Queda de preços nos aluguéis não afeta Bento Gonçalves, segundo representante do Creci

2015-04-10_190211
A baixa procura reflete no índice FipeZap, que divulgou que o preço médio do aluguel na cidade metropolitana teve queda nominal de 3,81% em 2016

Apesar dos valores dos aluguéis despencarem em todas as capitais brasileiras, representante de entidade de corretores afirma que o município não foi afetado pela crise, já imobiliárias relatam cenário diferente

Uma reportagem no Jornal O Globo, nesta segunda-feira (3) relatou a crise imobiliária que o país atravessa, ressaltando que somente no Rio de Janeiro, já tem 14,4% de imóveis residenciais vagos para locação, o maior número em um ano. Mais próximo a Bento Gonçalves, quem passa pela Avenida Osvaldo Aranha, de Porto Alegre, percebe a quantidade de salas comerciais fechadas e com cartazes para aluguel. A baixa procura reflete no índice FipeZap, que divulgou que o preço médio do aluguel na cidade metropolitana teve queda nominal de 3,81% em 2016.
Entretanto, de acordo com a corretora Raquel Vieira, delegada adjunta do Creci, a crise que assola o país não está presente em Bento Gonçalves. Se na capital carioca os proprietários estão mais sensíveis a negociações, e há casos em que dão gratuidade de dois a três meses de locação só para conseguirem alugar, Raquel diz que não é o caso da capital do vinho.
“O nosso perfil do investidor é diferente dos outros estados. O investidor aqui tem vários imóveis. Por exemplo, nós apresentamos, a clientes nossos que estavam com imóvel desocupado há algum tempo, valores inferiores ao que tinha solicitado e ele preferiu aguardar.
Porém, a corretora concorda co a reportagem do jornal carioca, quando o assunto é a queda no valor do aluguel. Lá, em 12 meses, o preço recuou 5,74%, para R$ 34,17 o metro quadrado, segundo levantamento da FipeZap.
“O que houve aqui foi um reajuste, os imóveis que estavam acima do valor, foram reajustados. Mas não houve uma queda expressiva. O ajuste foi em alguns imóveis, a maioria se manteve”, diz. Quando comparado o valor médio de locação do Rio de Janeiro, a Delegada do Creci revelou que algumas salas comerciais em Bento superam o preço do Rio de Janeiro. “Aqui não há um valor linear. Às vezes varia bastante no mesmo bairro, mas em ruas diferentes, como é o caso da Marechal Deodoro, em que há bastante procura por causa do fluxo de pedestres”, avalia.
Com um discurso diferente de Raquel Vieira, alguns corretores e donos de imobiliárias da cidade lamentam a crise. É o caso do sócio proprietário de uma das imobiliárias consultadas, João Carlos Milan, da imobiliária Milan. De acordo com ele, a redução no preço do aluguel chega a quase 40% comparando com dois anos atrás. “Antes dessa crise conseguíamos alugar um apartamento de dois dormitórios por até R$ 1.300,00, e agora alugamos o mesmo apartamento por R$ 850,00”, lamenta.
Milan é pessimista ao projetar futuros negócios. “Alugamos mais apartamentos, porque salas comerciais está cada vez mais difícil. Estão todos esperando a economia voltar a crescer”, acredita. Ainda segundo o diretor d a imobiliária, os meses de dezembro, janeiro e fevereiro são os mais férteis para o mercado.
No ramo há um ano e meio, Luciara Truccolo, da imobiliária Postal, avalia que a dificuldade de locação é principalmente apartamentos com altos valores de condomínio. “Quanto mais vantagens o lugar oferece ao morador, mais encarece o condomínio”, comenta. Ela revela que a imobiliária geralmente oferece ao cliente um imóvel valor que o proprietário deseja, mas na maioria das vezes, o interessado oferece uma contra-proposta.
“Tivemos um cliente em que o imóvel ficou desocupado por mais de um ano e meio. O proprietário não queria diminuir o valor do aluguel, mas agora alugou por conta própria”, conta. Segundo a corretora, a desvantagem em alugar direto com o locador é o risco que o locatário corre de receber o imóvel avariado na entrega.
“As imobiliárias fiscalizam e garantem que o proprietário receba nas mesmas condições que alugou, ou até melhor”. Para ela, as salas comerciais estão mais difíceis de alugar, menos no centro da cidade onde a procura é intensa. “Apesar disso, se observa bastante rotatividade, ou seja, a sala fica pouco tempo alugada e logo fica desocupada”. Luciara conta o caso de um cliente que ofereceu um mês grátis de aluguel porque não queria deixar o imóvel desocupado.
Em pesquisa feita a reportagem observou o preço de aluguel residencial no nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Bento Gonçalves, anunciados na mesma ferramenta online de pesquisa. As metragens dos imóveis são próximas, e todos possuem dois dormitórios. O valor mais alto foi em encontrado em São Paulo, na Rua Major Quedinho.
Um apartamento de 58m2, mas com a valiosa vaga de garagem, custa R$2.800, mais R$530 condomínio e mais R$220 de IPTU, totalizando R$3.550. Em segundo, o Rio de Janeiro, na Avenida Henrique Valadares. Um imóvel de 60m2 fica em R$1600, mais condomínio de R$370, mais IPTU de R$19, totalizando R$1.989. Em Porto Alegre, o aluguel já é menor. Um apartamento mobiliado na Avenida Borges de Medeiros, de 82m2, é de R$1.350, mais condomínio de R$530, que totaliza R$1.880. Bento Gonçalves que sempre teve valores de aluguéis comparáveis às capitais, neste caso o valor encontrado não ficou muito longel: um imóvel de dois quartos 75 m2, está sendo oferecido por R$1000, mais condomínio de R$220,00. O valor do IPTU não foi informado.
A delegada do Creci revela que o centro de Bento tem um perfil de cliente que quer morar ali por causa do custo-benefício. “Geralmente é um profissional de outra cidade, um estudante. Mas a maioria busca um bairro mais calmo, com mais infraestrutura, mais silencioso”, conclui a corretora.

Importante é manter o imóvel ocupado
Para Angélica Côrrea Lobo, que trabalha com imóveis há mais de dez anos, o melhor para o proprietário é considerar manter o cliente fiel a ficar sem a locação, ou seja, aceitar reduzir o valor para alugar. A corretora orienta também a não reajustar o valor quando há renovação de contratos vigentes, caso o locador não consiga pagar o preço mais alto.
“Se ele quer o inquilino dentro do imóvel, ele deve avaliar se ele é bom pagador. E deve dar esta redução. Precisa se ajustar a este novo momento, quem está alugando também está em crise. É tempo de não perder”. Segundo Angélica, há um entendimento de que se o imóvel ficar desocupado mais que três meses, já não é possível recuperar este valor. Ela pontua que, apesar da crise, o preço está ficando justo para o consumidor, que é quem sai ganhando.
Preços da locação pelo Brasil
Em 2016, Porto Alegre teve o preço da locação residencial por metro quadrado de R$ 21,59. Rio de Janeiro apresentou o maior valor, de R$ 35,21, seguida por São Paulo, de R$ 34,95. Curitiba tem o menor valor, de R$ 16,57.