Os distúrbios neurológicos aparecem até em pacientes com sintomas leves de Covid-19

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O alerta é do neurocientista Daniel Martins-de-Souza, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que revela que a  retomada do avanço da Covid-19 registrada a partir de novembro ameaça levar ao crescimento do número de pessoas acometidas por distúrbios neurológicos, de depressão a problemas de memória.

Ele é um dos coordenadores do grupo de cientistas de várias instituições brasileiras que descobriu alterações na estrutura do córtex cerebral, mesmo em pessoas com sintomas leves de Covid-19. O mesmo grupo comprovou que o coronavírus infecta células cerebrais e afeta suas funções.

Sabemos que 30% das pessoas com Covid-19 apresentam sintomas neurológicos, isso é muito grave. Pacientes com sintomas leves apresentam alterações na estrutura cortical, e isso está associado à depressão, ansiedade e até mesmo a déficits cognitivos. Com mais gente adoecendo, mais pessoas sofrerão esses problemas — destaca Martins-de-Souza.

O Sars-CoV-2 é capaz de infectar e se replicar nos astrócitos, células de suporte e as mais numerosas do sistema nervoso central. Isso foi observado por meio de autópsias de vítimas da Covid-19.

Ao afetar os astrócitos, o coronavírus pode prejudicar o funcionamento dos neurônios, que precisam dos astrócitos para se nutrir.

É como uma reação em cadeia. O vírus ataca os astrócitos e, infectados, eles morrem ou deixam de cumprir seu papel de suporte aos neurônios. Estes então passam a não levar mais direito os sinais nervosos. O resultado pode ser uma gama de problemas, tão variados quanto dificuldade de raciocínio, perda de memória e depressão.

As alterações no córtex de pessoas com Covid-19 branda foram identificadas por meio de exames de ressonância magnética.

Os exames foram realizados, em média, dois meses após o surgimento dos primeiros sintomas da Covid-19. E um terço dos participantes ainda apresentava nesse período problemas neurológicos ou neuropsiquiátricos, como ansiedade, fadiga, dor de cabeça, depressão, perda de paladar, de sono e do desejo sexual.

Foram identificadas diferentes alterações na estrutura cortical, como aumento ou perda de espessura. O próximo passo do trabalho será descobrir se essas alterações são temporárias ou permanentes.

Outra pesquisa, esta da Universidade Charité (Alemanha), reuniu por meio de autópsias em vítimas fatais da Covid-19 mais evidências de que o coronavírus usa o nariz para chegar ao cérebro.