Vacina em dose única para quem já teve Covid

2015-04-10_190211


Médicos afirmam que há motivos para atualizar as recomendações vacinais, e considerar que uma dose única pode ser suficiente para obter imunidade

Ao se vacinar contra o Sars-CoV-2, quem já foi infectado pelo vírus costuma ter uma resposta imunológica mais forte, com maior produção de anticorpos e maior reatogenicidade: sintomas como dor no corpo, dor de cabeça e febre. Pesquisadores da Universidade de Maryland e do hospital Mount Sinai, um dos mais respeitados dos EUA, defendem uma tese, um tanto, controversa: aquele que já teve a doença reage mais intensamente à primeira dose da vacina, como se ela fosse a segunda.
Foi o que constataram médicos do hospital Mount Sinai, em Nova York, que publicaram um artigo descrevendo as reações pós-vacina de 109 indivíduos, 41 dos quais haviam sido infectados previamente pelo vírus. Todos eles receberam a vacina da Pfizer. Quem já havia pego o coronavírus desenvolveu níveis de anticorpos 10 a 20 vezes maiores, após a vacinação, que as demais pessoas.
Com apenas uma dose dessa vacina, eles apresentaram níveis de anticorpos elevadíssimos – mais altos, até, que os verificados nas pessoas que receberam duas doses, mas nunca haviam tido Covid-19. Também por isso, os indivíduos previamente infectados tiveram mais dor de cabeça e dor no corpo após receber a primeira dose da vacina (sintomas que normalmente só são mais perceptíveis após a segunda dose).
Aplicar uma dose única em quem já teve Covid economizaria vacina, permitindo imunizar mais pessoas. Mas a ideia é controversa e difícil de executar, por várias razões. Primeiro, ela exigiria que bilhões de pessoas fizessem teste de coronavírus – de preferência o RT-PCR, mais preciso e caro.
Mas todos os testes disponíveis têm margens de erro consideráveis, especialmente após o término da infecção, e há outra incerteza envolvida: o decaimento natural nos níveis de anticorpos depois que a pessoa se cura da Covid, um elemento que pode interferir com a estratégia de dose única (e não foi testada nos dois estudos).
Também há a questão da eficácia de longo prazo, que poderia ficar comprometida e a incerteza sobre o que aconteceria se a dose única fosse adotada com outras vacinas – os dois estudos só testaram as vacinas da Pfizer e da Moderna, ambas feitas de RNA.