própria ou dificuldade motora ou cognitiva. O indicado, então é sempre levar para um médico especialista (um geriatra) que vai avaliar a situação.

Seguranças com o ambiente
O ambiente do idoso também precisa ser adaptado, sendo removidos tapetes, fios espalhados e pisos escorregadios. Também vale adaptar móveis que tenham quinas ou sejam altos demais e que dependam do uso de bancos ou escadas para serem alcançados. Nos banheiros, é orientado colocar barras que ajudem os idosos a se segurarem, principalmente no banho, quando o piso fica mais escorregadio.
Uma medida importante é manter, em casa, cadernos de telefones atualizados (escritos de forma visível aos idosos), com nomes dos principais médicos e outros profissionais que podem os atender em casos de emergência, além dos endereços e telefones dos filhos.
Outro cuidado é manter contato frequente com pessoas que estão próximas do idoso, como vizinhos ou o zelador do prédio. E ainda, apostar em empresas (como a Monitora Bento), que dispõem de aparelhos com botão de emergência, o que não tira a idependência do idoso, mas deixa os filhos mais tranquilos.

Medicação
Os filhos devem atentar pela medicação diária. Para os que esquecem de tomar a médica, é importante deixar a vista uma tabela com horários. Vale também organizar medicamentos em caixas para cada dia de semana.

Cuidados profissionais
Diante de doenças degenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, e de limitações básicas para locomover-se, alimentar-se e tomar banho, deve-se considerar a contratação de um cuidador profissional.
O cuidador profissional precisa ter formação no trato com idosos e o ideal é que tenha feito cursos em instituições especializadas. Pontos como qualificação, pontualidade, responsabilidade, ética, discrição e sensibilidade com o idoso são fundamentais na hora da escolha. Se a opção decidida for institucionalizar o idoso, é preciso buscar uma instituição respeitada e com profissionais qualificados na área.

O que diz o Estatuto do Idoso
O Estatuto foi instituído por determinação federal em 2003. No art.3º determina que “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.
Para o idoso que esteja no domínio das faculdades mentais, “é assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável”. Ao idoso é garantido o direito de moradia digna (art.37).
Pelo artigo 18, “as instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de autoajuda”.
Os maus tratos aos idosos podem virar crime, tais como: discriminar, desedenhar, humilhar a pessoa idosa, “impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania” (pena de reclusão de seis meses a um ano e multa); deixar de prestar assistência ao idoso, “retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública” (pena de detenção de seis meses a um ano e multa, com pena aumentada se resultar em lesão corporal e morte); abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado (pena de detenção de seis meses a três anos e multa).

Brasil, um país de idosos?
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2050, um em cada três brasileiros serão idosos (acima de 65 anos). Além disso, a expectativa de vida dos brasileiros vem aumentando a cada ano. Se em 1940, era de pouco mais de 45 anos, em 2015 já está em 75 anos.
O Brasil, que já foi conhecido como um país de jovens, vê agora a sua população envelhecer rapidamente. A Coordenadora-Geral de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde, Maria Cristina Correa Lopes Hoffman, destacou que o envelhecimento da população no país tem se dado de maneira acelerada, ao contrário do que ocorreu em outros países.
“O Brasil vai ocupar o sexto lugar no contingente de idosos em 2025, com uma projeção de aproximadamente 32 milhões de pessoas com 60 anos”, comentou.
Preocupado com essa perspectiva de envelhecimento da população, o Cedes, Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados, lançou recentemente o livro “Brasil 2050: Os desafios de uma Nação que envelhece”. A publicação quer antecipar o cenário para os próximos anos e faz uma análise dos impactos da mudança de perfil populacional no Brasil, os problemas e oportunidades gerados pelo envelhecimento da população.

O que o Japão fez?
O Japão é o país com a maior proporção de idosos do mundo: mais de 26% da população tem 65 anos ou mais. Em 2015, o número de pessoas com mais de 80 anos alcançou 10 milhões pela primeira vez, e a perspectiva é que o envelhecimento continue avançando. O país deve chegar à frente do Brasil duas décadas antes, em 2030 e atingir a população de idosos em 30% da total.
Para quem tem demência, foi criado na cidade de Iruma um tipo de monitoração por códigos de barras quadrados (os QR codes), que são instalados nas unhas dos dedos das mãos e pés.
Eles armazenam informações pessoais em uma matriz de pontos ou em um código de barras bidimensional. Esses códigos estão sendo colocados em adesivos de um centímetro, e reúnem dados do idoso, como endereço de casa e telefone de contato. O serviço é gratuito e foi lançado em dezembro de 2016 pela primeira vez no país. A tecnologia permite obter os dados apenas escaneando e a vantagem é que dura duas semanas e é a prova d’água.