Pesquisador da Embrapa avalia os efeitos do frio na fruticultura

2015-04-10_190211

Estação terá uma condição de neutralidade, favorecendo a fruticultura da região

Na reunião do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (COPAAERGS), ocorrida na última terça-feira (29), foram expostas e discutidas as tendências meteorológicas para o próximo trimestre e os impactos dessas condições para agricultura.

Os prognósticos, com base nos modelos Regional Climático (CPPM/UFPel) e do INMET, apontam para um inverno dentro do normal regional, com frio significativo e com chuvas mais constantes, que são normalmente volumosas para esse período.

As condições meteorológicas desse inverno 2021, favorecem a viticultura e as demais espécies frutíferas da região da Serra. Para os próximos três meses – julho, agosto e setembro – espera-se aproximadamente 150 mm de chuva/mês e um somatório de frio que poderá ser até 10% superior à média climática (média dos últimos 30 anos).

Segundo o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Henrique Pessoa dos Santos, os prognósticos apontam para uma condição de frio mais constante e sem episódios de dias quentes intercalados, o que não é benéfico para a fruticultura.

“Esperamos ter um inverno de qualidade, caracterizado com frio constante, úmido e, principalmente, sem os frios tardios. Pela modelagem, que não evidencia a influência de El Niño ou La Niña, estamos prevendo uma menor chance de geadas tardias em setembro.

Portanto, aliando o frio constante do inverno e essa condição mais quente pós inverno, essas condições apontam para que a videira supere de forma plena seu estado de dormência e atinja um ótimo potencial de produção”, aponta.

Quando o pesquisador fala sobre uma condição ou tempo de frio, ele se refere ao tempo ou quantidade de horas de frio em que as plantas estarão expostas. É considerado frio quando a temperatura for igual ou menor a 7,2°C. Somente nos meses de maio e junho, a região já registrou 171 horas de frio (HF), quando a média normal é de 156 HF.

“Os primeiros frios do outono fazem a videira entrar no estado fisiológico de dormência, as folhas amarelam em caem. A planta só vai sair dessa condição quando atingir a soma necessária de horas de frio, que varia de cultivar para cultivar”, explica o pesquisador.

Cada cultivar apresenta uma exigência mínima de horas de frio (HF) para superar plenamente esse estado de dormência, com brotação uniforme na primavera. Por exemplo, as videiras de brotação precoce, como a ‘Chardonnay’, necessitam de 100 a 150 HF.

Entretanto, para cultivares intermediárias, como ‘Merlot’, precisam de 300 HF, já as tardias, como ‘Cabernet Sauvignon’, necessitam até 400 HF. “Temos um prognóstico de neutralidade com chuva dentro da média, a quantidade de frio poderá ser até 10% superior do que a média regional, que é de 409 HF”, explica.

Santos também destaca que as condições meteorológicas apontam para que não ocorra, nesse ano, o veranico em julho. “Seria muito ruim, para as videiras, uma sequência de dias quentes, pois favorece a brotação das cultivares mais precoces durante o inverno. Todos esses dados de frio influenciam, diretamente, na quantidade de uva que poderá ser colhida na próxima safra, pois impactam no número de brotos e, consequentemente, de cachos que as videiras apresentarão”, explica Santos.

O pesquisador lembra que a modelagem matemática para gerar esses prognósticos futuros são apenas uma estimativa.  “Claro, essa tendência é o que os dados nos indicam e o que esperamos, mas quando se trata de clima as coisas podem mudar. Nesse momento são essas condições que estamos prevendo, devido aos dados de vento no hemisfério sul e as temperaturas da superfície do oceano pacífico. Ou seja, é uma previsão”, pondera.