Por que é importante o controle da mancha-das-folhas da videira?

2015-04-10_190211

Depois de acompanhar experimentos sobre a mancha-da-folha da videira, também conhecida por mancha de Isariopsis, o engenheiro agrônomo, fitopatologista e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Lucas da Conceição Garrido explica como a doença causada por fungo Mycosphaerella personata age na videira e as implicações na saúde da futura safra de uvas.
Segundo o pesquisador, a mancha-da-folha da videira costuma ocorrer sempre no final da safra, entre o estádio da pré-colheita e pós-colheita, principalmente nas cultivares americanas e híbridas, sendo que a cultivar Bordô é extremamente suscetível, enquanto que as cultivares viníferas ou europeias são resistentes a esta doença.
Garrido aponta algumas das diversas causas para o aparecimento da mancha-da-folha no parreiral como à ausência de tratamentos com fungicidas; à utilização de produtos inadequados para controle ou à descontinuidade das aplicações, o que contribui para a infecção das folhas pelo fungo e a consequente queda precoce das folhas. No Brasil, muito pouca atenção tem sido dada por parte dos viticultores no controle da mancha-das-folhas. Há muita atenção com o controle das doenças e pragas até a colheita da uva e a partir daí, no máximo, é realizada alguma aplicação com calda bordalesa, que não apresenta boa eficácia no controle dessa doença.
A desfolha precoce da videira, segundo o pesquisador, acarreta, o enfraquecimento da planta, a redução na resistência às baixas temperaturas e compromete o vigor e a produção nos anos seguintes. As folhas da videira realizam a fotossíntese, que nada mais é, do que o processo onde o dióxido de carbono absorvido do ar, juntamente com a água absorvida pelas raízes e a luz do sol processados internamente dentro das folhas, produzem carboidratos (amido e açúcares) necessários para o armazenamento, manutenção e utilização na safra seguinte. O período de pós-colheita é extremamente importante para a produção desses compostos. A redução das reservas de carboidratos, pela desfolha parcial ou total, também resulta na menor taxa de crescimento e o menor diâmetro das brotações na primavera seguinte.
A redução da área foliar pode restringir o acúmulo de carboidratos, tendo como consequências impactos negativos no florescimento e no rendimento da produção nos anos seguintes. A maturação e lignificação dos ramos no final da safra é resultante do acúmulo das reservas de carboidratos na planta. A duração da vida da planta é seriamente comprometida, quando ocorre pequeno acúmulo de substâncias de reserva. Brotações novas no final do ciclo é sinal de desfolha precoce. Estas brotações irão consumir parte das reservas acumuladas.
A mancha-das-folhas caracteriza-se por manchas castanhas, de contorno irregular, coloração inicialmente avermelhada e posteriormente pardo-escura a preta, apresentado geralmente um halo amarelo-esverdeado. Com o crescimento ocorre a necrose das lesões e a queda prematura da folha.
Para o manejo da doença devem-se iniciar as pulverizações a partir do estádio de pré-colheita, quando aparecem os primeiros sintomas. Contudo, em muitos casos, as pulverizações poderão ser realizadas após a colheita da uva. O controle efetuado com fungicidas deve levar em consideração o cuidado para evitar a presença de resíduos sobre os frutos.
A escolha e o uso adequado de fungicidas ou outros produtos alternativos que apresentam boa eficácia no controle da mancha-das-folhas contribuirá para a maior sanidade das plantas, acúmulo de reservas necessárias para sobrevivência, vigor e produção futura.
O pesquisador recomenda a três pulverizações com intervalo de 15 dias com fungicidas do grupo dos triazóis (Caramba, Folicur ou Score); Collis ou Manzate. Dentro dos produtos alternativos também podem ser utilizados para o controle dessa doença, entre os quais destacam-se o CopperCrop + SoilSet ou enxofre pó molhável nas cultivares que não apresenta fitotoxicidade.