Soluços em bebês podem ter papel no desenvolvimento do cérebro, indica estudo

2015-04-10_190211

Por trás do que pode parecer um incômodo ou apenas um barulhinho fofo, está possivelmente um sofisticado sistema de aprendizado que conecta os soluços, a respiração e o cérebro de bebês muito pequenos. É o que sugere um estudo publicado na última semana por pesquisadores da University College London, na Inglaterra, no periódico Clinical Neurophysiology.
Em uma abordagem inédita, os cinetistas observaram a atividade cerebral de 13 bebês prematuros e recém-nascidos não prematuros por meio da eletroencefalografia e conseguiram notar mudanças nas ondas cerebrais a cada soluço.”As razões pelas quais soluçamos não são totalmente evidentes, mas pode haver uma função no desenvolvimento, uma vez que os fetos e os recém-nascidos soluçam com tanta frequência”, explicou em um comunicado à imprensa Kimberley Whitehead, pesquisadora na área de neurofisiologia e líder do estudo.

Segundo o artigo, bebês prematuros são particularmente inclinados a soluçar mais — em média, 15 minutos por dia somando todos os episódios. Ao envolver bebês de 30 a 42 semanas de gestação, o objetivo do experimento foi observar precisamente o que ocorre no último trimestre de gravidez. A partir das 30 semanas, portanto na fase final da gestação, parece haver uma relação entre soluços e uma codificação da atividade no cérebro. O estabelecimento de circuitos multissensoriais é um marco crucial para o desenvolvimento de recém-nascidos.
Neles, soluços costumam ocorrer enquanto os bebês estão acordados ou no sono do tipo ativo; e vêm normalmente em sequências de aproximadamente 8 minutos.
No experimento, pesquisadores observaram nos bebês, a partir das contrações involuntárias do diafragma, respostas no córtex (camada mais externa do cérebro e repleta de neurônios): duas grandes ondas cerebrais seguidas por uma terceira.

Como a terceira onda se apresentou semelhante à despertada por um ruído, o cérebro de um bebê recém-nascido pode ser capaz de vincular o som “hic” do soluço à sensação da contração muscular do diafragma.”A atividade resultante de um soluço pode estar ajudando o cérebro do bebê a aprender como monitorar os músculos respiratórios, para que eventualmente a respiração possa ser controlada voluntariamente, movendo o diafragma para cima e para baixo”, acrescentou Lorenzo Fabrizi, coautor do artigo. “Quando nascemos, os circuitos que processam as sensações corporais não são totalmente desenvolvidos; portanto, o estabelecimento de tais redes é um marco crucial no desenvolvimento de recém-nascidos.”
Os mesmos pesquisadores já sugeriram em outro estudo, por exemplo, que ao chutar o útero os bebês podem estar criando mapas mentais de seus próprios corpos — algo análogo ao que pode estar sendo observado agora quanto aos soluços, mas na parte interna do corpo.
Movimentos involuntários em extremidades do corpo são comuns em recém-nascidos, o que provavelmente indica outras conexões em desenvolvimento no córtex. “Nossas descobertas fizeram nos perguntar se os soluços em adultos, que parecem à primeira vista apenas um incômodo, podem na verdade ser um resquício da infância, quando tiveram uma função importante”, acrescentou Whitehead.