Quem produz e como é feito o vinho das missas?

2015-04-10_190211

Cinco vinícolas do Rio Grande do Sul, fabricam perto de um milhão de litros da bebida canônica por ano no país.

O momento mais importante da missa católica é a eucaristia. Nesse ritual, o padre comunga o corpo e o sangue de Cristo, representados respectivamente pela hóstia e pelo vinho.
Da mesma forma que ocorre com a hóstia, que deve ser confeccionada de acordo com as normas da Igreja, a produção de vinho para uso litúrgico deve observar tanto a legislação do Ministério da Agricultura como as regras do Código de Direito Canônico, que determina que o vinho de missa “deve ser natural, fruto da videira, puro e sem substâncias estranhas”.
No Brasil, a produção desse vinho data do começo do século passado. São poucas as vinícolas que se dedicam à elaboração de vinhos para missa. No Rio Grande do Sul, Estado que responde por 90% da produção brasileira de vinhos, cinco empresas fornecem para esse nicho de mercado.
O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) não possui dados oficiais de produção e comercialização de vinho canônico. “Sabemos que a representatividade da categoria é pequena se comparada com outros produtos vinícolas, mas trata-se de um mercado estável”, diz Oscar Ló, presidente do Ibravin.
De acordo com as estimativas da entidade, as empresas do Rio Grande do Sul comercializam perto de 500.000 litros de vinho canônico por ano, em meio a um volume total de 200 milhões de litros de vinhos e espumantes.
A Vinícola Chesini, de Farroupilha (RS) produz em média 50 mil litros o vinho canônico iniciou a produção na década de 1970 e vende o vinho canônico tanto nos antigos garrafões de 5 litros como em garrafas de 750 mililitros e em caixas de papelão (conhecidas como “bag in box”) de 3 e 5 litros.

Capuchinhos
Com tradição mais longa no segmento, a Vinícola Salton produz vinho canônico desde a década de 1940 e atualmente, as vendas da empresa se situam em 300.000 litros do produto por ano.
Oitenta por cento do volume produzido pela empresa é comercializado para as paróquias e os 20% restantes para diversos tipos de consumidores, uma vez que o vinho litúrgico se assemelha a um vinho do porto e pode ser harmonizado com sobremesas e doces e também é usado na confeitaria
Já a Vinhos Frei Fabiano, de Vila Flores, começou a produzir seu produto litúrgico, conhecido como Vino Santo, em 1954. Lá são os próprios freis capuchinhos que fazem a bebida. Vindos da França, eles chegaram à Serra Gaúcha em 1896 para as missões. A fim de se sustentarem, os capuchinhos passaram a cultivar extensas áreas de vinhedos. Hoje são produzidos cerca de 50 .000 litros de Vino Santo por ano, comercializados também em todo o território brasileiro.
O vinho canônico é um produto que se diferencia por ser rosado, licoroso, doce e produzido com pouco ou nenhum conservante. Sua graduação alcoólica é alta, entre 16 º e 18 º, adquirida por meio de um longo processo de fermentação, que pode durar anos. A grande concentração de açúcar e de álcool contribui para a conservação do produto, que é consumido lentamente. Mesmo nas residências, o consumo é lento, pois o vinho é degustado em pequenas doses como aperitivo ou para acompanhar sobremesas.
Outras duas vinícolas gaúchas que produzem o vinho litúrgico são a Perini (450 mil litros/ano) e a Don Affonso, que produz apenas mil litros por ano.

Como faz o vinho canônico?
Fundamental para o sacramento da eucaristia, o vinho está profundamente ligado à história do Cristianismo. Mas como será o vinho consumido pelos padres na celebração das missas?
Também chamado de vinho sacramental, ou vinho canônico, o vinho utilizado na consagração representa o sangue de Jesus, enquanto o pão representa o corpo de Cristo, no fenômeno da transubstanciação.
Para esse ritual, o mais comum é uma produção de vinho específica, que segue rígidas instruções do Vaticano. Muitas vinícolas ao redor do mundo dedicam-se à produção exclusiva de vinhos para missa.
Mas o uso de vinho “de mercado” também é permitido pela Igreja Católica, desde que a bebida escolhida atenda às condições necessárias para a validade do sacramento, sendo um vinho 100% de uva, sem adição de outras substâncias, respeitando o limite de 18° de graduação alcoólica.
Pode ser surpreendente, mas o vinho que representa o sangue de Cristo não precisa ser, necessariamente, vinho tinto, principalmente no catolicismo ocidental! Isso mesmo! O mais popular vinho de missa consumido no Brasil, por exemplo, é um rosado. Já os padres europeus, inclusive em Roma, dão preferência ao vinho branco, para evitar manchas nos tecidos do altar e em suas vestimentas.
Com adição de álcool etílico de uva durante a fermentação, assim como ocorre nos vinhos fortificados, o vinho canônico costuma ser licoroso e doce, podendo ser conservado por bastante tempo, já que o consumo de suas garrafas é lento, com uma quantidade bem pequena consumida a cada missa celebrada.
As variedades de uvas utilizadas no processo de fabricação dos vinhos de altar podem ser de Vitis Vinifera ou híbridas americanas. No Brasil, as mais comuns costumam ser Moscato, Saint-Emilion e Isabel, tendo como resultado um vinho rosado com cerca de 16% de graduação alcoólica.
Certamente não é uma bebida que agradaria ao paladar de muitos apreciadores de vinho. Mesmo assim, cerca de 20% da produção brasileira de vinhos canônicos não é absorvida pela Igreja, e, sim, por consumidores que apreciam este tipo de vinho mais doce.
Mas é possível encontrar, sim, bons exemplares de vinhos canônicos, com aroma e sabor intensos. Uma dica é procurar aqueles da Toscana.

Orientação do Vaticano
Entre as uvas mais usadas na produção dos diversos produtos comercializados no país destacam-se moscato, alicante, isabel, bordô e saint emilion. Não há uma padronização do produto, mas a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) estuda criar um selo para atestar a qualidade do produto litúrgico.
Um dos momentos mais importantes da celebração de uma missa católica é a eucaristia. O ritual relembra o ato de Jesus Cristo, descrito na Bíblia, de partilhar com seus apóstolos o pão e o vinho, como representação de seu corpo e sangue.
Conhecido como vinho canônico ou litúrgico, essa bebida só pode ser produzida com a autorização da Igreja Católica, obedecendo uma série de critérios.
Após o esmagamento das uvas, o mosto é fermentado em contato com a película com adição de fermentos selecionados. Terminada a fermentação, o vinho é clarificado, filtrado e recebe uma dose de mosto concentrado da uva e álcool vínico, produtos oriundos da própria uva. O processo dura seis meses e é realizado em tanques de inox.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) possui algumas recomendações para a fabricação do vinho utilizado na Eucaristia.
Segundo a CNBB, o vinho deve ser exclusivamente obtido da fermentação da uva, sem conservantes ou outras substâncias.
Pode-se adicionar açúcar de cana e é permitido fazer a correção do teor alcoólico com destilado vínico.
O vinho se parece mais com um licor, com dulçor acentuado e coloração rosada. Além de remeter ao sangue de Cristo, o tom da bebida permite que as manchas nos paramentos sejam limpas com facilidade.
O teor alcoólico do vinho litúrgico costuma variar de 16% a 18%, dependendo do rótulo, ficando bem acima dos vinhos comuns.
Na missa, utiliza-se uma pequena dose de vinho, que é complementada por algumas gotas d’água. Uma garrafa de 750ml geralmente dura entre 15 e 20 missas.