A Trupe Dosquatro estreia seu mais recente trabalho

2015-04-10_190211

Dias 20 e 21 de outubro às 20h na Fundação Casa das Artes de Bento Gonçalves, A Trupe Dosquatro estreia seu mais recente trabalho, o espetáculo de dança-teatro contemporânea “Um ensaio aos homens dos pés descalços”. Que aborda um tema que sempre se fez presente na sociedade e que na contemporaneidade, apresenta novas conjunturas e dificuldades, a migração.
Para quem acompanha os trabalhos do grupo, perceberá o processo um pouco diferente do que a Trupe vinha trabalhando. Uma obra sem muitas revisões, porém muito coreografada e com uma estética singular, pois A Trupe Dosquatro busca sempre se reinventar (“não gostamos de nos acomodar numa movimentação corporal em particular, acho que como artistas, devemos nos desafiar em cada novo trabalho e buscar outras possibilidades”).
A inspiração para o espetáculo surge dos imigrantes que colonizaram nossa região, (“Nossa cidade, Bento Gonçalves, é a base da dramaturgia deste espetáculo, ‘Um ensaio aos homens dos pés descalços’ é também inspirado nesta migração, onde a fé, família e trabalho foram os alicerces da vida dos imigrantes italianos que chegaram no Rio Grande do Sul no século XIX e deixaram suas vidas para trás em busca de algo(?) Cristian Bernich”). Contudo o trabalho se amplia passando pelas diferentes migrações que acontecem atualmente no mundo, até mesmo pelo se conhece como “a grande migração” que ocorre nas savanas do Serengeti com os gnus lutando pela sobrevivência em busca de alimento, fugindo de leões e crocodilos.
O espetáculo leva ao palco o contexto de um grupo de migrantes, pessoas diferentes umas das outras que se transpõem para outro lugar, cada um com sua história e suas vivências, mas na mesma situação, que à margem social se unem para prosseguir. Seus corpos curvados coreograficamente, projetam seu estado emocional, suas incertezas, fraquezas, tristeza, mas a esperança é marcada pela força das pisadas de seus pés nus.
Neste contexto, com figurinos e cenário de Edson Possamai, a movimentação corporal e coreográfica dos intérpretes mostra um grupo heterogêneo que, apesar de suas diferenças físicas visíveis, apresenta uma harmonia corporal de grupo.
Contudo, estas migrações apresentam suas mazelas iminentes, a morte está sempre à espreita, amores ficam para trás, famílias de desfazem, porém a fé e a crença de um lugar melhor é o que move.
É esta atmosfera que os intérpretes, Rosane Marchetto, Renata Zanchettin, Uelinton Canedo, Sinara Gnoatto, Fernanda Rodrigues, Joelma Roland e Cristian Bernich, buscam envolver o público numa dramaticidade, acompanhada de uma iluminação barroca caravaggista, que enfatiza os traços marcados nos rostos dos intérpretes e o jogo cênico através da técnica “chiaroscuro” refletida no placo com luz e sombra.
O grupo ainda sugere uma proposta diferenciada na cobrança de ingresso, o “pague quanto vale”, ou seja, o público assiste o espetáculo e decide o valor no final.