“O reconhecimento de Indicações Geográficas de vinhos no Brasil estabelece um novo capítulo da vitivinicultura nacional”

2015-04-10_190211

Em reportagem especial,, sob o comando da jornalista Viviane Zanella, a Embrapa Uva e vinho apresentou como trilhou os caminhos de abertura para a criação da Indicação geográfica de cinco regiões da Serra gaúcha.
neste compilado, pesquisadores da Embrapa, que com suas expertises contribuiram para o desenvlvimento deste trabalho que resulta em qualificação da vitivinicultura nacional, igualando-a ao conceituados polos vitivinícolas do mundo.
Há regiões que, ao longo do tempo, tornam-se conhecidas e mesmo notórias pelos seus produtos. Como forma de proteger tal reputação, essas zonas produtoras diferenciadas podem buscar o reconhecimento como Indicação Geográfica (IG) – concedida, no Brasil, pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Isso porque a IG possui uma área delimitada que adota os padrões locais de produção, restringindo seu uso aos produtores alí estabelecidos, e protegendo produtores e consumidores contra o uso indevido do nome da região em produtos de imitação ou de qualidade não-controlada.
Atuando de forma multidisciplinar e com a parceria de diversas instituições, incluindo o setor produtivo vitivinícola, a Embrapa Uva e Vinho foi pioneira no Brasil no fomento de indicações geográficas no Brasil, especialmente as de vinhos finos. A partir do seu suporte técnico-científico, já estão reconhecidas na Serra Gaúcha a Denominação de Origem Vale dos Vinhedos e mais cinco outras Indicações de Procedência de vinhos.
“Um vinho com Indicação Geográfica está credenciado pela qualidade diferencial do seu local de origem, que o distinguede similares disponíveis no mercado. Sem dúvida é um vinho com identidade própria”, pontua Jorge Tonietto, que é pesquisador da Embrapa e uma das maiores autoridades no assunto no Brasil.
Ele destaca, entre os benefícios diretos, a organização social dos produtores, a ampliação do renome do produto e da região, a agregação de valor e dinâmicas que estimulam o desenvolvimento econômico da região. Os produtores passam a agir coletivamente garantindo ao consumidor a qualidade do produto da IG através dos controles realizados sobre a produção.

Indicações
Geográficas
O reconhecimento de Indicações Geográficas de vinhos no Brasil estabeleceu um novo capítulo da vitivinicultura nacional, no qual se valoriza produtos tradicionais de determinados territórios. Isto possibilita a proteção da região produtora e garante aos consumidores vinhos diferenciados
A grande diversidade de vinhos nacionais e importados no mercado são fatores que tornam a escolha um verdadeiro desafio.
No final da década de 80, a Embrapa Uva e Vinho trouxe para o Brasil o conceito das indicações geográficas, seguindo o que acontecia em tradicionais regiões europeias, como o vinho do Porto e o Champagne francês. Assim começou o trabalho de caracterizar o vinho brasileiro valorizando a região na qual é produzido.
Na década de 90, o setor produtivo apostou na ideia. Produtores e pesquisadores se uniram para mostrar que era possível reconhecer e valorizar o vinho brasileiro a partir do seu local de origem e, principalmente, da tradição e do saber fazer dos seus produtores.
Segundo pesuisador da Embrapa Uva e Vinho, Jorge Tonietto “a legislação brasileira não define Indicação Geográfica, mas diz que existe em duas modalidades, a Indicação de procedência que se refere à produtos que se tornaram conhecidos em regiões específicas, tem um renome construído e a Denominação de Origem, que é um caso particular da Indicação Geográfica, onde a qualidade e as características dos produtos dessas regiões são influenciadas pelo clima, pelo solo, pelas técnicas de produção e, portanto, essas formas de produzir, leva a características particulares dos produtos.”
“A Embrapa quando trabalha nos Projetos de IG procura aprofundar estudos para que esses trabalhos elevem o nível tecnológico de conhecimento e da exploração de um espaço geográfico complexo, que é um território da produção dos vinhos para entender quais são os melhores solos, clima que existe, as variedades que se adaptam melhor, que características estes produtos tem, enfim, para saber exatamente o que está fazendo e dar um salto incremental”.
Essa construção só foi possível reunindo esforços e saberes de diferentes de instituições A Universidade de Caxias do Sul, a Universidade do Rio Grande do Sul e a Embrapa Clima Temperado, com a coordenação da Embrapa Uva e Vinho, desenvolveram uma sólida parceria de apoio à construção de cada uma das Indicações Geográficas de vinho da Serra Gaúcha .
A história das Indicações Geográficas do Brasil começou aqui, no Vale dos Vinhedos, com a Aprovale, Associação de Produtores de Vinhos fino do Vale dos Vinhedos. Ele foi o primeiro grupo de produtores que acreditou nos benefícios que a Indicação Geográfica traria
Em parceria com a Associação dos produtores vão sendo realizadas as pesquisas necessárias para caracterizar e estruturar a Indicação Geográfica. Uma das primeiras etapas é a delimitação da área geográfica.
“No Vale dos Vinhedos nós consideramos para indicação de procedência o conceito de vale como o próprio nome diz, o nome da região, já nos remeteu a um conceito geográfico e que permitiu que efetivamente nos identificássemos uma vitivinicultura específica nesta região”, comenta a Pesquisadora Universidade de Caxias do Sul, Ivanira Falcade.
Com a definição da área, se elaboram outros estudos que envolvem o relevo, o clima, os solos, a viticultura, a enologia, a história, a paisagem e a cultura. Esta etapa é importante e bastante trabalhosa, exigindo um esforço de pesquisa dedicado a cada um dos territórios .
Eliseu José Weber, Professor UFRGS, ponderou qeu “ a gente pode fazer uma comparação dos solos com as pessoas ou com a classificação de outras coisas, por exemplo nós todos somos seres humanos, somos classificados como homo sapiens, mas se a gente pegar um halterofilista e um jóquei, eles têm características muito distintas e isso ocorre com os solos também, essa é a grande dificuldade da gente pegar um levantamento e extrapolar, pegar um mapa por exemplo que foi feito para toda a Serra Gaúcha e achar que lá dentro de uma IG num vinhedo vai ocorrer exatamente aquele solo descrito”
E todo esse trabalho aliado ao saber fazer dos produtores se revela em qualidade na taça. Assim se estabelece e se constrói o renome de uma região, possibilitando uma alavancagem econômica e social, e o fortalecimento do através do turismo relacionado ao vinho.
Na opinião do pesquisador Celito Guerra da Embrapa Uva e Vinho “essa dinâmica de delimitação de regiões aqui na Serra Gaúcha teve tanto sucesso que as novas regiões vitivinícolas brasileiras, campanha gaúcha, regiões altas de Santa Catarina, o vale do São Francisco entre Pernambuco e Bahia também estão adotando a mesma lógica de delimitação de regiões com status de IG, porque eles estão percebendo o quanto este ordenamento da produção vitivinícola é importante via delimitação de regiões.”

IG ampliação do renome dos produtos e estímulo à economia

A Indicação Geográfica dos vinhos trouxe como benefícios a organização coletiva dos produtores, o estímulo à economia local e a ampliação do renome dos produtos da região, com impactos na competitividade, bem como no aumento do potencial para a atividade do enoturismo. Cada Indicação Geográfica está vinculada a uma associação de produtores, responsável pela gestão, incluindo o controle, a proteção e a sua promoção
Para o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Jorge Tonietto “dentro de uma Indicação Geográfica esse arranjo produtivo que se dá organizado pelas associações, que normalmente são as instituições que encaminham ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o INPI, o pedido de registro, enfim a associação atua como uma demandante.
Obtido o direito de fato esse direito é coletivo é de todos os produtores que estiverem na região e que se enquadrem nos critérios de produção
A associação normalmente tem através de seu conselho regulador atuado como gestora da indicação geográfica, fazendo o controle, a promoção, a defesa da Indicação geográfica assume um papel institucional importante no âmbito da IG.”

IG Serra Gaúcha
Atualmente são cinco as Indicações Geográficas de vinhos finos reconhecidas na Serra Gaúcha:
Denominação de Origem Vale dos Vinhedos, localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.
E as Indicações Geográficas de Pinto Bandeira, abrangendo os municípios de Pinto Bandeira, Farroupilha e Bento Gonçalves. Altos Montes, localizada nos municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua. Monte Belo, que está 80% no município de Monte Belo do Sul e o restante nos municípios de Bento Gonçalves e Santa Tereza, e a Indicação de Farroupilha, que está 99% localizada no município de Farroupilha, com pequenas áreas em Caxias do Sul, Pinto Bandeira e Bento Gonçalves.
Controles Rígidos
Mas para receber esse selo, o vinho sofre rígidos controles vitícolas e enológicos, que incluem análises de laboratório e sensorial.
Somente os vinhos que atendem todas essas regras irão ostentar o selo da Indicação Geográfica, direito de uso conferido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e que é uma garantia de qualidade na taça dos consumidores.
O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Zanuz explica que “os vinhos da Serra Gaúcha, são provenientes de vinhedos inseridos no meio da Mata Atlântica que é um bioma característico, já há estudos indicando também que a própria parte microbiológica da mata atlântica pode ser um elemento de diferenciação da própria fermentação. Os trabalhos de indicação geográfica servem exatamente para criar esse vínculo e dar expressão para essas diferenciações das diferentes áreas produtoras”
As indicações geográficas são uma forma coletiva de produção, que ajudam na organização e na valorização do território. São responsáveis por estreitar o vínculo entre o viticultor, o enólogo e o empresário do vinho de cada origem. Cada uma dessas indicações da Serra Gaúcha é única no mundo inteiro. Elas conferem identidade própria aos produtos, consolidando os territórios do vinho brasileiro.