Pesquisa sobre uvas de mesa completa 10 anos

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Pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho começou a estudar a produção em 2003 e Bento Gonçalves é a cidade serrana com destaque para essa modalidade de uva

O segmento de uvas de mesa está crescendo na região da Serra Gaúcha, tradicional produtora de uvas para processamento. A responsável pela pesquisa na Embrapa é Patrícia Silva Ritschel. De acordo com o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e chefe adjunto de transferência de tecnologia, Alexandre Hoffmann, desde 2003 a instituição trabalha com essa modalidade, e desde então regiões da Serra têm apostado na variedade. “Estamos notando que o número de áreas de produção de uva de mesa tem crescido na região, principalmente em Caxias do Sul, Bento e Farroupilha. O sistema de produção é bastante importante e se trouxermos as variedades, precisamos cultivar embaixo de plástico porque as uvas são mais sensíveis a doenças, e como aqui chove muito é preciso usar plástico. O sol aqui é muito rico em matéria orgânica e as plantas ficam vigorosas, afetando a fertilidade”, explica.
A criação de variedades possibilita que outras regiões do Brasil produzam uvas de mesa, atendendo também o Vale do São Francisco e onordeste do Brasil. As regiões do norte do Paraná e noroeste de São Paulo também cultivam variedades de uva de mesa. Algumas variedades de uva se destacam na produção.
“Isis, Vitória e Núbia crescem a olhos vistos, a ponto que no Nordeste a variedade Vitória foi um ponto de partida para retomada do mercado inglês. Isso representa um interesse grande dos produtores. Essas uvas já estão disponíveis nos mercados da cidade, principalmente entre julho e setembro, mas a produção local vai levar um certo tempo até se firmar”, ressalva.

A importância da Uva de Mesa
É uma diversificação na viticultura que pode render bom retorno ao produtor rural, devido ao valor agregado que a fruta adquire. Contudo, as características de clima e solo da região fazem com que seja necessário usar de algumas tecnologias de manejo específicas para obter alta produtividade e qualidade dos cachos, tais como o cultivo protegido (por causa das chuvas na época da maturação), poda (o solo daqui resulta em videiras mais vigorosas do que em outras regiões), manejo de cachos e da carga produtiva (o clima mais frio resulta em cachos e bagas maiores, com a vantagem de expressarem a coloração mais facilmente, no caso das uvas coloridas) e manejo de doenças e pragas.
A Embrapa Uva e Vinho atua no segmento de uvas de mesa nas principais regiões produtoras e já criou 8 novas cultivares de uvas para mesa, com grande sucesso (ex. BRS Vitória e BRS Núbia). A demanda de produtores da região por tecnologias para a produção adequada na Serra Gaúcha impulsionou um projeto em andamento que está em sua segunda safra e que está gerando informações importantes para definir um sistema de produção adequado para a região. A pesquisa inclui o estudo do desempenho de cultivares tradicionais ( Red Globe . Itália, Itália Miscat, Itália Ruby e Itália Benitaka) e cultivares criadas pela Embrapa (BRS Clara, BRS Morena, BRS Núbia, BRS Vitoria e BRS Isis). Em um parreiral com 20 plantas por cultivar e sob cultivo protegido, uma equipe de pesquisadores está coletando informações que permitirão, em um prazo estimado de mais 2 anos, definir um conjunto de práticas de manejo para uma produção adequada de uvas de mesa de qualidade.

Novidades apresentadas
Em 2014 a Embrapa apresentou a BRS Vitória, a BRS Isis e a BRS Núbia. Segundo Patricia Ritschel e João Dimas Garcia Maia, coordenadores do Programa de Melhoramento Genético da Videira da Embrapa, a BRS Núbia (preta, com sementes), é menos exigente em mão de obra do que as cultivares do grupo Itália, enquanto a BRS Vitória (preta) e a BRS Isis (vermelha), ambas sem sementes, são tolerantes ao míldio, principal doença da videira no Brasil.
“A resistência ao míldio pode reduzir o número de aplicações de fungicidas no cultivo de uvas finas de mesa, o que vai ao encontro da sustentabilidade, uma prioridade do Programa”, informa Patricia. “O cultivo das novas variedades representa um grande avanço para a viticultura brasileira, pois vai permitir uma redução nos custos de produção, com menos danos para a saúde do trabalhador e para o meio ambiente”, acrescenta Maia.
A BRS Núbia, com sabor aframboesado, foi testada em regiões de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e no Vale do Submédio do São Francisco. “De ciclo precoce e elevada produtividade, na faixa de 25t e 30 t/ha, apresenta teor de açúcar acima de 19º Brix. Podendo alcançar 23º Brix, em regiões tropicais”, descreve Maia.
Já a BRS Isis apresenta alta fertilidade de gemas, aderência das bagas ao engaço e tamanho natural de bagas, textura firme e sabor neutro, além de se adaptar bem às condições de clima tropical do Brasil.
A BRS Núbia se adapta bem às condições de clima subtropical e tropical do Brasil. “Necessidade de menor mão de obra no cultivo, uniformidade de cor, grande tamanho de baga (média de 24 mm x 34 mm), sem a utilização de reguladores de crescimento, como as giberelinas, e boa aptidão para conservação pós-colheita são alguns dos principais atributos da cultivar”, detalha Patrícia. “Por essas caraterísticas, as novas cultivares são uma opção para a agricultura familiar”, completa Maia.
As novas cultivares foram apresentadas a produtores, técnicos e professores de agronomia do norte de Minas Gerais durante Dia de Campo realizado na Fazenda Alpa, no distrito de Moçambinho, em Jaíba, dia 14 de setembro.
De acordo com Maia, a BRS Vitória (de mesa e sem sementes) está sendo vendida a R$ 6,20 o quilo. Já a BRS Núbia (preta e com sementes) está sendo comercializada a R$ 5 o quilo, livre dos custos de embalagem (caixa, bandeja, filme de PVC, selo e transporte até São Paulo). “Estes preços são bem superiores aos da Niágara Rosada, que hoje está sendo vendida a R$ 4,30 o quilo, livre dos custos de comercialização”, compara o pesquisador.
A Alpa, parceira da Embrapa, embala a produção em bandejas de isopor, cobertas com filme transparente, e acondiciona-as em caixas abertas de papelão. “Depois, as caixas seguem em caminhões refrigerados até São Paulo, garantindo a conservação das uvas”, afirma Maia.
Mercado brasileiro
De acordo com o IBGE, em 2013,o Brasil produziu 1.412.854 t de uvas, ante 1.461.056 t no ano anterior, uma redução de 2,95%. No período, a área cultivada com videiras também apresentou queda, de 82.689 ha para 81.607ha, em decorrência de problemas climáticos e ambientais, pelo próprio ciclo da videira, e pela reconversão de vinhedos em algumas regiões, segundo Loiva Maria Ribeiro de Mello, pesquisadora da área de socioeconomia da Embrapa Uva e Vinho. Com base nos dados do IBGE, Loiva calcula que 48,11 % da produção de 2013 (679.793 t) foram destinadas à produção de vinho, suco e derivados) e 51,89% ao consumo in natura. O Rio Grande do Sul é responsável por 90% da comercialização nacional de vinhos e suco de uvas e derivados. No ano passado, o Estado produziu 808.267 t de uvas, mas abaixo das 840.251 t obtidas na safra anterior.
O Paraná registrou aumento de 12% na produção, em 2013, mas ainda abaixo de 2011, enquanto Pernambuco e Minas Gerais cresceram 1,77% e 25,99%, respectivamente, na mesma comparação. Os demais Estados apresentaram queda. “O aumento na produção de uvas em Minas Gerais representa o esforço da pesquisa, desenvolvimento e extensão que culminaram no surgimento de um novo polo de produção de Niágara para consumo in natura na região de São Gonçalo de Sapucaí, além de outro polo produtor de uvas Vitisvinifera de elevada concentração de açúcar, no sul do Estado, na região cafeeira, onde são realizadas duas podas, com inversão do ciclo da videira, com a colheita no inverno, quando a precipitação é baixa”, explica Loiva.