Relatório da ONU relata que pesticidas não são essenciais para alimentar humanidade

2015-04-10_190211

De acordo com o relatório, 200 mil pessoas morrem por ano de envenenamento agudo por causa do uso dos pesticidas

Um relatório elaborado por especialistas das Organizações das Nações Unidas (ONU) e apresentado na quarta-feira (7), relatou que pesticidas não são essenciais para alimentar a população mundial crescente.
O documento acusa as corporações mundiais que fabricam pesticidas de negarem sistematicamente os danos causados pelos seus produtos, de “táticas de marketing pouco éticas e agressivas”, de transferirem a culpa dos impactos evitáveis dos produtos para os utilizadores, e também lobbying junto dos governos, que tem “impedido reformas e paralisado restrições” à utilização dos pesticidas.
De acordo com o relatório, 200 mil pessoas morrem por ano de envenenamento agudo por causa do uso dos pesticidas. Ainda que a indústria do setor, cujo mercado vale 47 mil milhões de euros por ano, defenda que os seus produtos são essenciais para a proteção das culturas e o abastecimento de alimentos para uma população mundial crescente (que alcançará os 9 mil milhões de habitantes até 2050), os autores do documento contra-argumentam estas alegações.
“É um mito. Usar pesticidas nada tem a ver com acabar com a fome. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), já conseguimos alimentar 9 mil milhões de pessoas hoje em dia.
A produção está definitivamente a aumentar, mas o problema é a pobreza, a desigualdade e a distribuição”, explicou Hilal Elver, relatora especial da ONU para o direito à comida. Apenas 35% dos países em desenvolvimento têm um regime regulamentar para o uso destes químicos.
O trabalho recomenda a criação de um tratado global para gerir a utilização de pesticidas, uma viragem para práticas sustentáveis, incluindo métodos naturais para controlar as pragas e a rotação de culturas, e o incentivo à produção de alimentos biológicos.
“A exposição crônica aos pesticidas tem sido associada ao cancro, à doença de Alzheimer e de Parkinson, à disrupção hormonal, a problemas de desenvolvimento e esterilidade.” , diz o relatório. Igualmente exposto no relatório está o risco para as crianças da contaminação da comida por pesticidas, que levou a 23 mortes na Índia, em 2013, e 39 na China, em 2014.