Pennywise personifica o medo da figura do palhaço em remake de It- A Coisa

2015-04-10_190211
Essa insatisfação com a presença de palhaços move tanta gente, que há sites especificamente direcionados a quem não curte os clowns

Estudos publicados por instituto norte-americano, afirmam que 2% da população mundial sofre de coulrofobia

As origens do medo de palhaços não está associada ao famoso romance “It: A Coisa” (1986), do genial Stephen King, que narra, em tom de terror, os crimes cometidos por um palhaço psicótico, que sequestra crianças. A coulrofobia, ou seja, o medo tão inevitável quanto inexplicável de palhaços, existe há centenas de anos e é muito provável que Stephen King soubesse muito bem disso no momento em que criou sua história.
Estudos publicados pelo Instituto Smithsoniano, nos EUA, afirmam que 2% da população mundial sofre com essa fobia, originada paradoxalmente na infância, quando a figura dos palhaços surge em várias ocasiões e com certa frequência.
O cérebro das crianças reage com susto natural a qualquer palhaço. Ele é um personagem supostamente hilariante, que esconde uma identidade atrás de quilos de maquiagem e trajes grotescos. A dualidade que o palhaço representa deixa qualquer criança inquieta ou desconfortável.
A característica careta de sorriso dos palhaços é especialmente perturbadora para as crianças que atravessam uma fase de desenvolvimento na qual os gestos são fundamentais. Um rosto com o sorriso forçado pela maquiagem gera estresse e a liberação de cortisol ou adrenalina, duas substâncias que deixam marcas.
O estudo revelado pela Universidade de Sheffield afirma que a maioria das crianças que dá entrada em hospitais se assusta com os desenhos de palhaço que, muitas vezes, são exibidos nas pediatrias. No lugar deles, elas sugerem a substituição por animais e plantas.
É notável também que, desde o início do século XX, quando foi registrado um pico na atividade dos palhaços, o ofício tenha decaído substancialmente. Por exemplo, o número de pessoas inscritas na Sociedade Mundial do Palhaço diminuiu drasticamente.
Enquanto isso, os artistas circenses mais jovens tendem a preferir outras áreas, e a persona do palhaço, aos poucos, cai em desuso.

It e o medo pop
É interessante notar como a cultura pop interferiu na imagem do palhaço, transformando uma figura essencialmente cômica e transgressora em uma espécie de terror anônimo. Se o personagem circense – provocador e humorado de um jeito afetuoso – gera um medo irracional sobre uma identidade misteriosa que se esconde sob a pintura do rosto, significa que o livro “It – a coisa”, assinado por Stephen King, foi bem-sucedido.
Lançado em 1986, a obra tem no palhaço assustador Pennywise a base de seu terror. Mas o real valor da história está na emocionante construção dos personagens, um grupo de jovens amigos que tentam sobreviver não apenas aos atentados dessa entidade maligna, mas também à escola, à adolescência em geral, ao gradual processo de amadurecer. Essa é também a força do filme “It: a coisa”, nova adaptação que estreia, nesta quinta-feira (7), no circuito nacional.
O livro foi adaptado para a televisão em uma minissérie lançada em 1990, que sofria pela ausência de recursos e a falta de uma maior autoridade para conduzir o enredo. A estreia desta nova versão vem cercada pela ansiedade de fãs que cresceram admirando a história original e com horror a palhaços. Dirigido por Andy Muschietti, que se destacou com seu primeiro longa-metragem, o horror “Mama”, “It” vem com força e mantém a história mais ou menos intacta.
O desaparecimento do irmão mais novo de Bill (Jaeden Lieberher) incentiva o jovem a juntar seus amigos e partir em uma jornada de busca que vai esclarecer os horrores secretos da pequena cidade de Derry, no Maine.
O ponto forte da trama, que se passa em 1989, é a relação do grupo, composto por Ben (Jeremy Ray Taylor), Beverly (Sophia Lillis), Richie (Finn Wolfhard), Mike (Chosen Jacobs), Eddie (Jack Dylan Grazer) e Stanley (Wyatt Oleff).
Enquanto os adultos são apenas caricaturas de pais ruins, as crianças estão no centro da aventura. É cativante a forma como esses personagens se relacionam, cada um tem uma personalidade interessante e juntos passam por situações extremas que estreitam seus laços. O filme tem pequenos detalhes carismáticos de humor e drama que o aproxima de “Stranger things” e “Super 8”, através da maneira como sugere sentimentos da adolescência e recupera um sentido de aventura sobrenatural, usando o horror para falar sobre um período específico da adolescência e a virada gradual para a idade adulta.
Em determinado ponto o filme parece perder os rumos de sua essência de terror, retirando de seu vilão sua força ameaçadora. A natureza aleatória e pouco eficiente dos ataques de Pennywise tende a encaminhar a história mais como um incentivo à imaginação adolescente do que uma representação da brutalidade do gênero horror. Nesse sentido, o final parece desapontar por ser básico em seu excesso de simplicidade.

Primeira parte
O livro narra tanto a adolescência dos garotos quanto os eventos que ocorrem 30 anos depois. Esta adaptação segue o mesmo princípio: está para ser anunciada a segunda parte do filme, que abordará a vida adulta dos garotos e a real natureza do mal representado por Pennywise (interpretado por Bill Skarsgård).

Por que as pessoas têm medo de palhaços?
Os palhaços são verdadeiras entidades personificadas por atores no mundo todo, comumente encontrados em circos, em grupos teatrais ou em outras reuniões cômicas, que têm a missão de levar alegria ao coração das pessoas. Os personagens são famosos por usarem vestimentas coloridas, geralmente de tamanhos muito exagerados, além de terem as faces maquiadas com tinta branca, sempre com as sobrancelhas e outros detalhes ressaltados.
Talvez a maior de todas as características da classe, a qual pode apontar de longe que estamos frente a um palhaço, seja o uso de um nariz vermelho. No entanto, as simpáticas personas representadas pelo uso do rubro no centro da face podem causar em várias pessoas, um efeito muito adverso ao humor, que é o medo. Para ser mais exato, há crianças (e mesmo adultos) que carregam consigo verdadeiro pavor da figura circense.
É importante salientar que os portadores da fobia sofrem ataques de pânico ao se depararem com os seres de nariz vermelho, acompanhados de perda súbita de fôlego, arritmia cardíaca, suor exacerbado e podem ficar até mesmo nauseabundas.
Essa insatisfação com a presença dos palhaços move tanta gente, que há sites especificamente direcionados a quem não curte os clowns, como o I hate Clowns (em inglês). Além disso, o desgosto já chegou às redes sociais e existe até uma comunidade no Facebook dedicada a compartilhar essa mesma desaprovação, que já conta com mais de 475 mil adeptos.