Quem somos nós pra ‘‘cancelar’’ alguém ?

2015-04-10_190211

A moda de ‘cancelar’ pessoas apenas por divergências não é nada moderna

Apesar de estar muito em voga por causa do reality BBB esta inquisição moderna da política de cancelamento tanto festejada e estimulada por “influenciadores” atenta contra a liberdade de expressão.

Não é de hoje que quem ousa ser voz dissonante é excluído de grupos.
O efeito manada provocado pela sensação de pertencimento é reconfortante. Nada melhor do que se sentir dentro de um grupo, mesmo que seja para linchar alguém.
As implicações negativas desta cultura surge no intuito de destruir reputações.
Cada vez mais os que não têm ideias próprias – pelo vazio cultural e/ou falta de interesse em procurar se instruir, informar – precisam se agarrar em opiniões alheias para se sentir participante de algo, já que sua tacanheza não lhe permite ter pensamentos e decisões individuais.

Na inquisição moderna, o que vale é o assassinato de reputações, chamado hoje de cancelamento e que transcende o mundo das redes sociais.

Mais do que um crime contra a pessoa, o ato de cancelar alguém pode se tornar ainda pior, quando se atentar contra a liberdade de expressão e pensamento, citada na Constituição Federal no art. 5°, inciso IV :“É livre a manifestação do pensamento[…]”

Mas, no Brasil, muitíssimos são os casos onde se tenta suprimir a fala ou manifestação de pensamento de outrem por discordâncias no campo político ou ideológico.

Estimulado pela impunidade escrachada de perseguições praticadas no Palácio do Planalto, até um “político” local e seus asseclas, perseguiam, ameaçavam, xingavam e até processavam quem ousasse apontar suas falhas notórias, ou mesmo discordar de suas postagens.

O pensador e historiador do século XIX, Alex de Tocqueville, é visceralmente atual em seu pensamento: “em qualquer época, eu teria amado a liberdade; mas, na época em que vivemos, sinto-me propenso a idolatrá-la.”

As redes sociais são um palco para o exibicionismo moral, e têm intimidado pessoas a expôr o que pensam por medo do julgamento social (cancelamento), ou têm vendido uma vitrine cheia de falso moralismo, personagens que fazem discursos que não coincidem com a realidade por trás da selfie ou da live.

Como ir contra essa maré do cancelamento nas redes sociais, evitando julgar sem necessidade?

Sem entrar no mérito da rapper Karol Conká, que exerceu toda vilania contra os participantes do reality, deixando cair a máscara de militante que cultivou durante anos em frente aos holofotes, vamos analisar o perfil do cancelador.

Como exigir direitos, violando um outro direito?
Como não achar que somos donos da verdade, se policiar, pesquisar os fatos, ouvir os dois lados e não julgar o todo de uma pessoa por um único ato, ou o que transparece apenas pelas redes sociais?

Afinal, errar não é humano?
Não falar tudo que pensa às vezes é ser coerente, não incitar à nenhuma forma de violência, não compactuar com boicotes por uma necessidade de aceitação ou pertencimento?
Quem é bom e quem é mau?
Se somos os bons vamos jogar na fogueira os maus?
Ao queimar os outros eu não estaríamos sendo maus?
Como separar o joio do trigo?

A pessoa canceladora, que passa pelas redes sociais para depositar o seu pensamento discordante em posts alheios, como se fosse uma profissão ou designação divina, deve repensar seus atos, pois o “cancelado/ criticado” tem o direito, pela Constituição de ter opinião em sua própria página/app.
E se o cancelador não gostar, não siga, ignore, pois ele está no direito de se expressar dentro de seu domínio.

Está comprovado que a personalidade canceladora também sempre é intolerante e violenta. A pergunta que fica é :que direito ele tem de que somente a sua verdade seja a estabelecida?

A reflexão final é:
Se todos têm o direito de ter liberdade de expressão, por que cancelar alguém?
Quem ou o que você cancelaria?
O que você cancelaria em você?
O que você não expõe na rede social por medo?
O que você pensa ou pratica e, se colocasse na rede social, seria cancelado?
Então, todos somos canceladores e devemos ser cancelados em algum momento?

Falta muita, mas muita compreensão e empatia na sociedade como um todo
Todos julgam na superficialidade, comprando a “opinião” de outrem e saem falando o que não sabem.
Que tal rever nossos comportamentos/pensamentos (se os tivermos!), antes de apontar o dedo e fazer julgamentos, pois erroneamente acreditamos sempre ter mais razão, mais bom senso e mais conhecimento do que o outro?

Existe um destes “pensamentos” recorrentes nas redes sociais – mas muito verdadeiro -, que volta e meia aparece na timeline da maioria das pessoas que diz assim: “levamos menos de um minuto para compreender e julgar a vida alheia, e a vida inteira para não entender a própria”