Risco de contágio: pode usar ar-condicionado no verão?

2015-04-10_190211

O inverno está acabando e logo as temperaturas altas pedem o uso de ar condicionado. Mas, durante a pandemia é possível a transmissão do Covid 19 pelo ar. Um estudo alerta para os perigos da não ventilação natural em comércios, shoppings, restaurantes e academias

A cada verão que passa, mais aparelhos de ar-condicionado são comprados. Nos últimos anos, esse mercado tem crescido , apesar da crise econômica e da queda no consumo impactando a venda de outros produtos. Mas depois da pandemia de coronavírus de 2020, há dúvidas se, com o calor que se aproxima, poderemos ligar esses milhões de aparelhos que estão nas nossas casas, pequenos comércios, lojas, shoppings, carros e transporte público. Afinal, há cada vez mais indícios da transmissão do vírus pelo ar, e em julho um estudo da China surpreendeu ao apontar o ar-condicionado de um restaurante como vilão na infecção de 10 pessoas de três famílias diferentes almoçando ali. Primeiro, o ar-condicionado em si não é o vilão, mas sim o confinamento coletivo, ou seja, seu uso em ambientes fechados, em que há pouca ou nenhuma circulação de ar, com presença de outras pessoas que podem estar infectadas. Por isso, com o coronavírus circulando, deixar portas e janelas fechadas enquanto o ar está ligado não é aconselhável. No cenário atual, deverá ser necessário apelar para aparelhos que convivam melhor com estas aberturas, como ventiladores e climatizadores; ou usar o ar-condicionado com frestas abertas; ou ainda o ar-condicionado associado a ventiladores e janelas abertas. O inverno está acabando e logo as temperaturas altas pedem o uso de ar condicionado. Mas, durante a pandemia é possível a transmissão do Covid 19 pelo ar. Um estudo alerta para os perigos da não ventilação natural; A não ser que o sistema de refrigeração inclua equipamentos de renovação mecânica, o que, segundo especialistas, seria o ideal, mas exige planejamento e altos custos de manutenção, sendo raramente visto no Brasil.

Ar-condicionado central, exaustor e sem janelas
O artigo científico sobre o restaurante chinês que colocou o ar-condicionado sob holofotes foi publicado por pesquisadores do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) de Guangzhou no periódico científico Emerging Infectious Diseases, editado pelos CDCs (Centros de Controle de Doenças) dos Estados Unidos.
Eles rastrearam pessoas que almoçaram no dia 24 de janeiro em um restaurante de cinco andares, sem nenhuma janela, com exaustores e ar-condicionado central (sistema capaz de climatizar vários ambientes a partir de um único equipamento; os modelos variam em porte e na tecnologia empregada pra distribuir o ar frio, sendo comumente encontrados em bancos, supermercados e shoppings).
Um cliente, ainda assintomático, tinha viajado de Wuhan, cidade chinesa em que o vírus começou a infectar humanos, para Guangzhou, onde fica o restaurante. Ele e sua família se sentaram em uma mesa ao lado de outras duas, com distância de cerca de um metro entre elas. As três mesas estavam na reta de um aparelho de ar condicionado. Ao longo dos dias seguintes, o cliente vindo de Wuhan e mais nove pessoas presentes nessas três mesas foram diagnosticadas com covid-19

Cuidado com ventilação e qualidade do ar é pouco comum no Brasil
No Brasil, é comum que as pessoas se preocupem simplesmente com que o ar-condicionado abaixe a temperatura, e não com as condições de ventilação ou qualidade do ar, diz Oswaldo Bueno, engenheiro e consultor da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
Aparelhos mais simples, como do tipo minisplit, pegam o mesmo ar de um ambiente para reciclá-lo, já que normalmente não vêm acompanhados de mecanismos de renovação mecânica do ar. No caso de aparelhos de janela, alguns modelos têm a opção da renovação, mas nem todos.
Até existem opções no mercado de aparelhos para fazer isso, como insufladores (que incluem filtro e ventilação) e caixas de ventilação, mas é “raríssimo” que isso seja uma preocupação em casas ou pequenos negócios. E deveria ser alvo de maior atenção mesmo antes da covid-19, pois o ar pode concentrar outros vírus, bactérias e fungos, além de gases tóxicos.
Um exemplo é o consultório de dentista que vai ter uma pequena máquina funcionando. Essa máquinas representam cerca de 75% de todo e qualquer equipamento no mercado brasileiro. E todas vezes que essas máquinas são instaladas, não há preocupação com o ar externo.
Erick Campos, engenheiro mecânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), do campus de Governador Valadares, escreveu um relatório justamente sobre os impactos da pandemia nos sistemas de ar condicionado na realidade brasileira, em conjunto com o professor Bruno Augusto Guedes, também da UFJF.
Campos diz que, mesmo em cenários em que a ventilação não foi prevista, uma nova adaptação para tempos de covid-19 pode ser inviabilizada por custos, não só com a instalação mas também com o maior gasto de energia. Afinal, a renovação retira ar mais frio e insere o ar externo, geralmente mais quente, então o trabalho para refrigerar é maior. Isso significa também que em muitos casos a potência dos aparelhos pode ser insuficiente para tal adaptação, já que originalmente não foi calculada a entrada de mais ar externo.

Riscos em casa
Entretanto, que em casas onde vive uma família os riscos de transmissão acontecem em várias situações, e o contato continua sendo mais importante para a transmissão do coronavírus do que uma eventual transmissão por meio das correntes de ar condicionado. Por isso, em todos os casos, o uso de máscaras e o distanciamento continuam sendo fundamentais.

Transportes
A importância da ventilação vale também para carros e ônibus, embora alguns veículos tenham no seu sistema de climatização a opção de renovação do ar, com troca entre o interno e externo.
Em relação aos filtros convencionais, que normalmente retêm contaminantes nos aparelhos, as evidências indicam que, para o coronavírus, eles não são tão eficazes pois o patógeno é leve o bastante para ser aspirado pelo ar-condicionado e ao mesmo tempo pequeno para atravessar os filtros, explica Campos.
Os filtros são importantes também para conter partículas de outros patógenos e também da poluição, o que contribui para a proteção do sistema respiratório das pessoas, ainda mais os filtros mais eficazes, com eficácia mínima de 50% para partículas menores que 0,4 µm. Entretanto, aparelhos simples como o minisplit tampouco têm filtro, e sim uma tela de proteção que, segundo os especialistas, é insuficiente.