Vai fazer cirurgia estética? Pondere os riscos na escolha do profissional

2015-04-10_190211

Morte de bancária após aplicação de silicone reacende alerta para cuidados na hora da cirurgia

 

A bancária Lilian Calixto de Lima Jamberci, de 46 anos, saiu de Cuiabá, no Mato Grosso, para fazer um procedimento na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro. No sábado (14), ela foi submetida à aplicação de prótese de silicones nas nádegas em um apartamento de um médico chamado Denis Cesar Barros Furtado, conhecido como Dr. Bumbum.
Após a intervenção, a paciente teve complicações e foi encaminhada pelo próprio médico para um hospital particular, onde chegou ainda lúcida, mas com taquicardia, sudorese intensa e hipotensão. Horas depois, Lilian estaria morta.
De acordo com o boletim médico, a morte da mulher foi decorrente de quatro paradas cardíacas, causadas por uma embolia pulmonar. O que teria dado errado?

Chip para menopausa
Para o marido, Lilian disse que ia ao Rio de Janeiro para colocar um chip por causa da menopausa. Ele foi comunicado da morte por Furtado no domingo (15).

PMMA em grande quantidade
“Dr. Bumbum” teria usado a substância PMMA (polimetilmetacrilato) na bancária. O material é parecido com plástico, composto por microesferas e utilizado para fazer preenchimentos corporais e faciais. O produto é aprovado pelo Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas indicado para situações pontuais e em pequenas quantidades.

Sem registro no RJ
Além de usar a substância além do permitido, Furtado possui registro para atuar apenas em Goiás e no Distrito Federal, não podendo atuar sem a autorização do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj). A entidade encaminhou na quinta-feira (17) uma comunicação à Polícia Federal sobre o caso do médico, que violou Código de Ética Médica.
A mãe do médico, Maria de Fátima Barros Furtado, que o ajudava no procedimento, teve o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio em 2015, mas continuou atuando ilegalmente. As prisões do Dr. Bumbum e de Maria foram decretadas, e eles acabaram presos na tarde de quinta-feira (19), no escritório de sua advogada. A prisão temporária foi pedida pelos crimes de homicídio doloso duplamente qualificado e associação criminosa. Se for condenado, o médico poderá pegar até 36 anos de prisão.

Alerta
No comunicado, o Cremerj fez um alerta à população sobre os procedimentos estéticos, principalmente os cirúrgicos. “Essas intervenções só devem ser feitas por médicos qualificados e em ambiente em conformidade com as resoluções do Cremerj e do CFM, para que, caso haja algum problema, o socorro possa ser imediato”, disse a entidade.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) também lamentou o óbito de Lilian e destacou que ela fez o procedimento estético com um não especialista e em local inadequado. “Além de não ter formação em cirurgia plástica, o médico realizou o procedimento em sua residência, o que é proibido”, disse o comunicado. A entidade também reforçou sobre os riscos dos procedimentos que envolvem PMMA.
‘A SBCP disponibiliza em seu site, Facebook, e-mail ou telefone, uma consulta para saber se o médico é ou não credenciado pela Sociedade para realizar uma cirurgia plástica. A formação do cirurgião plástico é diferenciada, uma vez uma vez que ele deve obrigatoriamente, após os 6 anos da graduação em medicina, passar pela formação de cirurgião geral (2 anos) antes de cumprir mais 3 anos em cirurgia plástica, somando no mínimo 11 anos de formação”, acrescenta a nota.

Andressa Urach
A ex-modelo Andressa Urach teve complicações depois de injetar PMMA e outra substância, o hidrogel, nos glúteos e coxas e quase morreu em 2014. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional São Paulo (SBPC-SP), o material, também conhecido como metacril, já causou deformidades e complicações em cerca de 17 mil pacientes no Brasil.

Outros cuidados
As orientações da SBCP acercam sobre outros procedimentos da moda, tais como a bichectomia e a aplicação de toxina botulínica, conhecida como botox. Sobre a primeira, a entidade reitera que a operação envolve riscos e tem indicações específicas. “Acima de tudo, está longe de ser uma técnica para todos”.
Já sobre a segunda, a SBCP destaca a decisão de abril da desembargadora Ângela Catão, que acatou pedido da classe médica e declarou ilegal a Resolução 573/2013 do Conselho Federal de Farmácia – CFF, que autorizava o farmacêutico a realizar procedimentos dermatológicos estéticos. “Os dermatologistas e cirurgiões plásticos são os profissionais habilitados na medicina para atuar em tratamentos estéticos ou médicos da pele, por meios considerados invasivos e caracterizados como atos médicos”, pontuou a entidade.

 

Lilian tinha 46 anos e morava em Cuiabá