Produção Integrada em debate: um sistema que garante a produção de alimentos seguros com um baixo custo

2015-04-10_190211

O encontro possibilitou um registro histórico para a Embrapa Uva e Vinho, entidade pioneira ao trazer o Sistema para o Brasil: reunir em um evento as diferentes gerações envolvidas diretamente com as certificações da maçã, pêssego, morango e, mais recentemente, a uva para processamento

 

“A produção integrada, pelas suas características, é o sistema de produção do futuro”, setenciou Marcus Vinicius Martins, da Coordenação de Produção Integrada do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no encerramento do Seminárioque reuniu cerca de cem produtores, técnicos, representantes de entidades e governo na semana passada em Porto Alegre. Entre as características que sustentam a sua afirmação, estão a necessidade da produção de alimentos em larga escala, e sem resíduos, para a população, a preservação do meio ambiente e da saúde do produtor. Martins também destacou que ainda é necessário avançar na importância de fortalecer e ampliar a divulgação do Sistema para produtores e consumidores.
Articulado pela Comissão Estadual da Produção Integrada Agropecuária do RS, o evento reuniu profissionais de diferentes áreas para compartilhamento de experiências e esclarecimento de dúvidas. “É muito importante a interação e o trabalho de várias expertises para discutir e implementar a melhor gestão na agricultura. Só assim, vamos conseguir apresentar as melhores alternativas e avançar com a Produção Integrada”, avaliou Edna Maria de Oliveira Ferronatto, da Superintendência Federal da Agricultura no RS e uma das coordenadoras do evento.
Atualmente 28 culturas no Brasil já possuem as normas técnicas aprovadas pelo MAPA, e que, na sua grande maioria, já estão sendo aplicadas no campo; porém, somente quatro estão sendo certificadas: o morango, a maçã, o tabaco e o vinho. Esse baixo índice de certificação está relacionado diretamente ao custo do processo e a não valorização ou reconhecimento por parte do consumidor deste produto diferenciado, segundo pontuou o pesquisador Samar da Velho da Silveira, da Embrapa Uva e Vinho.
“Os produtores e os técnicos já estão recebendo as normas. Esse é o conhecimento relacionado a melhor maneira de produzir. O único investimento dos produtores é na certificação. Além do selo, o produtor ainda vai receber um retorno completo da certificadora, apontando possíveis oportunidades de melhoria. E isso tudo com a chancela do Inmetro”, pontuou Edna.
Para Alexandre Hoffmann, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, a grande pauta é que o alimento tem que ser seguro. Não basta dizer, mas sim demonstrar credibilidade, e a PI é a grande resposta, pois tem a chancela do Inmetro. “São mais de 20 anos de trabalho e ela tem se mostrado muito efetiva. Atualmente se percebe dois grandes entraves, a decisão política de definir um calendário oficial para a sua implantação e outra setorial, para investir na Produção Integrada como o sistema de melhor retorno para a produção.

Em evidência
“Muitos produtores estão à procura do ‘Martelo de Thor’, ou seja, uma ferramenta poderosa que resolva todos os problemas, mas infelizmente ela ainda não existe na Produção”, pontuou Lucas Garrido, pesquisador da área de Fitopatologia da Embrapa Uva e Vinho. No controle de doenças, ele destaca que o foco sempre está no controle químico, enquanto o principal problema está na tecnologia de aplicação, seja na pulverização em momentos inadequados, ou mesmo o uso de equipamentos mal regulados, ocasionando o desperdício de produtos. Ele reforçou a importância do trabalho setorial de atualização anual da Grade de Agroquímicos autorizados para a cultura da uva, que é disponibilizada a todos os produtores. “Realizamos todo o trabalho de apoio, mas sem dúvida o melhor método de controle é ainda usar variedades resistentes”, pontuou ele.
O pesquisador Adalécio Kovaleski defendeu a importância de uma maior agilidade na legalização de novos ingredientes ativos com menor impacto, propondo como alternativa um ‘sistema expresso’ para inclusão desses produtos na lista do Agrofit para a cultura da maçã, mas que poderia ser ampliado para todas as culturas. Ele também destacou a importância de novas variedades melhor adaptadas e mais resistentes a doenças, bem como a obrigatoriedade do monitoramento de pragas para a tomada de decisão na aplicação de produtos.
Para a Promotora Camila Vaz, do Ministério Público do RS, o calcanhar de Aquiles da Produção integrada é a falta de normas claras. “ É importante que as normas sejam estabelecidas e implementadas através de normas promulgadas pelo Estado ou mesmo por acordos setoriais, mas devem ser claras para que todos possam cumprir e ser cobrados pelo seu cumprimento ou não”, pontuou.
“A gente se adiantou no tempo. A pesquisa tem esse viés.Temos a obrigação de perceber e atender as demandas do futuro, como foi o caso da Produção Integrada”, avalia Rosa Maria Valdebenito Sanhueza, pesquisadora aposentada da Embrapa Uva e Vinho e considerada uma das responsáveis pelo início da Produção Integrada no Brasil. Ela comenta que desde o início, em 1996, muitos foram os avanços, como a melhoria de gestão de rastreabilidade eos sistemas de monitoramento e manejo. Ela cita que a comercialização não conseguiu se desenvolver, mas que agora o cenário é diferente, pois o mercado está sendo exigido a vender produtos de qualidade.
“Saio do evento com esperança que se torne realidade a chegada de produtos ao mercado com qualidade garantida ostentando o selo da PI”, avaliou ela. No encontro diferentes elos da cadeia apresentaram iniciativas que estão sendo feitas com o mesmo objetivo de valorizar o alimento seguro, como é o caso dos produtores da Ceasa de Porto Alegre, da Emater/RS-Ascar, dos supermercadistas, do Sebrae, dentre outros, demonstrando que todos os setores estão preocupados em desenvolver e qualificar seus segmentos. “O Governo precisa assumir o papel de gestão para não perder todo o investimento que já foi feito”, finalizou ela.
Entre os planos futuros do grupo estão a união das diferentes iniciativas de treinamento e fazer uma proposição para todo o Brasil, além de promover um encontro com profissional da área de exportação para abordar a temática e os entraves enfrentados pelos produtores brasileiros.

Olivicultura
Umas das atrações do encontro foi a palestra do portuguêsFrancisco Ataíde Pavão, Presidente da Associação dos Produtores de Produção Integrada do Alto Douro e Trás dos Montes, sobre “A prática da produção integrada no Olival, Caso de Portugal”. Ele defendeu como estratégia de mercado para a Produção Integrada a garantia da qualidade. “O caminho é da excelência e não da quantidade. Essa é a melhor forma de garantir e o mercado saber o que está se degustando”, pontuou .
Além de palestrar, Pavão foi um dos consultores que auxiliou o desenvolvimento da Comissão Técnica para a Produção de Oliveiras, fez a entrega oficial da proposição da Norma Técnica, dos Cadernos de Campo e Indústria para a cultura da oliveira. Segundo o presidente da Comissão, Jair Costa Nachtigal, pesquisadorda Embrapa Clima Temperado, a expectativa é que até o final do ano a Norma Técnica seja publicada.
A cultura da oliveira chegou ao Brasil com os imigrantes portugueses, mas foi em 2006, a partir de um contato dos produtores com a Embrapa, que o cultivo começou a avançar. Dentre as ações, destaque para as visitas técnicas para conhecer o cultivo nas regiões produtoras da Itália e de Portugal, e para o trabalho empreendido pela Comissão Técnica para a Produção de Oliveiras, responsável pela elaboração dos documentos técnicos que irão possibilitar a Produção Integrada para a cultura. Atualmente, no Brasil são cerca de 200 olivicultores, nos estados do RS, SC, PR, SP e MG, totalizando 6000 ha de oliveiras. No estado do Rio Grande do Sul são cerca de 70 olivicultores e aproximadamente 3500 ha.

 

Lucas Garrido pesquisador da área de Fitopatologia da Embrapa Uva e Vinho: destacou que o foco sempre está no controle químico, enquanto o principal problema está na tecnologia de aplicação
Umas das atrações do encontro foi a palestra do português Francisco Ataíde Pavão, Presidente da Associação dos Produtores de Produção Integrada do Alto Douro e Trás dos Montes
Adalécio Kovaleski defendeu a importância de uma maior agilidade na legalização de novos ingredientes ativos com menor impacto
O encontro possibilitou um registro histórico para a Embrapa Uva e Vinho, entidade pioneira ao trazer o Sistema para o Brasil: reunir em um evento as diferentes gerações envolvidas diretamente com as certificações da maçã, pêssego, morango e, mais recentemente, a uva para processamento. (Da esquerda para a direita: e Rosa Valdbenito Sanhueza, da primeira geração; Alexandre Hoffmann e Lucas Garrido, da segunda geração; e Régis Sivori dos Santos e Samar Velho da Silveira, da terceira geração)
Edna Maria de Oliveira Ferronatto, da Superintendência Federal da Agricultura no RS: a Produção Integrada é uma construção a longo prazo. Tem os poucas certificadoras, falta de conhecimento dos consumidores e falta de treinamento dos técnicos. Se conseguirmos reduzir a desinformação, outras coisas também vão evoluir!
Rosa Valdbenito Sanhueza: temos a obrigação de perceber e atender as demandas do futuro, como foi o caso da Produção Integrada
Samar Velho da Silveira: o baixo índice de certificação está relacionado diretamente ao custo do processo e a não valorização ou reconhecimento por parte do consumidor