Pesquisas mostram novos caminhos para combater a depressão

2015-04-10_190211

Estudos têm mostrado associação entre processos inflamatórios no corpo e o desenvolvimento da doença psiquiátrica As investigações mostraram que os pacientes com inflamação aumentada não respondem ao tratamento antidepressivo. As descobertas poderão ajudar no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes, principalmente para pacientes com quadros depressivos graves.

Pesquisadores têm observado fortes indícios de que a inflamação está ligada ao distúrbio da depressão, e, com base nesta possível conexão, buscam substâncias que possam interrompê-la. As descobertas poderão contribuir para o desenvolvimento de fármacos que atuem principalmente em quadros depressivos mais graves.
Em grande parte dos casos, a depressão é tratada com drogas projetadas para aumentar a capacidade do cérebro de formar novas conexões, um processo chamado neuroplasticidade. Porém, esses medicamentos não funcionam para cerca de um terço dos pacientes. “Investigações mostraram que os pacientes com inflamação aumentada não respondem ao tratamento antidepressivo, mas não se tem um aprofundamento desses mecanismos biológicos e como eles se sustentam”, explica ao Correio Igor Branchi, professor do Istituto Superiore di Sanità, em Roma.
Branchi e sua equipe resolveram investigar se a neuroplasticidade poderia estar relacionada à inflamação. Em um dos experimentos, trataram ratos com lipopolissacarídeo, uma droga que aumenta a inflamação, ou com ibuprofeno, que tem efeito contrário. Dessa forma, foram capazes de alterar o nível de inflamação dos animais, algo semelhante a aumentar ou a diminuir o volume de uma música. Os cientistas também mediram os marcadores de plasticidade nos camundongos.
Os cientistas descobriram que a plasticidade neural no cérebro das cobaias era alta desde que eles mantivessem a inflamação sob controle. Mas os níveis de inflamação muito altos e muito baixos significaram que a plasticidade neural havia sido reduzida. “O nosso trabalho mostra que a neuroplasticidade e a inflamação são interdependentes e que, para fornecer as condições certas para o antidepressivo funcionar, a inflamação precisa ser rigidamente controlada”, detalha o autor do estudo, que foi apresentado no congresso anual do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ENCP, em inglês). Segundo Branchi, se a abordagem for confirmada também em humanos, “pode ter implicações de longo alcance”.
Thiago Blanco, psiquiatra e professor da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), em Brasília, explica que a relação entre depressão e processos inflamatórios passa a ser mais bem compreendida a cada dia, com o surgimento de mais estudos como o italiano. “A inflamação, as imagens de ressonância magnética e a genética são os marcadores que temos levado em consideração quando lidamos com pacientes com depressão”, detalha.

Transtornos de humor
A inflamação é um fator importante porque está relacionada também à outra característica presente em pacientes com transtornos de humor. As pessoas que sofrem com algum transtorno mental também apresentam expectativa de vida menor porque, com a inflamação no organismo, aumentam as chances de problemas circulatórios, como derrame e acidente vascular cerebral.

Terapia com chá
A maioria dos pacientes que não responde aos medicamentos atuais sofre com uma forma mais grave de depressão. Por esse motivo, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) resolveram analisar se a ayahuasca, um chá com efeitos psicodélicos, poderia gerar resultados positivos para essas pessoas. Os cientistas trataram 28 indivíduos da seguinte forma: metade recebeu ayahuasca e os outros 14, um placebo. Havia também um grupo controle, composto por 45 pessoas. Por meio das análises sanguíneas e o monitoramento da proteína CRP, que ajuda a medir o grau de inflamação do corpo, os pesquisadores notaram que, nos pacientes do primeiro grupo, houve redução significativa da inflamação e dos sintomas depressivos. “Quando fizemos a medição dos marcadores inflamatórios, descobrimos que eles diminuíram consideravelmente nos pacientes que usaram a ayahuasca. Isso é algo importante porque temos um grupo considerável de pessoas que não respondem aos tratamentos disponíveis, incluindo a eletroconvulsoterapia”, enfatiza Draulio Araujo, pesquisador do Instituto do Cérebro da UFRN e autor do estudo, que foi publicado, em julho, na revista Journal of Psichofarmachology.

Sem ligação com a ansiedade
A ansiedade e a depressão são frequentemente ligadas. Isso porque grande parte dos pacientes apresenta sintomas dos dois problemas. Cientistas holandeses descobriram que a ocorrência de inflamação é um ponto que diferencia os distúrbios: a ligação se dá apenas entre os depressivos. Hilde de Kluiver, da Universidade de Amsterdam, e colegas analisaram amostras de sangue de 2.824 voluntários, divididos em cinco grupos conforme as complicações — depressão (304), ansiedade (548), depressão e ansiedade (531), distúrbios em remissão (807) —, além de 634 pessoas saudáveis (grupo controle).