Para a geração do milênio estabilidade é ter saúde mental

2015-04-10_190211

Colunista: Psicóloga Viviane Tremarin – Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental

Eles vêm para salvar e para acabar com o mundo – depende de qual filósofo você busca a opinião. A chamada geração do milênio carrega dois pesos e duas medidas. Sabe millennials, quando a gente avalia que para o bem e para o mal a responsabilidade é colocada em vocês, dá para entender essa pressão que dizem carregar. Ou talvez eu devesse me incluir na história, já que essa geração envolve as pessoas nascidas entre 1981 e 1995. Então, eles, ou nós, nascemos junto com as tecnologias e temos forte ligação com elas, mas esse meio digital promoveu mudanças sociais que influenciaram na saúde mental e perspectiva de mundo dos millennials.

Esse contato constante com a tecnologia, o mundo digital e a grande necessidade de mudança e desafios podem colocar muita pressão nas costas dos millennials e isso tem impacto direto na saúde mental. A geração sente que o emprego também tem um papel importante nessa questão. Por conta da carga horária mais longa e de salários estagnados, eles sofrem com taxas mais altas de desgaste do que as outras gerações. Não é incomum que deixem o emprego por motivos psicológicos. Isso faz com que a geração opte por ambientes de trabalho positivos e mais flexíveis, que preservem a saúde mental.

Quando as pessoas pensam em saúde mental, normalmente o que vem à mente é não sofrer de depressão ou ansiedade, por exemplo. Mas ter boa saúde mental não significa apenas não ter um diagnóstico. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) “a saúde mental é definida como um estado de bem-estar em que cada indivíduo percebe seu próprio potencial, consegue lidar com o estresse normal da vida, pode trabalhar de forma produtiva e proveitosa, e pode contribuir para a sua comunidade”.

E nesse ponto, é uma geração que sabe aonde coloca suas prioridades, em pouco tempo parece que entenderam o que ainda estamos tentando aceitar: a saúde mental afeta todos os elementos da vida. Desde o desempenho no trabalho e nos relacionamentos, a capacidade de dormir, e até outros pontos mais difíceis de visualizar, como alterações emocionais. Mas essa geração não se preocupa com isso à toa, é a que mais sofre com diagnósticos de depressão e ansiedade em comparação com qualquer outra faixa etária.

Mas, apesar de carregarem o autocuidado na ponta da língua, as ações deixam um pouco a desejar. A geração que mais se preocupa com saúde também passa horas consumindo conteúdo digital, e todos os excessos são problemáticos, mas como encontrar culpados? Ninguém nos ensinou a usar as tecnologias, elas apenas nos foram dadas, agora é que estamos descobrindo como ter uma relação saudável com elas. E se tornou ainda mais complicada essa relação com as telas, pois de repente nossas vidas foram atravessadas por uma pandemia que forçou em nós uma reinvenção. E nosso contato cara-a-cara com colegas de escola/faculdade/trabalho, com amigos e família, se transformaram em encontros e reuniões virtuais. O novo normal, como alguns tem chamado. Mas como encontrar equilíbrio e saúde em meio a tudo isso? Você pode começar a tirar o autocuidado do papel com essas dicas, que servem para todos que querem começar a priorizar a saúde mental:
Parece óbvio, mas é realmente efetivo, diminua o tempo de celular, computador e selecione o tipo de informação que vai consumir, afinal, se informar é diferente de se sobrecarregar de notícias que induzem a momentos de estresse, ansiedade, frustração e insegurança. Se você é daqueles que não consegue desgrudar das redes sociais, experimente desativar as notificações do celular ou parar de seguir aqueles conteúdos que fazem você se sentir mal. A auto comparação também tem se tornado um fator observável, então antes de checar se a grama do vizinho está mais verde, tire um tempo para regar a sua própria. Eu sei, a gente tem o hábito de fazer isso, mas da próxima vez que for comparar sua vida, use uma versão anterior de si mesmo (a) nessa régua. Esteja presente fisicamente e mentalmente no hoje, ruminar o passado ou antecipar o futuro te impede de vivenciar o agora, que é aonde a vida acontece. Não ignore suas emoções, elas estão te mostrando o que está acontecendo no lado de dentro, é importante ouvir. Aproveite as pausas, nós passamos tanto tempo tentando ser produtivos que esquecemos que descansar também é cuidar de si. E priorize o pertencimento verdadeiro, as conexões genuínas e o seu espaço de apoio. Vá devagar e seja gentil consigo (a) mesmo (a), lembre-se que seu relacionamento mais longo é com você mesmo (a), trate com carinho essa pessoa tão especial.

Acredito que temos a aprender com essa geração, e não é só porque estou defendendo os meus. Costumamos dizer que são os mais velhos que tem as mais sábias lições, mas uma geração que aprendeu que sem saúde mental não há saúde, certamente tem muito para dizer e para se fazer ouvir.