Transporte público: muita recomendação e pouca fiscalização

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Transporte coletivo urbano funciona normalmente, enquanto população segue com medo da pandemia

O transporte de massa virou o grande gargalo da pandemia da covid-19. A importância desse serviço à população e ao próprio poder público é muito simples, não haveria ruas nem avenidas suficientes para suportar mais de 80 mil carros, em Bento Gonçalves. Como as indústrias, comércio e serviços mantém seus funcionamentos, mesmo em bandeira preta, a necessidade de transporte público se mantém, quase, normal na cidade.

A reportagem do Jornal Gazeta saiu às ruas e flagrou nos principais pontos de ônibus da região central da cidade tudo aquilo que especialistas não recomendam nesse momento de distanciamento social: aglomeração.

Questionamos a Prefeitura Municipal sobre fiscalização e medidas a serem tomadas. Vale ressaltar que estamos na iminência de completar um ano de pandemia, e com suspensão dacogestão no modelo de distanciamento controlado. As medidas entram em vigor a partir deste sábado (27), e até agora, nada foi de efetivo foi feito para proteger melhor a população.

Mesmo divulgando que está sendo feita a fiscalização, o que foi flagrado é agentes do DMT próximo das paradas de ônibus e a aglomeração (como mostram as fotos de quinta-feira às 18 horas) e os ônibus lotados continuam.

Segundo a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico de Bento Gonçalves, Milena Bassani, foram repassadas orientações às empresas de transporte coletivo. “solicitamos que cumprissem o estabelecido no decreto, que estabelece 50 % de ocupação, evitando aglomerações devido ao momento que estamos passando”, afirma.

Para as especialistas, esse sistema de transporte público é responsável por dois problemas. O primeiro é a exclusão progressiva da população do acesso ao transporte conforme o aumento nas tarifas, que sobem ano a ano, comprometendo a renda das famílias. O segundo é que condiciona o lucro das empresas de ônibus à quantidade de passageiros por viagem, ou seja, quanto mais lotados estão os carros, mais as companhias lucram. E, é nessa fiscalização que poder público tem pecado muito, ou, ‘fechando olho’ para irregularidades.

Ainda segundo Milena, a fiscalização está sendo feita nos horários de pico para coibir as aglomerações e também está fiscalizando o transporte coletivo. De fato, encontramos agentes do Departamento Municipal de Trânsito (DMT), no Paradão da Júlio, mas de nada adiantou para evitar que as pessoas se aglomerem sem respeitar o distanciamento social. “É necessário que as pessoas mantenham o distanciamento, uso de máscara, verifiquem a capacidade do ônibus, e denunciem possíveis descumprimentos do decreto para fiscalização”, aponta a secretária.

O ponto crucial, neste momento, é como lidar e resolver esse gargalo no combate a disseminação do vírus na população que necessita utilizar o transporte coletivo. Segundo a secretária, é preciso aumentar o número de ônibus para deslocamento dentro da capacidade estabelecida. Conversamos com as duas empresas que prestam o serviço em Bento Gonçalves – Bento Transportes e Transportes Santo Antônio, e nenhum delas recebeu, por parte do poder público, um pedido formal de aumento de frota, ou qualquer outra orientação. As empresas responderam à reportagem que os itinerários não sofreram qualquer tipo de alteração, mas seguem avaliado a situação e que em caso de necessidade farão as alterações necessárias para proteger os usuários.

Porém, não é o que foi flagrado pela reportagem nas ruas da cidade. Paradas lotadas, ônibus circulando normalmente. A informação repassada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico afirmou que a fiscalização, nos coletivos urbanos, está acontecendo desde a última terça-feira (23) com os fiscais da Prefeitura, a Guarda Civil Municipal (GCM) e Brigada Militar (BM).

Questionada sobre possíveis sanções caso ocorra descumprimento de normas estabelecidas pelas empresas prestadoras do serviço de transporte coletivo urbano, a secretária apenas informou que se constatada irregularidade será lavrado um auto de infração, sem dar mais detalhes.

Medo
No Brasil, 93% dizem ter medo usar transporte público, segundo levantamento do PoderData. Em Londres, que tem um dos melhores sistemas de transporte público, do mundo, esse índice chega a 70%, de acordo com pesquisa da Tetha Financial Reporting.

De forma geral, o carro até pode ser mais seguro, como imagina o senso comum, mas há um custo insustentável em seu uso, que implica num aumento brutal da poluição, de mortes e de redução de uma das maiores conquistas da urbanidade. O fim do transporte coletivo seria, em última instância, o colapso das cidades.