Por trás de quais máscaras se constrói um homem?

2015-04-10_190211

“E se um dia os homens descobrirem que o machismo também os prejudica? Crescer tendo que provar sua masculinidade transforma meninos doces em homens insensíveis, e nós fazemos isso com eles o tempo todo.”

Apesar de ser discutido desde meados de 1960, o feminismo só chegou até mim quando eu estava na faculdade. Eu passei a compartilhar daquelas ideias de igualdade, mas conversar com os homens sobre o assunto sempre foi uma pedra no caminho.

Eu tenho um amigo, que sempre que via publicações minhas sobre o assunto nas redes sociais interagia com o famoso “mas não é todo homem que faz isso”. Um dia eu questionei se ele também apontava os comportamentos machistas dos amigos dele da mesma forma que apontava as minhas opiniões. Esse foi o momento mágico em que ele entendeu tudo.

O meu momento mágico foi depois de assistir “the mask you live in” ou “a máscara em que você vive” em tradução livre. Eu poderia falar sobre o machismo que me fere, me assedia, me faz temer a noite, mas você, homem, o conhece bem, você já ouviu essas histórias tantas vezes de outras bocas.

Ele inclusive é motivo de piada na roda de amigos do bar que vocês frequentam. Eu quero falar do machismo que te afeta, porque eu entendo, que mesmo de um lugar privilegiado, você também é uma vítima dele. Segundo esse documentário os meninos são pressionados por seus colegas e por adultos a “se desconectar de suas emoções, desvalorizar amizades autênticas, objetificar e degradar mulheres e resolver conflitos por meio da violência”.

Desde muito jovens os meninos são forçados a vestir uma máscara de masculinidade que se baseia em negar tudo que é do universo feminino, em limitar a expressão de sentimentos e na relação de poder e violência ligada a ideia de mostrar quem é o mais forte. Essa máscara molda suas ações a esta ideia social de como é ser um homem, mas como um homem deve ser?

Vestindo uma máscara impenetrável
Homem, quantas vezes te disseram: “seja homem”, “isso é coisa de mulherzinha”, “homem não chora”, “engrossa essa voz”? Quantas vezes usamos essas frases na educação dos nossos meninos?
Para evitar que sua masculinidade fosse questionada você foi treinado a esconder suas emoções, sua sensibilidade, o apreço pela intimidade e acolhimento, sua criatividade foi podada pelas brincadeiras que precisavam ser de “menino”, e o resto os seus amigos da escola ensinaram cada vez que te chamaram de “viadinho”. E a gente aprende, na psicologia, que as emoções precisam encontrar saída se não adoecemos, porém, como uma sociedade machista, damos poucas alternativas aos meninos e eles encontram a escapatória na violência e nas drogas.

O pensamento de mulher frágil e homem provedor acompanha nossa sociedade há muito tempo e é imposta as crianças desde o pré-natal. Para as meninas o rosa, a boneca, a casinha, os utensílios domésticos e as emoções. Para os meninos, o azul, a bola, os bonecos de ação, as brincadeiras de luta e engole o choro. Diariamente ensinamos noções de masculinidade tóxica para nossas crianças, depois nos questionamos porque temos homens insensíveis, que não falam sobre o que pensam ou sentem, que se privam emocionalmente e que precisam provar sua masculinidade sempre que possível.

Nós transformamos meninos doces e afetuosos em homens frios e distantes achando que estamos ensinando-os como ser um homem. Como seria se déssemos aos nossos meninos permissão para sentir dor, para chorar e para desenvolver suas emoções levando em conta o fato de que emoções não são femininas, mas sim humanas?

Ele então, cansado, se desmascarou
E talvez você não veja problema nisso ou não reconheça o problema que isso causa, mas os meninos são duas vezes mais propensos a reprovar na escola do que as meninas e quatro vezes mais propensos a serem expulsos, e o suicídio é a terceira causa mais comum de morte entre garotos jovens.

É isso que colhemos quando construímos uma cultura que gera um estado constante de pressão e ansiedade desde o nascimento. Nós tiramos dos meninos a expressão de vulnerabilidade, de honestidade e autenticidade e isso além de afetar a saúde mental, afeta os relacionamentos. Mas como mulher, o que isso tem a ver comigo? Eu já sofro tanto com essa situação e ainda tenho que ouvir que o machismo também afeta homens? A criação do “homem com H maiúsculo” inclui objetificação da mulher, violência, imposição, raiva e falta de empatia… parece que tem tudo a ver comigo.

Mas se os homens também sofrem com isso, porque continuam perpetuando esses valores? Uma explicação pode ser encontrada no próprio sofrimento que essa máscara impõe, ou seja, “se eu tenho que me esforçar tanto para ser homem, então você também tem que fazer isso”. Não temos controle sobre o que acontece conosco na infância, nosso desenvolvimento é responsabilidade dos nossos cuidadores, mas na vida adulta podemos reavaliar os valores que nos foram ensinados, nem todos são bons para nós ou para a sociedade.

Para quebrar o ciclo e permitir que nossos meninos sejam espontâneos e afetivos se assim quiserem, é necessário reflexão a partir da análise dessas consequências. A educação que estamos dando as nossas crianças vai de encontro as noções de masculinidade que queremos desenvolver? Sob qual máscara você homem se esconde? A masculinidade que você exerce hoje é saudável para você e as pessoas ao seu redor? Todo dia é um novo dia para sermos a melhor versão de nós mesmos. E uma estratégia que podemos adotar no combate ao machismo, é começar a ensinar aos nossos meninos que “ser homem” é ser você mesmo em toda sua essência.