Pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho alertam para período sujeito a incidência de granizo e sugerem medidas

2015-04-10_190211

Na primavera a Serra Gaúcha, entre outras regiões do Rio Grande do Sul, tem registros históricos de chuva de granizo que geram graves prejuízos nos pomares das fruas de caroço e nos parreirais.
Em termos climáticos, a primavera é a estação do ano de maior risco de ocorrência de granizo no Estado do Rio Grande do Sul (45%), seguida do inverno (38%), verão (28%) e outono (17%). A maior incidência no fim do inverno e na primavera está associada aos SCM e à passagem de frentes meteorológicas mais intensas, com rápido aquecimento do continente, situações que propiciam a formação de nuvens cumulonimbus. Em relação à distribuição espacial, a região da Serra Gaúcha é uma das três regiões de maior probabilidade de ocorrência de granizo no Estado, especialmente em função da altitude, fator que influencia o número médio de granizadas por ano.
O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Lucas Garrido, sugere recomendações de práticas a serem adotadas caso ocorra a queda de granizo para a reparação – do que ainda é possível dos danos causados pela intempérie:

A pergunta na cabeça do produtor é: o que fazer nos vinhedos e pomares?
A resposta a esta pergunta vai depender do grau de dano que o vinhedo sofreu.
No caso de danos altos, com perdas próximas a 100%, os produtores deverão efetuar uma poda de formação, igual à realizada no inverno anterior. A seguir, proceder aplicação com fungicidas de contato, para a proteção dos ferimentos e cicatrização daqueles decorrentes do granizo. Uma nova adubação é necessária, para que a planta tenha nutrientes suficientes para a brotação e acumulação de novas reservas, pensando-se na próxima safra.
Já para os vinhedos/pomares que apresentem um grau menor de dano, a recomendação é a aplicação de fungicidas de contato, para proteção dos ferimentos ocasionados pelo granizo. Quando o granizo acontecer e a planta já tiver com frutos e estes estiverem danificados (pêssego e caqui, entre outras), também devem receber também uma ou duas pulverizações com fungicidas de contato, para evitar que fungos ocasionem o apodrecimento das mesmas, a partir dos ferimentos.
É importante a manutenção de pulverizações com fungicidas nos vinhedos e pomares, para que as plantas possam manter as folhas e novas brotações com boa sanidade. Sem a produção de novas brotações e folhas, a videira estará mais sujeita a não entrar adequadamente em dormência no próximo inverno, o que poderá aumentar os problemas de mortes de plantas pelo escurecimento da casca.

Proteção
As pesquisadoras agrometeorologistas Amanda Heemann Junges e Loana Silveira Cardoso do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária DDPA/SEAPI e pelo meteorologista Flavio Varone do SEAPI avaliam as condições climáticas deste período.
“Devido à posição geográfica, o Rio Grande do Sul é atingido por sistemas meteorológicos que produzem tempestades severas, tais como Frentes Frias e Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) que propiciam a formação de nuvens de grande desenvolvimento vertical que dão origem ao granizo. As frentes frias atingem o Estado durante todo ano, enquanto que os SCM ocorrem, principalmente, no verão e na primaveraNo Sul do Brasil, as alternativas mais utilizadas para diminuição de perdas decorrentes de granizo são o seguro agrícola e os métodos de proteção (cobertura).”
O seguro, apesar de não evitar os danos às plantas e as perdas de produção, minimiza os prejuízos financeiros do produtor. Os métodos de proteção são as telas e as coberturas. Embora coberturas plásticas e telas de sombreamento possam ser utilizadas, a tela antigranizo é o método mais eficiente de proteção de pomares. A tela antigranizo é uma barreira física que impede que o granizo atinja diretamente as plantas, sendo também utilizada para reduzir a velocidade do vento e o ataque de pássaros e insetos e retardar a maturação de frutos. Nesse sentido, a eficiência da tela antigranizo para proteção de pomares e seu efeito na qualidade dos frutos têm sido abordados pela pesquisa. Trabalhos com macieiras indicaram que a tela altera variáveis micrometeorológicas, especialmente a radiação solar (que é reduzida, em comparação com pomares a céu aberto), o que prolonga o ciclo vegetativo e retarda a maturação dos frutos , além de reduzir golpes de sol e proporcionar melhor cor e uniformidade da epiderme dos frutos.
Os pesquisadores da Embrapa Uva e vinho Lucas Garrido e Henrique Pessoa dos Santos observam que “dentro das ações de prevenção que podem ser adotadas, destacam-se as telas antigranizo e as coberturas com plástico tipo ráfia, os quais são mais resistentes. Contudo, esses investimentos são viáveis somente em regiões muito propícias à ocorrência de granizo e com uvas que apresentam maior valor agregado de comércio (ex.: uva de mesa).”
Quando não houver telas anti granizo as recomendações de manejo de recuperação das videiras irão depender do grau de danos que o vinhedo sofreu. Inspecionar a área e os danos às plantas depois da queda do granizo deve ser imediata, pois o dano pode ser mascarado pelo crescimento logo em seguida .
O produtor rural que tiver seguro agrícola deve chamar a seguradora e providenciar a avaliação de danos o mais breve possível, para obter uma análise o mais fidedigna possível.

Caules e folhas afetados
Dependendo do momento do evento, o granizo pode afetar a folhagem, as flores, os caules, os ramos e a uva de várias formas:
As folhas podem ser arrancadas, rasgadas e furadas, restringindo a funcionalidade das mesmas e abrindo portas para incidência de doenças fúngicas;
Brotos e troncos podem ser quebrados ou machucados na casca, favorecendo doenças;
As flores podem ser derrubadas ou danificadas, no entanto, a extensão total deste dano pode não aparecer até que as inflorescências sejam totalmente expandidas (quando a chuva ocorre no período entre a brotação e a floração).
Os cachos de uva podem ser machucados na casca ou derrubadas no chão, impactando na qualidade, no apodrecimento e na redução da produção.
Embora esses danos possam ser extremos e com perdas totais de produção, as plantas de videira geralmente conseguem se recuperar e sem muito impacto para o próximo ciclo, se os danos ocorrerem no início do ciclo de crescimento.

Recuperação
De qualquer forma, nas áreas afetadas por granizo todas as ações serão paliativas ou curativas, visando, principalmente, a recuperação e o preparo das plantas para os ciclos seguintes. As lesões por granizo no início da estação, logo após a brotação, permitem que ainda ocorram brotações férteis, a partir das gemas que permaneceram latentes, e com efeito mínimo sobre a fertilidade ou a colheita na estação seguinte.
Algumas cultivares, como Cabernet Sauvignon, dispõem de gemas secundárias latentes relativamente férteis e podem até garantir alguma brotação secundária com cachos após danos por granizo. Contudo, a maioria das cultivares são menos férteis e podem perder totalmente a produção do ciclo. Além disso, se os danos por granizo ocorrerem em uma época mais tardia (ex.: após a floração), podem reduzir a fertilidade de gemas e a colheita na estação seguinte.
O granizo pode também causar lesões que prejudicam as videiras jovens, em áreas ainda em formação (plantios jovens). Se os brotos que se estendem até o fio de produção estiverem muito marcados, recomenda-se cortá-los abaixo dos ferimentos para induzir uma nova brotação. Se isto não for considerado, a cicatrização das lesões neste broto que eventualmente irá se tornar um tronco poderá ter problemas no fluxo de seiva para parte aérea, além de dispor de pontos de inoculação para doenças de tronco.
Outro detalhe importante sobre o granizo é o aspecto sanitário das videiras. As plantas danificadas tornam-se muito mais suscetíveis às pragas e doenças. As podridão, como Botrytis, podem infectar qualquer tecido danificado e, se as condições climáticas estiverem favoráveis. Portanto, é de extrema importância o uso tratamentos para proteger as lesões, imediatamente após o granizo.

Manejo em áreas com fortes danos
Nesse caso, quando ocorrem perdas próximas a 100%, os produtores deverão efetuar uma poda de formação/produção igual à efetuada no inverno. A seguir, devem efetuar a aplicação de fungicidas de contato, para a proteção e cicatrização dos ferimentos. Também é recomendado aplicar fungicidas para a cicatrização dos ferimentos nas brotações novas, tais como tiofanato metílico (cercobin), folpet (Folpan), dithianon (Delan), tebuconazole (Folicur) e captan (Orthocide). É necessário realizar a adubação nitrogenada para favorecer as novas brotações e o acúmulo de reservas, pensando na próxima safra. Caso já tenha sido feita a adubação nitrogenada antes do granizo, não há necessidade de repeti-la.

Manejo de áreas com danos moderados
Em vinhedos que apresentaram menor intensidade de dano, a recomendação fica centrada na aplicação de fungicidas de contato, para proteção dos ferimentos, sem a necessidade da repoda.

Observações
Tanto em caso de danos fortes ou de danos moderados, sempre é importante a manutenção de pulverizações com fungicidas nos vinhedos até o fim do ciclo, para que as plantas possam manter as folhas e as novas brotações com boa sanidade para o acúmulo de reservas para os ciclos seguintes. Se isso não for mantido, a videira irá apresentar variabilidade na maturação e fertilidade das gemas e no nível de dormência, prejudicando a brotação, o vigor e o potencial de produção do ciclo seguinte. Além disso, o descaso no manejo das áreas pós granizo, poderá também favorecer os problemas de declínio e morte das plantas, restringindo a vida útil dos parreirais.