Síndica do prédio, moradores do condomínio e artistas criticam falta de ética do Prefeito

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Ao posar em frente a um mural com obras de grafite e tomar para si as glórias de incentivador da modalidade artística, o Prefeito Guilherme Pasin provocou uma onda de críticas e protestos, principalmente de artistas e dos moradores do condomínio onde foi realizada a pintura.
A polêmica começou com a publicação, em jornal da capital, de uma foto do Prefeito em frente ao grafite do Edifício General Bento Gonçalves, no centro da cidade, onde ele diz que “desde seu primeiro governo, em Bento Gonçalves as intervenções em muros e paredes deixaram de ser consideradas poluição visual”. Na verdade, até então, apenas a pichação tinha essa conotação. Pasin diz que ele buscou uma forma de livrar a cidade dos pichadores e que surgiu a ideia de usar o grafite como expressão artística.
Na publicação fica subentendido que os grafites foram executados com apoio do Poder Público. E foi o que bastou para que os moradores do condomínio revoltados acusassem o Prefeito utilizar um trabalho particular para se autopromover. Nas redes sociais, e em comunicado, o condomínio diz que o trabalho foi uma iniciativa particular de Éder João Barbosa, e teve o consentimento dos moradores, aprovado em assembleia, para ceder o muro e as portas das garagens como “tela” para os artistas Wagner Wagz, de Florianópolis, e Jackson Brum, de Porto Alegre, realizarem suas intervenções. tanto que Pasin não sabia do que se tratava que divulgou em nota de sua assessoria de comunicação que os artistas eram de Bento Gonçalves, quando na verdade são de Porto Alegre.
Os méritos para a realização do evento são de Éder João Barbosa, 34 anos. Vendedor externo de uma loja de materiais hidráulicos, em Bento Gonçalves, dança break há 17 anos. Além das parcerias que conseguiu com empresas da cidade, em novembro do ano passado ele organizou um jantar para arrecadar verba para ajudar nas despesas do confronto, como a compra de passagens aéreas para os jurados, por exemplo.

Artistas grafitaram garagem de edifício em janeiro deste ano

Eder Barbosa, em contato com o jornal Gazeta ,conta que o organizou o “Confronto Final 2017” (promovendo o grafite e danças de rua) em janeiro, reunindo artistas de outras cidades brasileiras. “A prefeitura não auxiliou com verba. As despesas, por volta de R$ 7 mil reais, foram bancadas por particulares”. A repercussão da publicação veiculada no jornal Zero Hora afetou a imagem dos artistas de forma negativa. “Ninguém nos procurou para pedir informações sobre o evento e simplesmente largaram na imprensa. Vou tentar agendar uma reunião com o prefeito porque muita gente está sendo prejudicada. O Pasin quis se promover, mas foi da forma errada”,acusa.
Barbosa reclama, também, que foi solicitado à prefeitura o controle do trânsito para que os artistas realizassem a pintura, mas não foram atendidos. “Nem este apoio tivemos”
O espaço em que as obras foram grafitadas é particular, e foi cedido com apoio dos reunião dos moradores. “Todos aprovaram o projeto para fazer a arte no muro, e a prefeitura não ajudou em nada. Não teve nenhuma verba do governo municipal para fazer o evento. Ele tirou a foto no lugar errado”, desabafa.
O artista Jackson Brum, nas redes sociais, classificou como “triste este tipo de atitude…”.

Incentivo ao grafite iniciou em 2010
Ao induzir que foi o “mentor” do uso do grafite nos muros do município, faltou ao Prefeito pesquisar, na administração anterior a sua, para descobrir que a arte urbana, em muros e paredes, que inclui o grafite, iniciou em 2010 através do Projeto “Muralismo” criado pela Fundação Casa das Artes. E que desde que assumiu o projeto não teve andamento.
Para o dançarino de break, Pedro Festa (Pedrinho) “na época do governo Lunelli teve o projeto “Muralismo”, em que alguns muros foram pintados. Inclusive o Battle In The Cypher (evento de grafite e dança) teve um apoio de contratação. O governo anterior ajudou a liberar alguns espaços privados também”, explica.
Segundo Pedrinho, em 2016 a prefeitura não ajudou os artistas financeiramente. Nó gostaríamos de ter um apoio melhor. Realmente sentimos uma necessidade financeira. E para pintar um destes muros mostrado na foto são utilizados em torno de 100 latas de tinta. É um gasto que precisa ter um ressarcimento”, diz.

Saiba mais sobre o Projeto Muralismo – Arte ao alcance de todos

A expressão de uma sociedade em um espaço público. Essa é a essência do “muralismo”, onde o artista expõe sua arte num espaço permanente, geralmente ao ar livre e em muros e paredes.

Em Bento Gonçalves, o projeto “Muralismo – Arte ao alcance de todos” foi criado em 2010, através da Fundação Casa das Artes, e teve como primeiro painel o muro do Instituto Estadual de Educação Cecília Meireles, na rua Garibaldi, bairro São Francisco. Na época, uma comissão julgadora elegeu os trabalhos que revestiriam muro. Foram selecionados: Maicon Seitensticker, Gilberto Schenatto e Delmar Dall Piaz (obra em conjunto), Aido Dall Mass, Dalcir Marcon, Anderson Cará e Ernani Cousandier. No total, foram 16 propostas inscritas.

Os selecionados receberam o pagamento de R$ 850 pelo trabalho e a Fundação Casa das Artes custeou as despesas com as tintas.

Em 2011 o projeto passou a integrar o Arte no Verão, realizado nos meses de fevereiro e março, com diversas atividades culturais. Naquele ano Projeto Muralismo reuniu artistas visuais de Bento Gonçalves, Caxias, Porto Alegre e Santiago do Chile, que criaram 20 obras em painéis que foram instalados no passeio público junto aos muros do Estádio da Montanha, podendo ser retiradas e expostas em outro local.

Ainda em 2011, a escadaria mais tradicional da cidade ganhou cara nova. Ao subir os degraus da Getúlio Vargas, na ligação entre Centro e Cidade Alta, a parede ganhou pintura do artista local Dalcir Marcon. Uma imagem de 24 metros quadrados que representa uma adega repletas de pipas artesanais, simbolizando a arte de fazer vinho, o principal símbolo de Bento Gonçalves.

A internet não perdoou a vaidade do prefeito

Satirizando a atitude do Prefeito, internautas começaram uma campanha #euapoioografite postando fotos em frente ao local.
Nas redes sociais circulam vários memes do Prefeito, posando em obras abandonadas de sua gestão, ironizando sua atitude.
Depois da furada do Prefeito Pasin em tentar se auto promover e apropriar-se indevidamente da imagem de bem feitor das artes, as redes sociais foram inundadas de críticas e memes.
Sem emitir nenhum comunicado, desmentindo, ou desculpando-se da gafe, viajou para Mendoza (AR) para aprender a fazer festa de vinho e trazer esta experiência para a Fenavinho, como se a cidade estivesse com as contas pagas e sem nenhum problema grave para resolver.