Sessão da Câmara de vereadores é palco para desrespeito às leis e acusações

2015-04-10_190211

Vereadores ocupam a tribuna para acusar forças de segurança e ameaçar boicotar ações do Consepro e desrespeitar os decretos vigentes

A sessão da última segunda-feira (22) da Câmara de Vereadores foi marcada por discursos desconexos, inflamados e com pouquíssima demonstração do porque foram eleitos. Em discursos variados o judiciário foi desrespeitado, a Brigada Militar acusada e estimulado um levante contra os decretos vigentes.

Discursos, muitos deles inflamados, vão de encontro ao pensamento de grande parte da população da cidade, mas, falta o mais importante, ações efetivas que possam mudar a vida das pessoas.
Os eleitos usam o púlpito para reverberar ideologias vazias e críticas, mas usam pouco do tempo extra da sessão para apresentar ideias, ações, fiscalizar o poder executivo, analisar leis que tenham alguma importância para o cidadão.

Fofoca de whats como pauta
Mais uma vez o vereador, José Antônio Gava (PDT), subiu à tribuna para criticar as medidas impostas para o comércio, já que é comerciante também, criticou o governador Eduardo Leite e as ações protocolares do Distanciamento Controlado.

Como grande prova, o vereador citou fato ocorrido na última semana sobre a notificação recebida por uma loja de roupas na área central da cidade. Deixando claro que o comércio pagou para fortalecer a segurança pública e não deveria sofrer sanções, mesmo desrespeitando o decreto. “Vocês lembram da campanha do CIC, CDL para arrecadar dinheiro para Consepro, pra (sic) comprar viaturas, equipar a Brigada Militar? Olha o que é o destino, isso não é pesadelo, isso está acontecendo em Bento Gonçalves”, acusou, sob o olhar complacente do presidente da casa que não interviu em favor do trabalho das forças de segurança da cidade e Consepro.

Em outro momento, o mesmo vereador, que já teve tiros disparados contra sua própria casa, usou uma ocorrência de furto, ocorrido no bairro São Francisco, em uma loja de cosméticos, para lançar dúvidas sobre o atendimento realizado pela Brigada Militar.

Na ocasião, a proprietária do estabelecimento fez um vídeo, que viralizou nos grupos de WhatsApp da cidade. “Uma farmácia de manipulação, a pessoa falou de dentro da loja, três horas da manhã, aí na Planalto, assaltaram a loja dela. Tava (sic) somente ela e a filha, chamaram a Brigada e tiveram que discutir para (sic) eles fazerem o B.O, porque eles queriam que ela fizesse na Delegacia On-Line. No final acabaram fazendo e deixaram a mulher sozinha com a filha dentro da loja às três da manhã”, tentou justificar o vereador, sem quase ninguém entender a sua linha de raciocínio.

O vereador admitiu ao longo de sua bravata contra as forças de segurança que estavam cumprindo o dever, que se baseou somente nas informações do WhatsApp, sem, se quer conversar com os envolvidos para apurar a sua “denúncia” .

A situação mais grave foi a ameaça , gravada em vídeo, do vereador de prometer votar contra qualquer projeto que seja em benefício do Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública (Consepro), ou seja, não aprovará matérias referente a segurança pública de Bento Gonçalves.

Preocupação coerente, mas inoperante
O vereador Paulo Roberto Cavalli (PTB), o Paco, cobrou da Brigada Militar fiscalização dos terminais de ônibus urbano no município, mas esqueceu de cobrar as outras instâncias que tem maior competência para tal, como o Executivo Municipal e as empresas responsáveis pelo transporte de passageiros, já que os ônibus continuam com todos os acentos ocupados + meia dúzia de pé, conforme a Gazeta tem registros de imagens de alguns dias e horários diferentes, sem que haja nenhuma fiscalização por parte do poder público. “Aí sim tem aglomeração. Hoje, quando sairmos daqui vamos, vamos ver se os ônibus estão lotados ou não. Não é o comércio que dá aglomeração, então fica a dica aí para quem fiscaliza”, falou, sem cobrar efetivamente do prefeito, com o qual mantém boas relações, muito menos protocolou formalmente um pedido de esclarecimento. Enfim: discurso vazio.

Uma bancada, uma treta
Thiago Fabris (PP) aproveitou seu momento de fala, no púlpito da Casa Legislativa, para opinar sobre a situação atual do enfrentamento a pandemia no RS. Ele sugeriu uma ação dos próprios vereadores para que leis sejam revistas e aquelas que julgarem incompatíveis com o momento ou incoerentes sejam revogadas. O vereador pediu ajuda, aos seus pares legisladores, para que participem assinando um ofício de solicitações a Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), para que o Governo do Estado reveja os horários diminutos de atendimento do comercio. Ele sugeriu ainda que estabelecimentos considerados essenciais, como por exemplo as lotéricas, possam trabalhar 24 horas.

Somente para causar burburinho, Anderson Zanella, discordou do colega de bancada Progressista notadamente querendo causar comoção, esbravejou: “não adianta mandar carta para Amesne. Tem é que invadir o Governo do Estado. A carta está direcionada para o lado errado”.

Apoiando ao histerismo de Zanella, e esquecendo que é político também, Davi Da Rold (PP), estranhamente cobrou posição dos Deputados Estaduais, sobre as demandas da população e, o que ele considera equivocado, o modelo de Distanciamento Controlado. “Muito cômodo a situação que os Deputados se encontram hoje, de simplesmente se isentar ou omitir sua opinião”.

Já o presidente da Câmara, Rafael Pasquallotto (PP), demonstrou concordar com seus colegas, mas questionou que era hora de se fazer algo (????) que, de fato, renda algum resultado. Disse ele, que as coisas não vão mudar enquanto legisladores apenas publicarem nas redes sociais suas indignações, esquecendo (ou não sabendo o seu papel) que além de ser legislador ele é o presidente da Câmara e tem por dever tomar atitudes dentro da legislação.

Corsan
Sobre a possível privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), os vereadores esqueceram que ela é estatal e que vereador tem limites de decisão geográficos municipais, e se debruçaram em cima do assunto para opinar como se estivessem numa padaria tomando café. Agostinho Petroli (MDB), questionou a ineficiência da empresa estatal, ponderou que a gestão da mesma é feita por cargos políticos indicados pelo próprio governador, que teria criticado sua falta de eficiência. Petroli sugeriu que os gestores deveriam ser pessoas eficientes e não indicações, mesmo admitindo saber que é estatal, onde a gestão é justamente indicação feita pelo dirigente maior do estado.

Sem apontar nenhum dado técnico o vereador afirmou que não “vê com bons olhos” a privatização da Corsan: “recebe muitos recursos, uma empresa super lucrativa, mas usa indevidamente os recursos disponíveis, eu acho que o destino desses recursos são mal feitos”.

Pelego serve para uma cavalgada mais confortável
Mais uma vez, o vereador Zanella (PP) tentou agredir, verbalmente, partidos chamados de esquerda. “Pelegada de esquerda”, assim se referiu o vereador aos sindicatos que representam os trabalhadores e servidores, em especial, dos professores (Cepers). “CUT, pelegada de esquerda, Cepers, pelegada de esquerda”, repetia em voz alta e com as bochechas coradas. O vereador se mostrou ainda indignado com as ações judiciais que bloqueiam as aulas presenciais no estado, e indicou que apresentará uma ‘Moção de Apoio’ (que tem o mesmo efeito prático que xingar muito na internet) para que as aulas sejam retomadas no município. “O primeiro câncer desse país a ser curado é com o fim dos sindicatos políticos aparelhados pela esquerda”, inflama o vereador, esquecendo que a grande maioria de seus votos vieram de pessoas sindicalizadas. Se achando invencível esbravejava contra ação do judiciário país afora, acusando que o poder moderador está atrapalhando a administração do país.

Zanella emocionado com o som da própria voz, conclamou os empresários para que abram as portas de forma normal (não respeitando os horários impostos) no dia 1º de abril (dia da mentira). “Com os devidos cuidados que tem que ter, todos vamos abrir”, alertou. A manifestação foi, claramente, para o setor de bares e restaurantes, que até o momento é o mais prejudicado pelas ações de distanciamento social, mas que não estavam cumprindo regras de distanciamento amplamente registradas em fotos de mesas entulhadas pelas redes sociais.

O vereador não teve o menor constrangimento de incitar a desrespeitar a legislação vigente, as forças de segurança:“ vamos todos abrir as portas, pode vir Brigada fechar, nos já quebramos mesmo”, gritava o representante do povo eleito.