Pesquisador da Embrapa desenvolve nova tecnologia para tratamento de resíduos de agrotóxicos

2015-04-10_190211
O agroquímico que resta depois da pulverização debe ser tratado corretamente

O Sistema Biobed Brasil, tecnologia para disposição final de efluentes contaminados com agrotóxicos originados na produção de frutas de clima temperado é desenvolvido no Brasil desde 2006. A nova opção é uma alternativa ambientalmente segura para tratar os resíduos da lavagem de máquinas recolhidos em rampas construídas sobre o fosso para a coleta dos vazamentos e respingos, onde são executadas as atividades com os agrotóxicos e o manejo do pulverizador.
O Sistema Biobed Brasil foi desenvolvido pelo pesquisador Luciano Gebler, da Embrapa Uva e Vinho, a partir do modelo Biobed utilizado na Suécia, desde 1993. Durante cinco anos, ele conduziu pesquisas visando a sua adaptação para as condições de produção de frutas de Clima Temperado do sul do Brasil. Gleber é Engenheiro Agrônomo com doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.
O sistema reproduz o modelo de atenuação que acontece livremente na natureza, porém em uma situação criada para favorecer e acelerar o processo. Entre os pontos positivos da nova tecnologia, destacam-se o baixo custo, alta eficiência, segurança ambiental e adaptação às pequenas e grandes propriedades rurais.
O pesquisador comenta que o Biobed reproduz o modelo de atenuação que acontece livremente na natureza, porém em uma situação criada para favorecer e acelerar o processo. “O Biobed depende basicamente da atuação de fungos lignolíticos, também conhecidos como fungos filamentosos brancos, que são os agentes microbiológicos degradadores de resíduos de agrotóxicos”, esclarece. Entre os pontos positivos da nova tecnologia, Gebler destaca o baixo custo e eficiência, além de ser ambientalmente segura e adequada para ser utilizada na propriedade. Gebler lembra da ideia de trazer para o Brasil a tecnologia.
“Descobri na suécia em 2006 que uma pesquisadora de lá estava trabalhando com essa tecnologia e estava se espalhando pela Europa. Eu então tive a ideia de trazer para o nosso país. É importante destacar que os órgãos ambientais da frança e Inglaterra já reconhecem a tecnologia como sendo segura”, destaca.
O pesquisador diz que quer ouvir de órgãos competentes sobre a utilização da técnica na Serra Gaúcha. “Gostaria de ouvir a demanda da fiscalização, para entenderem o sistema e atestarem que é algo seguro”, afirma.
Ele complementa que o Sistema Biobed Brasil permite uma aeração melhor do que aquela existente naturalmente no solo, favorecendo processos aeróbicos para degradação de agrotóxicos. Após determinado tempo, geralmente um ano, que pode variar segundo o contaminante e as condições ambientais do meio onde ocorre a degradação, as moléculas de agrotóxico que restarem estarão fortemente fixadas à matéria orgânica. Esse material deverá ser retirado da estrutura e passar por um período de seis meses no processo de compostagem. Depois o resíduo poderá ser distribuído, como adubo, nas áreas agrícolas da propriedade rural.
Em setembro acontece em Bento um workshop com especialistas de Biobed da América Latina e Europa. Segundo Gleber, é esperado em torno de 100 pesquisadores em três dias de evento.

O Sistema Biobed Brasil
O Sistema é constituído de uma estrutura simples, originalmente um fosso cavado no solo, impermeabilizado ou não, preenchido com uma mistura de solo agrícola, palha e turfa, denominado de substrato, sobre o qual é plantado uma cobertura de grama que irá receber os resíduos de agrotóxicos. O substrato poderá ser utilizado por períodos de até 12 meses sem necessidade de substituição, dependendo da intensidade de uso.
O Biobed permite uma aeração melhor do que existe no solo, favorecendo processos aeróbicos para degradação de agrotóxicos no ambiente. Após determinado tempo, variável segundo o contaminante e as condições ambientais do meio onde ocorre a degradação, as moléculas de agrotóxico que restarem estarão fortemente fixadas por adsorção nos microporos das argilas ou da matéria orgânica do solo.
Seguindo a recomendação original para substratos descartados do Biobed, o material deve ser armazenado por um período de seis meses na forma de compostagem, considerando essa etapa como um fator adicional de segurança na degradação e dissipação dos resíduos de agrotóxicos.
Após essa fase de compostagem, recomenda-se a dispersão do substrato antigo nas áreas agrícolas da propriedade rural, de forma que todo o efluente e resíduo gerado nos processos produtivos da propriedade permaneça controlado dentro dos seus limites físicos e legais.
O pesquisador Gebler comenta que, em função do clima mais úmido, algumas adaptações foram necessárias para o uso do sistema no Brasil. “Foi necessária uma maior profundidade do reator, uso de cobertura em locais mais úmidos e substituição de palha de milho por palha de trigo no substrato. Essas mudanças garantem a segurança ambiental necessária para o processo de tratamento”, informou Gebler. Ele também avaliou que algumas questões, como a substituição da turfa (material natural e relativamente escasso e caro), por fontes alternativas de fonte de carbono orgânico é um dos principais desafios a serem trabalhados futuramente pela pesquisa.
O Biobed reproduz o modelo de atenuação que acontece livremente na natureza, porém em uma situação criada para favorecer o processo. O sistema Biobed Brasil compreende uma estrutura capaz de estimular a atuação de microrganismos específicos, fungos lignolíticos e algumas espécies de bactérias, sem restringir as demais populações de microrganismos benéficos, e do incremento de matéria orgânica, com a inclusão da turfa no sistema. Além disso, o sistema é construído de forma a permitir uma aeração melhor do que a existente no solo, favorecendo processos aeróbicos, que tendem a ser mais eficientes do que os processos anaeróbicos para degradação de contaminantes no ambiente.
Após determinado período de tempo, variável segundo o contaminante e as condições ambientais do meio onde ocorre a degradação, as moléculas de agrotóxico que restarem, estarão fortemente fixadas por adsorção nos microporos das argilas ou da matéria orgânica do solo, de modo que a concentração do contaminante na solução do solo será muito baixa, resultando em baixo risco de dano ao ambiente ou a seres vivos.

O risco do descarte incorreto de agrotóxicos
Com o agronegócio em alta, o Brasil está buscando caminhos para ocupar o pódio no ranking da coleta e reciclagem das embalagens de agrotóxicos vazias. Atualmente, segundo o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), o país só perde para a Alemanha nesse item. Segundo pesquisadores, os riscos não são apenas para o meio ambiente, mas para a saúde humana.
“As embalagens de agrotóxicos vazias descartadas sem atender as regras previstas na legislação podem acarretar problemas para a saúde humana, animais e meio ambiente. Contendo resíduos, dependendo do nível de umidade, podem liberar produto químico para o solo. Esse produto químico pode lixiviar, atingir os mananciais hídricos e contaminar o lençol freático e por erosão superficial chegar aos rios, lagos e lagoas, comprometendo a saúde dos humanos e animais.”
Se a água contaminada for ingerida por prazo longo pode provocar intoxicação crônica com difícil diagnóstico. “Se a embalagem não passar por tríplice lavadas os resíduos ficam nela e podem contaminar o solo. A descontaminação remove mais de 90% de todo o conteúdo existente na embalagem.”
É explicado ainda que a tríplice lavagem exige o descarte correto da água utilizada. “O resíduo da água de lavagem deve ser descartado adequadamente. Pela atual legislação, o produtor tem a opção de voltar a água para o pulverizador e aplicar na bordadura da sua cultura ou no carreador,” frisa o professor.
A reutilização da embalagem de agrotóxico para uso doméstico é condenada por Raetano. “Não pode. A temperatura de reciclagem do plástico é baixa, algo em torno de 180º. Os resíduos, nessa temperatura, não são suficientes para degradação. Eles vão ficar incorporados ao plástico. Por isso, que a reciclagem tem que ser controlada. Esse material não pode ser usado para a fabricação de qualquer utensílio.”
Enterrar ou incinerar em campo aberto são procedimentos não aceitáveis, segundo o professor. “Toda incineração tem que ser controlada. Tem que fazer o controle de emissão de gases. A reciclagem controlada e por conta dos fabricantes de produtos químicos.”
Na cidade de Bauru tem posto de recolhimento, informa Raetano, e na região em São Manuel e Botucatu.
O processo de reciclagem gera novos produtos a partir das embalagens de agrotóxicos vazias. Raetano explica que no País, especialmente no Estado de São Paulo, a diversificação de culturas que exige produtos diversificados acarreta no uso excessivo de agrotóxicos em algumas culturas. “De modo geral, nas culturas de tomate, batata, pimentão e algumas hortaliças ocorre um número maior de pulverização do que necessário.”

Riscos para o agricultor
A conscientização do agricultor sobre a utilização correta do agrotóxico se faz necessária em todos os aspectos, uma vez que esses produtos são nocivos tanto à saúde do trabalhador quanto ao meio am­bi­ente. Geralmente as consequências são condicionadas por diversos fatores co­mo o uso inadequado dos agrotóxicos, a alta toxicidade de alguns produtos, a ­falta de utilização de equipamentos de proteção e a precariedade dos sistemas de vigilância. Este quadro é agravado pelo baixo ní­vel socioeconômico e cultural da ­maioria dos agricultores.
A absorção dos agrotóxicos ocorre pela ,pe­le por ingestão ou por inalação. De a­cordo com os pesquisadores Antonio Flávio Mídio e Erasmo Soares da Silva, apesar dos sinais e sintomas da intoxicação se manifestarem por inibição enzimática no sistema nervoso, levando a uma série de efeitos parassimpaticomiméticos, as co­linesterases podem estar presentes em vários locais do organismo humano, inclusive no sangue.
Além dos sintomas agudos, ocorre a intoxicação crônica, na qual a reversibi­li­da­de do quadro clínico torna-se difícil causando problemas respiratórios, oculares, cardiovasculares, neurológicos, alergias cu­tâneas, disfunção gastrintestinal, mal­formação congênita, abortos e câncer. Lo­go, a medida da atividade das colines­tera­ses sanguíneas pode ser utilizada como pa­râmetro de avaliação da exposição ou da intoxicação por agrotóxicos. Nesse ca­so, a toxicodinâmica é ferramenta essencial para prevenção e diagnóstico de uma suposta intoxicação.
Pelo fato de o uso de agrotóxicos na a­gri­cultura ser intensivo e multiquímico, é relevante observar e investigar o modo de tra­balho, os sintomas apresentados e o ní­vel da enzima colinesterase nos agriculto­res, para posteriormente avaliar a presença ou não de uma intoxicação.