Taxistas relatam onda de violência, mas Brigada revela não haver registros oficiais de ataques a esses motoristas

2015-04-10_190211
Bairro Centro e Botafogo são descritos como regiões de alto risco para trabalhar

Região do Botafogo e o bairro Centro são apontadas como áreas mais perigosas da cidade

Os números da violência urbana assusta, não apenas comerciantes e pedestres, mas taxistas, que a mercê de criminosos, relatam sobre o trabalho nos bairros da cidade. Bento Gonçalves conta atualmente com 92 taxistas, que trabalham 12 horas ao dia. Com tempo de profissão que varia entre quatro e mais de 30 anos, todos concordam com uma questão: a vulnerabilidade do profissional.
Há 39 anos trabalhando como taxista, Severino Costa (nome fictício) é respeitado entre os profissionais da cidade. A convivência com a criminalidade não é novidade para Costa, que afirma que entre os bairros da cidade, a região do Botafogo está entre uma das mais temidas por taxistas.
“Não é fácil trabalhar de noite, e no Botafogo é ainda pior. Uma das dicas entre os taxistas é de nunca parar naquelas esquinas, porque sabemos que é frequente a ação de criminosos”, conta. Um episódio vivido por Costa, que nas palavars dele, serviu de alerta aconteceu em 2012 no Santa Helena.
“Eu saia do Santa Helena e próximo a Carraro havia um carro parado com o capô aberto, aparentemente precisando de ajuda. No momento em que estacionei o meu táxi, um outro veículo encostou atrás, e foi então que percebi que corria risco e pisei no acelerador”, lembra.
O relato é apenas um exemplo, dos inúmeros casos que acontecem diariamente. Uma das “armas” dos taxistas é a comunicação via rádio.
É através dessa ferramenta, que os profissionais se comunicam, e em algumas situações é essencial para evitar um assalto. Já passava das 5 horas da manhã, quando João Paulo Silva (nome fictício também) foi chamado para uma corrida no Botafogo. O cliente, segundo ele, saia de uma festa num bar da localidade.
“Eu estava próximo a um bar quando escutei pelo rádio que era para tomar cuidado nos cruzamentos porque um outro taxista havia sido atacado. Sabendo que era um horário complicado entendi o recado”, diz.
De acordo com Silva, o medo da violência obriga os taxistas a ficarem em locais com fluxo de pessoas. “Eu nunca fico parado numa rua com pouco movimento. De noite ou estou em casa ou fico em frente a um hotel e locais com fluxo de pessoas”, afirma.

Ataque de criminosos
Mauri Alberto Gasparin está há 25 anos na profissão de taxista, e trabalhando das 7h às 17 horas já vivenciou diferentes momentos de tensão. Um deles aconteceu em 2005, conforme ele mesmo lembra.
“Criminosos de São Paulo que vieram assaltar o Banco Real ficaram uns dias aqui em Bento. Quando perguntei para eles o que faziam aqui na cidade, eles disseram que estavam comprando carros usados. Eu então estranhei, mas mesmo assim fiz a corrida até Porto Alegre. Só quando voltei que os policiais perguntaram se eu sabia quem eram os sujeitos. Eu disse que não, e os agente então me falaram que se tratava de assaltantes de bancos”, conta.
Gasparin diz que não é difícil prever um possível assalto. Foi a desconfiança que o salvou em outro episódio.
“As vezes tem um perfil do cliente que a gente desconfia. Há cerca de 10 anos eu estava saindo da cidade com dois sujeitos, e num determiando momento suspeitei deles. Eu então cruzei com uma viatura da polícia e dei sinal para eles, que de imediato entenderam o sinal e fecharam minha frente, dando ordens para os sujeitos sairem do carro. Encontraram uma faca de 30 centímetros dentro do carro”, recorda.
No entender do taxista, não existe um bairro específico em que apresenta maiores riscos. “A violência está em toda parte, em diferentes bairros da cidade, não é possível discriminar uma região específica. A profissão é perigosa, a gente sai pela manhã sem saber que hora voltamos. Mas mesmo assim, não tenho medo do trabalho, é o que amo fazer”, afirma.
Ainda segundo ele, um dos seus funcionários também foram vítimas de criminosos.
“Já aconteceu casos até com meus motoristas, vários foram assaltados. O bandido quebrou o vidro do lado do motorista e começou a dar apunhaladas no braço dele, que por sorte conseguiu escapar”, conta.
Para João Alves Mesquita (nome fictício), que trabalha há quatro anos na profissão, o perigo está presente de forma acentuada no Centro da cidade.
“O perigo está aqui no Centro. No Eucaliptos e Municipal tu sabe o que pode achar, e aqui onde tu pensa que está tranquilo o criminoso te assalta. Quase que diariamente acontece alguma coisa”, lamenta.
“Há dois anos fui atacado por um criminoso, que no fim da corrida me atacou com uma arma e fui obrigado a entregar dinheiro. Eu entendo que a polícia faz o papel dela, que é prender o cara. O problema é lá dentro, já que o cara é preso e logo em seguida, solto”, diz.
O taxista admite que na parte da noite, em virtude da violência, é difícil encontrar profissionais na rua. “Aqui depois da meia noite só se encontra taxi na rodoviária e em pontos estratégicos. Geralmente estamos em casa, mas se você tiver um número de telefone para ligar é só nos chamar que fizemos a corrida”, garante.
Tadeu Zanesco trabalha há mais de 20 anos como taxista e afirma que a região da Cidade Alta é uma das paiores para trabalhar.
“Na Cidade Alta é altamente perigoso. Os criminosos não gostam muito de mexer com taxista porque dá muito problema e a própria vila (zona suburbana) mete uma pressão. O taxista nunca tem muito dinheiro, e aí pode dar problema para o assaltante”, diz.
Zanesco critica o policiamento da cidade.
“Na Praça das Rosas, na Cidade Alta, tem um ponto de policiamento comunitario, mas nunca tem viaturas por lá”, revela.

A ação da Brigada
O capitão da brigada militar, Diego Caetano, afirma que a cidade já tem um histórico de policiamento. “Há uns 15 anos havia policiais nos bairros e membros das associações custeavam as despesas das viaturas. O modelo que temos hoje é o de lucros e tudo é custeado pela Estado”, explica.
Caetano acrescenta que nos últimos meses não houveram registros de ocorrências de taxistas. “Não tem nada registrado de ataque a taxistas. O índice é acompanhado junto com roubo a transporte coletivo. Os taxistas não registraram oficialmente, por conta disso não há um panejamento específico para reduzir esse indicador”, explica.
Ainda segundo o capitão existe núcleos na cidade, com parceria do município, que ajuda com custo de despesas da manutenção das viaturas, inclusive, de acordo com ele, com policiamento na região da Cidade Alta.