Pais criam movimento para criticar falta de vagas em escolas do município

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Mais de 500 crianças não conseguiram vagas em escolas do município próximos de casa, destes, pelo menos pais de 70 menores cobram vaga no Jardim B do Alfredo Aveline através de grupos em redes sociais. Pasin tenta acalmar os ânimos prometendo “acompanhar a resolução do assunto”

Quando as aulas na rede de ensino do município iniciarem na segunda-feira (19), muitos pais não sabem onde seus filhos irão estudar. Revoltados, denunciam e pedem ajuda pelas redes sociais. Um deles, numa postagem do último domingo (11), em um grupo do Facebook que conta com mais de 90 mil membros, escreveu: “(…) Bento Gonçalves está em decadência na área da Educação. Falam em zoneamento, mas crianças de outros bairros estudando fora do seu bairro e crianças do bairro sem vaga na escola ao lado de suas casas. Sem falar que estamos a uma semana do início das aulas e milhares de crianças não sabem onde vão estudar ou se é que vão estudar”, lamentou G.V.
Até esta quinta-feira (15), a publicação tinha mais de 600 curtidas, 178 comentários e 70 compartilhamentos. Uma das críticas atingia o prefeito Pasin, que teria prometido que faria “questão de acompanhar a resolução do assunto”.
Na quarta-feira (14), o grupo de pais que não conseguiu matricular seus filhos em escolas do zoneamento e nem vagas em escolinhas, criou o movimento: “Sem Vagas de escola”, incitando mobilizações .
Angelita Paz, uma das organizadoras do movimento “ Sem Vagas na Escola” revelou que a estimativa é de que mais de 500 crianças estejam nesta situação no município. Destas, pelo menos 70, aguardam vagas em turmas do Jardim B do colégio Alfredo Aveline.
Mãe de duas crianças, uma menina de 5 anos e um menino de 1 ano e 9 meses, Angelita mora na divisa entre os bairros Borgo e Progresso, mas revela que a Secretaria Municipal de Educação (Smed) ofereceu vaga à sua filha, que irá para o Jardim B, nas escolas General Bento Gonçalves da Silva, no centro, e Dona Isabel, no bairro Universitário. “Minha filha já estudava na escola Feliz da Vida, no Borgo. Não vou querer que vá para uma escola tão distante. Eu me nego. Só queremos nossos filhos em escola próxima da nossa casa, no nosso zoneamento”, protesta a autônoma.
Angelita denuncia que crianças de outros bairros estudam na escola do Bairro Borgo, enquanto que sua filha não teve a vaga na escola almejada (Alfredo Aveline).
Angelita acrescenta a denúncia que “sete vans param na frente da minha casa para deixar as crianças no Alfredo Aveline, ou seja, elas não fazem parte do zoneamento, porque se fossem daqui, não viriam de van. Tem que pensar de uma forma mais racional. Uma das mães ligou para a escola José Farina ( do bairro Licorsul) e lá tem sobra de vagas no jardim B. Então, por que não realocar para lá?”, indaga.
T.S, funcionária em uma metalúrgica, passa pelo mesmo drama que a autônoma. Ela mora atrás do portão do Alfredo Aveline e tem um menino que já estuda na escola. Para a filha, de 5 anos, não conseguiu vaga. “Querem que eu mande a minha filha a dois quilômetros da minha casa. Com o meu filho foi tranquilo, eu entrei na fila. Trabalho o dia inteiro, mas se eu não conseguir vaga aqui perto, a minha filha não estuda. Vou pedir demissão e cobrar do prefeito Pasin um salário para ficar em casa com ela”, cobra.
Outra das organizadoras do movimento, Lillian Domann, também mora no Progresso e atrás do portão da escola Alfredo Aveline. Ela está indignada de ter que mandar a filha, de 4 anos, em uma escola longe de casa. “Estou muito desanimada. Eu não vou matricular ela. Podem fazer o que quiserem”, protesta. Ela garante que buscar ajuda na Justiça.

Três filhos em três escolas
A comerciante Viviane Lencina esteve na Smed na quarta-feira (14). Segundo ela, ficou no local mais de uma hora e meia e não conseguiu ser atendida. “Só pegam os dados e dizem que vão montar uma sala em escolas estaduais, mas longe de casa, como o Landell de Moura (Planalto)”, comenta. Moradora do Loteamento São Paulo, no Borgo, ela tem um filho de 5 anos, e também precisa de vaga para o Jardim B.
“Nós que somos mães não ficamos tranquilas de ter o filho longe de casa. O transporte também gera medo, pois ele vai estar com pessoas que não conhecemos ao sair da escola. Quem vai colocar ele na van? Meu esposo trabalha na escola perto de nossa casa daí não fecha horários para pegar ele”, acrescenta. Viviane tem ainda um filho de 7 anos na Escola Anselmo Luigi Picolli, na Cohab e outra filha no Mestre Santa Bárbara, no Progresso. “São três filhos em três escolas”, argumenta.

Matrículas online
Num dos comentários da publicação, uma mãe, R.R, faz críticas ao sistema de matrículas online, que foi aberto em novembro. “Eu preferia mil vezes ter ficado três dias na fila pra poder matricular meu filho. Minha vaga teria sido garantida(…)”.
A massagista R.B também comentou sobre possíveis falhas no sistema. “ Minha filha, que vai fazer 5 anos, sempre estudou na Feliz da Vida, no Borgo. Como moro a dois minutos do Aveline, fiz a matrícula online. Antes da 1h eu não conseguia entrar no sistema e nem preencher. Eu mandei à 1h06 mas só foi finalizada à 1h14. Não sei se porque a minha internet é lenta ou se é porque estava congestionado”, diz. “Fui obrigada a colocar uma segunda opção de escola e coloquei a escola Ernesto Dornelles. Tentei a escola Pedro Rosa (Progresso), mas não foi aceito porque é do Estado. Eu fui pessoalmente na Pedro Rosa e não aceitaram matricular meu filho porque pertenço ao Aveline”, registra.

Reunião Pública na Câmara de Vereadores
Na próxima segunda-feira (19), haverá uma reunião pública na Câmara de Vereadores a partir das 17h30 para tratar do assunto. Foram convidados para participaram a SMED, 16ª Coordenadoria Regional de Educação (16ª CRE), Ministério Público, Defensoria Pública e Conselho Tutelar.
O que diz a Smed
Em um comentário, a Smed informou que irá trabalhar com cessão de uso “(a criança). Isto é, irá estudar em uma sala de aula localizada em escola estadual, porém com professores, merenda escolar e transporte com monitor fornecidos pelo Município”. Já em outro comentário, a pasta afirmou que compreende que “muitas famílias estão optando por transferir ao município a educação de seus filhos, porém é necessário ressaltar que a garantia de vagas nas escolas públicas se dá mediante ao fornecimento de comprovantes de endereço e inclusive de renda familiar”.

O que a Prefeitura diz
A Prefeitura de Bento Gonçalves alega que “atenderá em 2018 cerca de 1870 alunos na pré-escola. (…) Desde 2016 o município recebe as crianças de 4 e 5 anos, Jardim A e B, suprindo assim 100% da demanda manifesta, através da rede municipal e com 23 cessões de uso, quando o município utiliza salas de aula da rede estadual. Hoje, Bento Gonçalves está atendendo 1.680 crianças nas Escolas Municipais de Educação Infantil, mais 400 com a compra de vagas na rede particular, atendendo assim um total de 2080, o que representa 85% da demanda”.

O que diz a Lei
Segundo o artigo 4 da Lei de Diretrizes e Bases da educação, é dever do Estado ofertar “vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008)”. No artigo 11, fica determinado que o Município deve “exercer ação redistributiva em relação às suas escolas”.

Outros depoimentos de pais

(Alguns pais optaram por serem identificados apenas com as iniciais por medo de represálias)

Michele Dartora
“Moro no bairro Aparecida e desde que o meu filho tem 9 meses do meu filho, nunca consegui vaga. A diretora da escola perto da minha casa deixou bem claro que aceitavam crianças do Zatt aqui. E eu que moro e trabalho aqui não conseguia vaga. Hoje o meu filho está com 5 anos e vai ter que ir estudar lá no Zatt, tendo colégio próximo de casa. É um absurdo pois só tem 5 anos e se acontecer algo eu não tenho condições de ir até lá resolver. Acho uma total falta de respeito conosco, pais, termos que passar por esse transtorno todo”.
A.L.M
“ Situação deplorável. Vergonha, indignação total em dizer que você mora num bairro com duas escolas a minutos da sua residência, mas tem que atravessar a cidade pra levar porque não tem vaga (…) Este zoneamento está uma vergonha. Por exemplo, a minha neta está sem vaga definida ainda. Onde já se viu uma escola do bairro Licorsul ser zoneamento que atinge o bairro Planalto até a Rua Rio Branco? Fora. Totalmente fora”.
L.F.C- Auxiliar administrativo
“Meu filho tem cinco anos e deveria ir para o Jardim B. Ele nasceu em maio de 2012, em outubro do mesmo ano iniciou essa saga em busca de vagas. Por alguns meses paguei a escola de educação infantil (berçário) totalmente particular, pois, estava fora do período de inscrições para creches. No ano seguinte, não consegui a vaga em escola pública, houve a compra de vaga com o detalhe que eu pagava uma diferença bem significativa sendo assim, recorria a economias que eu havia feito, pois, se não fosse assim, passaria fome para pagar. Um detalhe importante a ressaltar: existe uma ‘creche’ a cinco minutos a pé da minha casa, na qual estavam matriculadas crianças vindo de bairros que ficam entre dois e três quilômetros dali. Esta situação se prolongou até o ano de 2017 quando consegui uma vaga no jardim A nesta escola próxima de casa, porém, por ser o turno da manhã e não haver vagas de contraturno em Ceacri ou qualquer outra opção, lá fui pagar mais uma ano particular de contraturno. Então esgotou-se as reservas financeiras e comecei a passar dificuldades. Neste ano, conectei ao site das inscrições às onze horas aguardando a liberação para a inscrição. Como o esperado, houve uma lentidão na plataforma e ao final consegui gerar a inscrição à 1h04, pensei no momento que era um horário bom visto que, era a partir da 1h que foi liberado. Infelizmente me enganei e desde o dia 13 de dezembro de 2017 iniciou-se a aflição. Busquei todos recursos que poderia. Na escola de zoneamento fui mal atendida, não passavam informações, todos os órgãos públicos procurados não resolveram. No dia 14 de fevereiro ou seja, três dias úteis antes de iniciar as aulas, tive a tão esperada ligação, para que o meu filho de cinco anos frequentasse uma escola a dois quilômetros de casa (sendo a do zoneamento a cinco minutos a pé), com a justificativa de que o transporte é gratuito. E a minha resposta foi: tu colocaria teu filho de cinco anos em uma van que tu nem sabe o trajeto que fará, sem acompanhamento de monitor? Sem cinto de segurança? A funcionária da Smed ficou de retornar e aguardo até agora. A minha indignação não é apenas pelo fato da escola não ter mais vagas, e sim por possuir salas que se mantém fechadas pelo fato da pessoa intitulada diretora achar que é melhor, por achar que tem o direito de escolher quantos alunos quer ou não atender e, se não bastasse isso, não atender aos pais quando os mesmos procuram a escola pra conversar e tentar entender a situação em um todo. E ainda mais pelos órgãos públicos que deveriam acompanhar essas situações não fazerem nada, absolutamente nada para que as crianças estudem em seu zoneamento. Mais triste ainda que a segunda opção de escola ao fazer a inscrição e nem foi cogitada em colocá-lo. Então porque existe a opção no momento da inscrição? Além disso tudo, querem nos fazer engolir o turno que querem, porque a rede municipal de ensino Jardim B é no turno da tarde, e quando há cessão de uso em escolas estaduais a maioria é no turno da manhã como foi a opção ‘ofertada’. Segunda-feira iniciam as aulas e infelizmente meu filho não tem onde estudar.
Maria das Graças Corrêa
“Tenho um neto que vai fazer 3 anos em março e está esperando vaga para a creche. Moramos a uma quadra do Recanto do Beija Flores e a duas quadras do Alfredo Aveline”.
R.C.F.C
“As aulas começam na segunda e eu ainda não sei onde meu filho (de quatro anos) vai estudar. Liguei na escola Anselmo Luigi Piccolli e me informaram que só depois das aulas começarem vou ter uma posição. Moro na Rua Joana Guindani Tonello, na Cohab, onde fica a escola. Se for por zoneamento como dizem vou bater o pé até eu conseguir vaga na escola do bairro.”
Elisangela Romero
“Fizemos a inscrição online da nossa filha, de cinco anos, para a escola Alfredo Aveline. Moro a duas quadras da escola, Já fui até na Promotoria e o promotor me falou que o juiz ia decidir sobre a escola e que teria que ser a um raio de distância da minha casa de no máximo dois km.
Parece que vão nos ligar oferecendo vagas na escola Bento ou Dona Isabel, mas porque nao pode ser no Aveline:”
Suzana Martins
“Moro na Rua João Pessoa, no bairro Botafogo. Meu filho tem nove anos e irá cursar o 4° ano. Ele estudava no Santa Helena. No final do ano, liguei para a escola Luiz Fornasier (Botafogo), pedindo informação sobre a vaga. Informaram-me que iria abrir mais uma turma é que provavelmente iria ter vaga, então nem fiz a rematrícula no Santa Helena. Quando fui para fazer a inscrição, me informaram q não tinha vaga. Que ódio que me deu por passarem informações erradas. Resumindo, tive que fazer a matrícula de última hora no antigo colégio, Santa Helena, e mesmo sabendo que existe um colégio perto da minha casa, vou ter que mandar ele de ônibus ida e volta. Revoltante.”
Jussara Casagrande
“Meu filho de sete anos está fora da área de zoneamento. Eu moro a uma quadra da escola Carlos Dreher Neto, no Bairro Glória, e fiz a matricula dele nesta escola, e como segunda opção a Escola Egídio Fabris (São Bento), onde ele estudou o ano passado. Ele não foi selecionado na escola do bairro de zoneamento, pois não tinha vaga. meu marido está sem emprego e não tem como levar a criança quatro vezes ao dia para o Egídio em quanto tem escola perto de casa. A única explicação que nos dão é que a escola é do estado e não podem fazer nada quanto ao zoneamento. Ao meu ver, o que está no papel da inscrição da matrícula, onde diz que a criança tem que ser matriculada na escola mais próxima, não é válido. Vou para o Ministério Publico exigir a vaga que meu filho tem direito no bairro dele e sugiro que todos os pais façam o mesmo.