Substância pode abrir caminho para um tratamento mais eficaz de uma doença sem cura
Um estudo realizado por cientistas brasileiros identificou uma substância sintética que se mostrou capaz de melhorar o funcionamento do cérebro e restaurar a memória perdida devido ao mal de Alzheimer. Embora os dados se refiram a testes com animais, abre-se uma porta para um tratamento mais eficiente quando falamos de uma doença até agora sem qualquer terapia eficaz.
Publicado no prestigioso periódico internacional Science Signaling, o trabalho foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de Nova York. Segundo explicam os cientistas, a substância realmente mantém o processo de formação da memória funcionando. Ela não atua sobre a causa do mal de Alzheimer, mas sobre as consequências. É como se o Alzheimer fosse uma pedra que bloqueia uma estrada. A droga não tira a pedra, mas abre um desvio seguro.
O mal de Alzheimer avança no mundo. Estima-se que 40% das pessoas acima dos 85 anos sofram de demência e o Alzheimer representa 70% dos casos. No mundo são 35 milhões de pessoas, um milhão das quais no Brasil. Ainda assim, pouco se tem conseguido para combatê-lo. A última droga aprovada é de 2003 e tem ação muito reduzida. Na melhor das hipóteses, retarda por um ano o declínio do cérebro.
A substância identificada se chama ISRIB e foi desenvolvido por cientistas da Universidade da Califórnia em 2013. A ISRIB estimula a produção de proteínas, um processo conhecido como síntese proteica. Quando aprendemos alguma coisa, os neurônios produzem proteínas específicas para guardar e consolidar a informação. Mas, estudos anteriores, inclusive um do próprio grupo da UFRJ, já haviam demonstrado que o mal de Alzheimer desregula a síntese proteica nos neurônios.
O próximo passo será ampliar os testes e investir, não na própria ISRIB, mas na identificação e reposicionamento de medicamentos já disponíveis e aprovados para uso em seres humanos que possam atuar de forma parecida com a ISRIB. Já existem pesquisas nessa linha.