O que você faz com os restos e rastros da sua infância?

2015-04-10_190211
Letícia Simioni Schossler Psicóloga │ Especializanda em Psicologia Clínica de Orientação Psicanalítica - CRP 07/23986 (54) 99121-3633 leticiassc@terra.com.br www.facebook.com/PsicologiaLeticiassc/

Inicio essa matéria com a citação do notável psicanalista Contardo Calligaris, que nos alerta que em análise descobrimos que “… a vida adulta é sempre menos adulta do que parece: ela é pilotada por restos e rastros da infância.”
Enquanto sujeitos, após certa idade, é comum que se tenha “certeza” a respeito do próprio nível de maturidade, e que se acredite que, as emoções e ações são guiadas pelo lado adulto e consciente do sujeito, mas, será mesmo? Será possível que a sua constituição psíquica, tão complexa e construída ao longo de muito tempo, ficou guardada no fundo de uma caixinha pelo simples fato de que os anos indicam que você se tornou um adulto?
Quando alguém decide buscar por psicoterapia, na grande maioria das vezes, o faz por dificuldades aparentes e pontuais da etapa de vida na qual está presente, mas, ao longo do processo, inevitavelmente, a dupla analista e paciente resgatam juntos a tal caixinha. Seria pouco verdadeiro com você, caro leitor, dizer que esse é processo “rápido, simples e indolor”, por mais que essas características é que ditem o momento no qual vivemos, afinal, a construção do que você se tornou, igualmente não foi “rápida, simples e indolor”.
A grande diferença está em, poder abrir aos poucos a tal caixinha, não de uma única vez, não sozinho e desamparado, como que num ato de tortura, e sim, pelo contrário, se aproximar, devagar e sempre, em conjunto com aquele que você escolheu como seu analista.
Acredite, antes de qualquer mudança que você almeje na sua vida, seja nas suas escolhas, relacionamentos, questões profissionais, dentre tantas outras áreas capazes de provocar aflição no ser humano, será essencial tomar consciência daquilo que constituiu você, não de qualquer forma, mas de verdade e profundamente, para então poder, a partir do seu processo único de análise, conjugar verbos de origem psicanalítica tão presentes ao longo do tratamento: RECORDAR, REPETIR, ELABORAR, RESSIGNIFICAR… Independente de você iniciar ou não seu tratamento, a caixinha continuará existindo, recheada de conteúdos; a grande diferença é o destino que será dado, consciente e inconscientemente, para cada um dos fatos, memórias e experiências que ali estão.
É ingênuo, talvez presunçoso, e por que não dizer- de um nível de mal trato muito grande consigo- pensar que sozinho “vai passar”, que por si só “o tempo cura tudo”, porque na realidade… nem sempre dá tempo. Viver é diferente de aguentar e sobreviver. Pense nisso!