Você confia na água que bebe? Saiba o que você pode fazer para mantê-la limpa

2015-04-10_190211

Cotidiana e essencial para a vida, água pode ser contaminada por agentes físicos, químicos e biológicos. Mesmo depois da extensa investigação que comprovou contaminação por agrotóxicos e outros elementos nas análises da água que as próprias empresas responsáveis enviaram ao Ministério da Saúde, nada foi feito.
Reunimos aqui algumas orientações para você poder usufruir da água,  da melhor maneira possível.
A água que você consome está limpa? Está contaminada? Qual a  concentração de cloro que ela contém? E de outros componentes químicos? Ela atende a critérios mínimos de qualidade? De onde essa água vem? E quem é responsável por tratá-la?
Uma preocupação crescente de brasileiros que passaram a conhecer os efeitos da poluição está na contaminação da água distribuída para consumo — seja por agentes biológicos, como vírus e bactérias, seja por agentes químicos (como chumbo e glifosato) ou plástico e metal.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), vinculada ao Ministério da Saúde, estabelece regras de captação e distribuição e parâmetros de qualidade de água que devem ser cumpridos por companhias de saneamento ligadas aos estados e municípios e por empresas que comercializam água em garrafas de plástico.
Acesso a água limpa e saudável para consumo é um direito básico de todas as pessoas — e, no Brasil, um dever do Estado. Não é, no entanto, uma prerrogativa universalizada no país, que mostra problemas ao fiscalizar a qualidade e que pouco expandiu suas redes de abastecimento e esgoto, apesar da abundância de suas reservas.

De onde vem a água para consumo
Se você tem água encanada em casa, é provável que ela tenha sido levada até seu bairro depois de ter passado por uma ETA (Estação de Tratamento de Água), nome que se dá ao local, em companhias de saneamento, em que a água vinda de fontes naturais é tratada até se tornar adequada para consumo.
Em estações como essa, que existem em todo o país, a água é captada em rios, mananciais ou poços e passa por diversas etapas de purificação até que o líquido esteja sem cor, sem sabor, sem cheiro e sem microorganismos e outros contaminantes. Para isso,estas estaçõess adotam diferentes processos físicos e químicos, como filtragem, decantação, cloração e desinfecção.
Por estar associado à garantia de direitos como à saúde e à água potável, o saneamento básico é ele mesmo um direito, reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas e pela Lei do Saneamento Básico (lei federal n. 11.445, de 2007), que define como dever do Estado a universalização dos serviços de abastecimento de água e tratamento da rede de esgoto.
A oferta de serviços de saneamento cabe aos estados e municípios, que têm companhias públicas ou mistas ou fazem parcerias com a iniciativa privada, que se tornam responsáveis por expandir as redes locais de tratamento e esgoto

Como verificar a qualidade
A portaria n. 2.914, do Ministério da Saúde, define os padrões de potabilidade da água para consumo no país e estabelece procedimentos de controle e vigilância de sua qualidade. A água saudável deve apresentar temperatura e valores de pH (indicador que mede acidez ou não) determinados e quantidade mínima tolerável de agentes químicos (como chumbo e arsênio), por exemplo. Por sua vez, as companhias de saneamento devem apresentar às autoridades de saúde pública da região onde atuam um plano de amostragem que comprove o cumprimento desses parâmetros.

Use os sentidos
Em casa, verifique o cheiro, o gosto e a cor da água e observe se, por exemplo, há partículas suspensas no líquido. Uma amostra saudável deve ser incolor, inodora (sem cheiro) e insípida (sem gosto). Impressões diferentes dessa podem indicar que o líquido está contaminado.

Instale um filtro
Ainda que a água de torneira deva, por regra, chegar às casas já limpa, adotar um filtro doméstico de uma marca conhecida pode reter componentes químicos e impurezas do líquido que tenham passado ilesas pelo tratamento das companhias, ajudando a garantir que a água em sua casa esteja saudável para consumo.
Antes de comprar um filtro, leve em conta suas necessidades em casa, seu orçamento, o local em que você vive e suas fontes de abastecimento de água. Uma dica é analisar as etapas do tratamento feito na companhia de saneamento de sua cidade e checar se o filtro escolhido pode realmente complementar a purificação já feita pela empresa.
Mais importante é verificar se, no filtro, há um selo de verificação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), pois a marca garante que o produto em mãos foi aprovado para desempenhar a função descrita na embalagem. Esse selo indica ainda se o filtro pode ou não reter os diferentes tipos de impurezas — partículas (como as de glifosato), cloro, vírus e bactérias, entre outras.
A escolha por um filtro (um purificador, por exemplo) não exclui a compra de outro (como um filtro central). Cada modelo tem desempenhos e funções distintas, e mais de um deles pode ser usado na mesma residência, a fim de garantir a melhor água possível para diferentes atividades da casa.
Assim como os usos, as vantagens e desvantagens variam a cada filtro e mesmo a cada marca — o mesmo vale para a manutenção e limpeza dos aparelhos. Use um filtro de barro se quiser uma opção mais acessível e que não demande energia elétrica. Se quiser um filtro bactericida e de longa durabilidade, prefira um purificador ou um ozonizador.

Limpe sua caixa d’água
A limpeza da caixa d’água é outro meio acessível pelo qual as pessoas podem contribuir para melhorar a qualidade da água em suas casas. Ainda que esteja potável e livre de microorganismos quando chega à sua casa, a água pode se contaminar — com o contato com insetos, por exemplo — se esses reservatórios não estiverem limpos e desinfetados.
6 meses é o intervalo recomendado entre uma limpeza de caixa d’água e outra.
É possível limpar uma caixa d’água sozinho, tendo em mãos apenas água sanitária, panos, um balde, uma escova e uma escada para acessar o reservatório — além de água pura. Uma limpeza assim costuma durar ao menos duas horas (não tanto mais que isso), mas a Sabesp recomenda que se tire uma tarde de folga para executar bem o serviço.
A limpeza da caixa d’água tem limitações, seguramente. Não desinfeta a água se ela vier das companhias de saneamento já infectada com microorganismos e agrotóxicos — para isso, é preciso comprar um filtro adequado, ou ainda cobrar do Estado o tratamento eficaz da água, pois essa é sua obrigação.
As instruções abaixo são genéricas e valem para todo tipo de caixa d’água. Alguns poucos cuidados específicos, no entanto, valem para quem tem em casa uma caixa d’água grande, com mais de 5.000 litros de volume. Em todos os casos, vale a regra: nunca se deve consumir a água da casa enquanto o reservatório estiver sendo limpo, principalmente quando houver solução desinfetante no interior da caixa.

O que muda no caso da água engarrafada
Às vezes diferente da água que vem das empresas de abastecimento — seja pelo gosto, cheiro e componentes distintos dos da água residencial —, a água engarrafada no Brasil também deve atender aos parâmetros de qualidade da Anvisa, independentemente da origem (mineral ou não) ou da marca que a comercializa.
Mais do que a água encanada, contudo, uma única garrafa de plástico de água apresenta risco de conter dezenas ou milhares de partículas de microplásticos, cujos efeitos ainda são desconhecidos para a saúde, segundo estudos recentes.
Uma pesquisa de 2018 da Orb Media, organização de jornalismo sem fins lucrativos que trata do tema nos Estados Unidos, analisou mais de 250 garrafas de 11 marcas líderes no mercado, como a Minalba, e atestou a presença de plásticos como polipropileno, náilon e PET (tereftalato de polietileno).
10,4 partículas de plástico de 0,1 mm (a largura de um fio de cabelo) foram encontradas por litro de água pelos autores do estudo
A divulgação da pesquisa levou ao início de uma série de análises da Organização Mundial da Saúde sobre a água engarrafada no mundo — ainda que, no momento, médicos estimem que as consequências da ingestão de microplástico têm gravidade de baixa a média.
Um ano antes, outro estudo da Orb Media havia constatado a contaminação de microplásticos na própria água da torneira — em 83% de 159 amostras de água potável coletadas pelos pesquisadores. As partículas estão em rios, oceanos, no solo e no gelo marinho, devido à onipresença do produto no cotidiano, tornando-se um dos principais problemas de poluição.
A Sabesp, empresa de saneamento de São Paulo, não faz análises para constatar microplásticos em sua água — as portarias do Ministério da Saúde não as exigem, justificou a empresa em reportagem do jornal Folha de S. Paulo. Ainda assim, duas das 28 estações de tratamento de água da empresa têm aparato de nanofiltração, capazes de reter as partículas.
Apesar dos riscos que os estudos revelam sobre partículas de plástico na água engarrafada, vale enfatizar que optar por seu consumo é altamente recomendável em lugares onde a água da torneira pode estar poluída — beber água contaminada por esgoto é uma ameaça muito maior à saúde, afirmou à BBC Bruce Gordon, coordenador de trabalho na OMS na área de água e saneamento.