Profissões à margem do preconceito

2015-04-10_190211

As fantasias utilizadas em um recreio temático por alunos da escola IENH – Fundação Evangélica, de Novo Hamburgo, despertaram críticas nas redes sociais. Em fotos e vídeo publicados no site Bombô no dia 17 de maio, os estudantes aparecem vestindo roupas que representam profissões que eles escolheriam caso não fossem aprovados no vestibular, daí o apelido do evento, Se Nada Der Certo.
Os alunos vestiram-se de atendentes de lojas e supermercados, empregadas domésticas, pizzaiolos, churrasqueiros e motoboys. Nas redes sociais, houve críticas: os estudantes estariam menosprezando essas profissões. O vídeo da atividade foi publicado no YouTube no domingo (4) e já tem mais de 11 mil visualizações.
Nos comentários, usuários da rede social desaprovaram as fantasias: “Se nada der certo, eu fico zombando das profissões dos outros”, escreveu um usuário. “Vocês não têm vergonha de promover um evento classista retrógrado e desrespeitoso desses??”, questionou outro. “Bom senso mandou beijos para esses alienados. Falta de respeito do caramba!”, comentou uma terceira pessoa.

Discriminação profissional
Pode parecer coisa do passado, mas “profissão de homem” ou “profissão de mulher” ainda são fatores que contribuem para o preconceito na sociedade moderna em que vivemos. Dificilmente essa discriminação será percebida no momento da escolha sobre qual carreira seguir, mas é importante ter conhecimento destes fatos, pois são importantes pontos a serem analisados no momento de optar por determinada faculdade.
O preconceito não está somente dentro da universidade, nas salas de aula e com os professores, mas até mesmo no próprio mercado de trabalho, que prega sempre a defesa do profissional qualificado. Cursos predominantemente femininos, como Pedagogia, Fonoaudiologia e Letras, acabam por questionar de alguma forma a sexualidade dos homens que passam por essas graduações.
Ainda que muitos saibam da discriminação de gênero que existe desde a universidade até o mercado de trabalho, poucos são aqueles que refletem sobre o problema antes de bater o martelo sobre a opção de curso. Esse, porém, não deve ser um fator que leve a pessoa a desistir de uma carreira, mas sim de pensar no desafio que está por vir e se é possível suportar a pressão da sociedade que, embora negue, mantém vivo o preconceito de gênero no mercado profissional.
As mulheres também sofrem esse tipo de discriminação, principalmente nos cursos de Engenharia. No entanto, a ideia da mulher exercer funções de trabalho masculinas já foi aceita pela comunidade e, por essa razão, lidam muito menos com os pré-conceitos das pessoas. Já o homem, por sua vez, acaba por ter que passar por situações que põem sua “masculinidade” à prova.
Até mesmo ao contratar estagiários, as empresas acabam dando preferência ao gênero predominante da profissão, como se uma mulher não pudesse ser uma boa engenheira ou um homem não pudesse ser um pedagogo competente. A discriminação é, de certa forma, velada, pois a especificação de gênero não aparece no anúncio da vaga de estágio, nem de emprego.
No mercado de trabalho, o problema perdura e deve ser superado pelo profissional ao procurar setores menos aquecidos ou “óbvios” da carreira. Os psicólogos do gênero masculino são minoria na área de atendimento em consultórios, mas eles têm vantagens em relação às mulheres nos setores de Recursos Humanos de empresas, por exemplo.
Os pedagogos também precisam encontrar meios diferentes de atuação, pois as escolas ainda preferem as mulheres, que acabam passando uma imagem maternal às crianças.
Por essas razões é que antes de escolher um curso para prestar o vestibular, o candidato deve pesquisar bastante sobre a profissão para ter a certeza de que está optando pelo caminho que vai lhe trazer a satisfação pessoal e profissional esperadas.

Formandos do Ensino
Médio opinam sobre a
polêmica do “Se nada mais der certo”
O terceiro ano do Ensino Médio é o período no qual os estudantes se preparam para ingressar em uma nova etapa da vida, quando iniciam a caminhada profissional. Neste último ano eles são incentivados a estudarem para vestibulares, participam de feiras de profissões e fazem planos para o futuro. Alguns estudantes formandos opinaram sobre a polêmica do “Se nada mais der certo”.
“Na minha opinião, essa situação é totalmente incoerente com os valores que o Colégio Marista passa, que além de ser uma rede tradicional, é uma escola que ensina a doutrina católica aos seus alunos. Essa temática vai contra o que a instituição prega, e é inconcebível que as autoridades dela não tenham impedido que esse episódio acontecesse.
Isso faz com que as crianças e adolescentes que lá estudam tenham uma ideia distorcida do que é se dar bem na vida, limitando o sucesso a profissões elitistas e bem remuneradas. Para mim, alguém que ‘não tenha dado certo’ é alguém que sucumbiu ao crime e às drogas, e não quem trabalha honestamente, por mais humilde que seja. Entretanto, é importante lembrar que não devemos generalizar e formar uma opinião equivocada sobre a Rede Marista, que com certeza preza pelos valores cristãos e tem grande destaque na educação.” Amanda dos Passos Sandrin, 16 anos, Colégio Medianeira. “Em minha humilde concepção, se nada der certo, tornarei-me uma pessoa arrogante, que sente-se bem ao tratar como menos os que possuem menos condições. Todo o trabalho é digno. Dessa forma, é ridículo pensar que ser atendente de Mc’Donalds ou gari, é menos necessário do que ser médico ou empresário.
O real problema de quem pensa assim, ou pior, fantasia-se assim, é sua cegueira ( como a citada por Saramago, no seu livro, Ensaio sobre a cegueira) perante o seio social. É, também, sua falta de compreensão com o que não está ao redor do seu ‘próprio umbigo’. Escolheria mil vezes possuir uma vida simples, mas com escrúpulos, do que vasta , economicamente, porém rasa, de valores.” Sophia Z. M., 16 anos- Instituto Federal do Rio Grande do Sul. “Achei o ocorrido uma enorme falta de consideração e respeito à essas profissões altamente dignas e honestas.
Acredito que falta estudo para esses alunos de coisas triviais e falta bom senso à escola de permitir que isso possa ocorrer dentro do ambiente escolar. A escola, ao permitir atitudes como essa, passa seu caráter elitista e prepotente, como é comum em escolas privadas.
Além disso, as desculpas dadas após o incidente não convenceram. Eu acho difícil dizer o que é dar errado na vida, mas o que mais se aproxima disso, na minha concepção, é virar bandido e se render à criminalidade, tráfico, etc (por mais que esses sejam problemas estruturais da sociedade). Emanuel Bettoni Nobre, 16 anos, Colégio Medianeira.
“O trabalho não é apenas sobre dinheiro”, diz milionária que trabalha como gari.
Uma milionária chinesa ganhou as páginas dos jornais mundiais ao revelar que tem um emprego de gari. Yu Youzhen ganha equivalente a R$ 534 por mês trabalhando para o departamento de limpeza pública na cidade de Wuhan.
A escolha de uma vida modesta é para educar pelo exemplo. “O trabalho não é apenas sobre dinheiro, isso me dá algo para fazer, o que é muito importante”, disse Youzhen. Ela acredita que sabe que suas escolhas passam valores importantes aos seus filhos, como boa ética de trabalho.
O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também deu uma lição de humildade, quando permitiu em 2016 que sua filha Natasha., na época com 15 anos, trabalhou em um restaurante durante alguns dias de suas férias de verão. A adolescente limpou mesas em um restaurante.