Ortorexia nervosa: a doença ainda pouco conhecida que pode causar isolamento e disfunção alimentar

2015-04-10_190211
Em geral, a ortorexia obedece a um ciclo. No início, vem a preocupação em comer de forma saudável e correta. Depois, o indivíduo começa a restringir alguns alimentos ou grupos alimentares inteiros

Em geral, a ortorexia obedece a um ciclo. No início, vem a preocupação em comer de forma saudável e correta. Depois, o indivíduo começa a restringir alguns alimentos ou grupos alimentares inteiros. Em seguida, a obsessão se instala

 

Em outubro de 1997, o médico americano Steven Bratman descreveu, de maneira inédita, uma prática comum entre seus pacientes: eles acreditavam que determinados alimentos seriam capazes de causar, prevenir ou tratar doenças e, por isso, seguiam uma dieta extremamente rígida. Tal comportamento foi batizado pela primeira vez na história de ortorexia.
Diferentemente da anorexia e da bulimia, o quadro é marcado pela obsessão pela pureza do que se come. Ou seja, não tem relação com o peso ou as calorias. Calorias, vitaminas e nutrientes tornam-se o ponto focal da comida e qualquer coisa que contenha o mínimo vestígio do que está na lista do “não é permitido” não é consumido.
A pessoa ortoréxica, inicia uma busca obsessiva por normas (ou regras) de alimentação saudável. Também associa uma preocupação com a forma de preparo e os utensílios utilizados na preparação dos alimentos. Comer fora de casa é considerado um problema, evitam reuniões sociais e jantares para não “cair na tentação” de ingerir outro tipo de produto e pesam os alimentos e sentem “grande culpa se quebrar as regras”, e pelo contrário sentem uma sensação confortável ao fazer um prato elaborado exclusivamente com produtos orgânicos,ecológicos, bio ou com determinados certificados de salubridade. Acabam se isolando para conseguir se alimentar dessa forma saudável ou com alimentos considerados “puros” em casa, não aceitando comer em restaurantes e dessa forma acabam deixando de sair com os amigos ou namoradas/os. A dieta “saudável” acaba tomando conta da sua vida.

O transtorno
Em geral, a ortorexia obedece a um ciclo. No início, vem a preocupação em comer de forma saudável e correta. Depois, o indivíduo começa a restringir alguns alimentos ou grupos alimentares inteiros. Em seguida, a obsessão se instala: a pessoa só pensa em comida o dia inteiro e passa a negar convites ou evitar lugares onde possa cair em tentação. A estudante Anna Júlia Moll passou a rejeitar convites para aniversários, encontros com amigos ou jantares em família. “Sinto que perdi a minha adolescência”, desabafa.
No auge do transtorno, porém, Anna sentia-se motivada. “Eu comia de forma saudável e estava perdendo peso. Isso que importava”, contou. Ela ia religiosamente na academia e dormia “as oito horas por noite necessárias para o músculo descansar”. Seguia dezenas de modelos e blogueiras fitness no Instagram e, quando as restrições alimentares a deixavam triste, olhava a timeline e enchia-se de autoconfiança para continuar na linha.
Os especialistas não têm dúvidas sobre a influência das redes sociais no avanço dos transtornos alimentares. Pelo menos dois estudos mediram o impacto dos perfis fitness na autoimagem e no risco de ortorexia. Um deles, feito por pesquisadores do University College de Londres, revelou uma associação entre o uso intenso do Instagram e o transtorno. A prevalência entre os usuários da rede social foi de 49% contra 1% da população em geral. Em outro estudo, realizado pela universidade australiana Macquarie, 150 estudantes disseram que se comparar com outras mulheres nas redes sociais as deixava infelizes e, ao mesmo tempo, motivadas a fazer dietas loucas.
O fato de estar em sintonia com a cultura tem um efeito negativo no tratamento da ortorexia. “Familiares e amigos demoram a se dar conta. Por isso, o comportamento [de fazer restrições alimentares severas] é tolerado”, diz a psiquiatra Miriam Garcia Brunstein, coordenadora do Programa de Transtornos Alimentares em Adultos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. É aí que mora o problema. Poucos contestam alguém que usa como argumento a saúde para justificar as escolhas alimentares. Em determinados grupos, quem come junk food ou alimentos tidos como “não saudáveis” é hostilizado.
Foi o que ocorreu com a blogueira norte-americana Jordan Younger. Jordan alçou fama na internet quando adotou o veganismo como estilo de vida. Em nove meses, ela amealhou 300 mil fãs no seu blog The Blonde Vegan, onde pregava os benefícios da yoga, do mindfulness e da dieta raw e vegana, em que excluía não só alimentos de origem animal como os cozidos.
“Comecei a viver em uma bolha de restrição. Totalmente à base de plantas, sem glúten, sem óleo, sem açúcar refinado, sem farinha”, declarou. Em junho de 2014, Jordan percebeu que a dieta ultrarrestritiva estava a deixando doente. Foi então que escreveu o texto Por que estou me afastando do veganismo — que acabou se transformando no livro Breaking Vegan(Quebrando o Veganismo, em tradução livre).
Foi o suficiente para sofrer represálias. Um dos leitores raivosos escreveu: “Bem, se todos nós podemos ‘fazer o que queremos’, eu estarei aí para assar a sua família mais tarde”. Jordan se manteve firme na mudança e trocou o nome do blog para The Balanced Blonde (A Loira Equilibrada). “Estou avaliando minha dieta e dizendo adeus aos rótulos”, escreveu. “Isso é terrível para mim e estou totalmente fora da zona de conforto depois de viver tanto tempo sob o guarda-chuva do veganismo. Mas faço isso para ao bem da minha saúde física e mental”, contou, falando sobre como se livrou da ortorexia.

Sintomas da Ortorexia
Comportamentos comuns ligados ao ortoréxico:
Tem como único assunto a alimentação, inclusive repreendendo os outros em relação aos seus hábitos.
Tem mania de ler rótulos de todos os alimentos.
Nas redes sociais, só compartilha postagens relacionadas à nutrição.
Deixa de comer, caso julgue que a comida está fora dos seus padrões.
Se recusa a consumir itens industrializados.
Exclui ainda sal, açúcar e gordura (mesmo aquelas boas, que são necessárias para o corpo).
É obcecado com a forma de preparo dos alimentos.
Abre mão de confraternizações e, cada vez mais, se isola socialmente.
Apresenta-se sempre tenso, com comportamentos de demonstram ainda ansiedade e depressão.

Efeitos da Ortorexia
Os ortoréxicos podem ficar seriamente afetados e a comunicação em casa pode sofrer com isso. A pessoa pode começar a isolar-se dos seus semelhantes e tornar-se distante à medida que se vai fixando cada vez mais nas suas regras dietéticas.
Para alguns, a capacidade de desempenhar trabalhos ou de estudar pode começar a declinar, à medida que a sua mente se ocupa cada vez mais com a sua dieta e com os alimentos que são permitidos, como articulá-los no seu dia-a-dia, quantas vezes se devem mastigar e por aí fora. Há tantos fatores que envolvem estes transtornos alimentares que os pensamentos podem ficar totalmente ocupados por eles, deixando pouco espaço para outros rumos de ideias e a concentração e a motivação acabam por ficar na retaguarda.

Tratamento
O tratamento da ortorexia deve ser realizado por profissionais da saúde. O acompanhamento de médicos, nutricionistas e psicólogos é fundamental.
As pessoas com ortorexia devem entender que a dieta saudável é uma aliada da saúde. Porém, o excesso da preocupação com os alimentos e a exclusão de alguns nutrientes da alimentação pode ser prejudicial e trazer sérias consequências para a saúde.

Ortorexia x anorexia
Na ortorexia, o objetivo não é o baixo peso corporal e, sim, a qualidade do alimento. Na anorexia, por vez, há uma busca por uma imagem corporal específica, pelo peso abaixo do esperado para sua estrutura física.
Na anorexia nervosa, o motivo para deixar de comer de forma adequada é o medo de engordar. E as pessoas com este transtorno apresentam distorção da autoimagem corporal. Mas pode existir uma passagem de um quadro para outro, por exemplo: a pessoa pode começar com ortorexia e, depois de um tempo, isso levar à anorexia. Assim como tem casos em consultório em que pacientes com anorexia nervosa, antes de se recuperarem totalmente, apresentavam comportamentos ortoréxicos.

 

Um dos problemas da disfunção é que a pessoa pode sofrer com isolamento, evitando comer em restaurantes ou de se reunir para jantar com amigos
O tratamento da ortorexia deve ser realizado por profissionais da saúde. O acompanhamento de médicos, nutricionistas e psicólogos é fundamental
A pessoa ortoréxica, inicia uma busca obsessiva por normas (ou regras) de alimentação saudável
Diferentemente da anorexia e da bulimia, o quadro é marcado pela obsessão pela pureza do que se come