Quadrilhas se aprimoram no golpe “Don Juan” e cresce o número de vítimas

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Principal faixa etária das vítimas são mulheres com idades entre 40 e 50 anos

A história parece roteiro de cinema: a mulher se apaixona e acaba descobrindo que na verdade tudo é um plano minucioso, e que ela não passa de mais uma peça em um tabuleiro de estelionato. No entanto, o assunto é real, e a própria Receita Federal divulgou na última semana um alerta sobre o denominado “golpe do amor”, também conhecido como “golpe Don Juan”.
O órgão foi levado a emitir o comunicado devido ao crescente número de casos na alfândega do aeroporto de Guarulhos, nos quais mulheres são induzidas a fazer depósitos em troca de bens e benefícios supostamente retidos no local.
A trama do golpe tem como base criminosos que criam perfis falsos nas redes sociais, geralmente passando uma ideia ao contrário de quem realmente são. Nas redes, eles se passam por estrangeiros com alto poder aquisitivo e apaixonados, prometendo uma vida de Cinderela para as vítimas, que caem na emboscada. O golpe tem o ápice quando eles revelam que enviaram presentes para as mulheres, mas que elas precisam pagar para liberarem os bens retidos na alfândega. Nisso, divulgam uma conta para depósito, e depois somem.
“A Receita Federal em Guarulhos já recebeu relatos de casos em que golpistas fizeram propostas de casamento e anunciaram que mandariam caixas contendo presentes diversos, como óculos, bolsas, celulares, anéis de ouro para o ‘noivado’, documentos pessoais e, em muitos casos, dinheiro em espécie em dólares, libras ou euros. Após o suposto envio dos presentes, a quadrilha exige pagamento da vítima alegando que as mercadorias estariam retidas na alfândega e só seriam liberadas após o pagamento de taxas e outros valores”, advertiu o órgão.
A Receita Federal não exige qualquer pagamento em espécie ou por depósito de conta-corrente e todos os tributos aduaneiros são recolhidos através do Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf).
Recentemente, uma quadrilha de três nigerianos foi desmantelada depois de praticar o golpe contra pelo menos sete mulheres que procuraram a polícia, mas o número pode ser ainda maior, porque nem todas têm coragem de denunciarem o crime. Os estelionatários se passavam por diplomatas e empresários bem-sucedidos, e as investigações contra o grupo já somam quatro anos e ao menos 10 envolvidos.
Em 2015, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu um homem de 45 anos suspeito de seduzir e dar golpes em socialites de Brasília, causando um prejuízo superior aos R$ 300 mil. Antônio Carlos Guimarães costumava publicar fotos no Facebook, dentro de carros importados, casas em Miami e restaurantes nacionais de luxo.
Ao abrir a ficha do acusado, uma surpresa: 29 passagens pela polícia, inclusive por homicídio. Alguns meses depois, ele foi encontrado morto em um porta-malas. O assassino foi um homem enganado por ele depois de um golpe de venda de carro.
Em 2016 , foi a vez da casa cair para João Luiz de Melo Souza, que usava diferentes histórias em perfis de redes sociais, se passando por advogado, paraquedista e até militar do Exército. Uma das vítimas se relacionou por três meses com ele e foram “noivos”. Então, ele solicitou um empréstimo de R$ 100 mil que prometeu pagar em vinte dias, mas ela nunca mais viu o dinheiro. Souza foi preso em São Paulo, mas tinha acusações de pelo menos outros cinco estados.

Conselhos para não ser enganado em sites e apps de encontros
O número de vítimas de golpes em serviços de encontros online não para de crescer. Só na Grã-Bretanha, as autoridades recebem uma denúncia a cada três horas e este número aumentou um terço entre 2013 e 2015, batendo recordes.
Em 2016, 3.889 pessoas foram vítimas de “golpes românticos” e, em média, cada uma sofreu um prejuízo de US$ 12,5 mil (R$ 38,5 mil). A idade média delas: 49 anos.
O National Fraud Intelligence Bureau, a autoridade britânica responsável pelo combate a esse tipo de fraude, lançou uma campanha de conscientização.
Confira a seguir oito conselhos dos peritos para quem está buscando um amor pela internet.
1. Comprove que ele(a) é real
Antes de mais nada, comprove que a pessoa que apareceu no site ou app de encontros e promete amor eterno existe de verdade. Isso pode ser feito se você jogar o nome da pessoa, fotos e frases que ela usa regularmente em um site de buscas online com palavras-chaves como “fraude romântica” ou “golpe de encontros”.
Segundo Alan Woodward, especialista em segurança cibernética da Universidade de Surrey, na Inglaterra, os criminosos muitas vezes compram os chamados “pacotes online” que contêm modelos de cartas amorosas, fotos, vídeos e identidades falsas.
“Tanta gente tem sido vítima desses golpes que o preço desses pacotes caiu. Agora, as vendas são feitas por volume de informações”, disse Woodward à BBC.
2. Nunca envie dinheiro
Nunca envie dinheiro para alguém que tenha conhecido online, não importa as razões ou o tempo de relacionamento. A vítima desse tipo de fraude geralmente faz a sua primeira transferência de dinheiro para o golpista em menos de um mês, mas isso também pode acontecer mais tarde, dizem os peritos. Ou seja, o tempo não é garantia de nada, adverte o National Fraud Intelligence Bureau britânico.
Os especialistas alertam ainda contra os pseudodetetives ou investigadores que anunciam seus serviços online para recuperar o dinheiro perdido no site de encontros – o que é cada vez mais comum com o aumento dessas fraudes.
3. Fique no site de encontros
Evite transferir as conversas com a pessoa para outras redes sociais até que você esteja convencido da identidade dela. Não troque a comunicação no site ou app de encontros pelo papo no Facebook ou no WhatsApp. Lembre-se que às vezes esses serviços de encontros são capazes de detectar ações ou identidades fraudulentas.
4. Conheça melhor o outro
Concentre-se em conhecer melhor a pessoa, não apenas o perfil dela. Faça muitas, mas muitas perguntas. Nunca apresse o ritmo do relacionamento online.
5. Não mantenha segredo
Fale com amigos e a sua família sobre as suas escolhas amorosas. Eles podem dar apoio e oferecer uma visão mais racional da sua relação.
Se a pessoa que você conheceu online pede que o relacionamento seja mantido em segredo e que você não comente com ninguém, tome ainda mais cuidado.
6. De olho nas informações
Note se a pessoa faz muitas perguntas, mas revela muito pouco sobre si mesma.
7. O outro é perfeito demais?
Desconfie se a foto que lhe enviaram é perfeita demais – ou seja, a pessoa parece um modelo ou artista.
8. Primeiros encontros em público
Se for sair com uma pessoa que conheceu em um site ou app, assegure-se que alguém sempre saiba onde você foi e marque os primeiros encontros em locais públicos.
MTV faz programa sobre farsas de namoros cibernéticos
A MTV dos Estados Unidos fez um programa sobre o tema, no qual os apresentadores procuram desmitificar namoros cibernéticos e buscarem a verdadeira identidade do “namorado” (namorada). Cada episódio trata de um casal diferente, com uma história diferente. Lançado em 2012, o programa já está em sua quinta temporada e ganhou uma versão brasileira, chamada de “Catfish Brasil”. A 1ª temporada estreou no dia 31 de agosto de 2016 e terminou a 19 de outubro de 2016, e o canal já confirmou a segunda temporada do reality para 2017, mas está sem data de lançamento.
Na ocasião de apresentação do reality, o vice-presidente de programação e conteúdo da MTV na América Latina, Tiago Worcman, declarou que “sabemos que o brasileiro é um dos que mais usa as redes sociais no mundo, tanto para expor opiniões como para se relacionar com outras pessoas, sejam elas amigas ou não no chamado ‘mundo real’. Por isso decidimos produzir a versão nacional de Catfish, programa que já faz muito sucesso por aqui com a versão americana e que mostra o lado sombrio de se relacionar com alguém no mundo virtual”, explicou.

ONU alerta brasileiras para golpe de estrangeiros na internet
O escritório da Organização das Nações Unidas no Brasil emitiu um alerta nesta quinta-feira sobre o uso do nome da entidade em uma fraude que já atingiu ao menos 100 mulheres brasileiras neste ano. Segundo a ONU, os golpistas se passam por funcionários ou voluntários da organização a fim de obter dinheiro e informações pessoais das vítimas.
Somente em 2016, o Fale Conosco da ONU recebeu mais de 100 pedidos ou questionamentos de brasileiras que, depois de conhecer homens pelas redes sociais, Skype ou sites de relacionamento buscaram a organização para confirmar as informações fornecidas pelo novo parceiro. O número de casos, no entanto, pode ser muito maior, já que nem todas as vítimas procuram as autoridades.