Nutricionista alerta para alimentos que carregam promessas “milagrosas”

2015-04-10_190211
Óleo de coco virou alvo de polêmicas. Seus supostos benefícios não possuem comprovações científicas

Novidades surgem todo dia, prometendo resultados rápidos e eficazes. Mas na realidade, muitas como o celebrado óleo de coco não possuem comprovações científicas em relação aos seus supostos benefícios

Nos últimos anos, acompanhamos o destaque de muitos alimentos (ou mesmo suplementos) apontados como extremamente eficientes ou “milagrosos”. E a cada novidade, um número imenso de pessoas – principalmente as que sofrem com os problemas do sobrepeso – correm às farmácias, drogarias ou mesmo lojas especializadas, esperando encontrar a solução escondida na embalagem do “super alimento” ou no frasco do produto anunciado (que em geral, custa caro – um recipiente de 200 ml de óleo de coco, por exemplo, pode chegar a R$ 20).
Mas a realidade mostra que a maior parte desses suplementos ou alimentos “milagrosos” promete muito mais do que é capaz de cumprir. A mais recente surpresa direcionou os holofotes para o celebrado óleo de coco. Apontado como uma poderosa arma para emagrecimento (principalmente em relação à gordura abdominal) e coadjuvante com ares de protagonista na luta contra o colesterol, ele agora é citado como mais um exemplo lamentável do poder dos boatos que circulam pela internet todos os dias.

Faltam evidências científicas que comprovem benefícios
Na última semana, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) se posicionou contra a prescrição do óleo como terapia para emagrecimento. Antes disso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) já haviam se posicionado a respeito, não recomendando o uso de óleo de coco para a perda de peso. As duas entidades afirmavam a falta de evidência científica ou mecanismos fisiológicos que embasassem a associação entre o óleo em questão e emagrecimento.
Segundo a endocrinologista e presidente do departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Rosana Radominski, o óleo de coco não só é ineficiente em relação ao emagrecimento, quanto pode trazer riscos à saúde. A especialista afirma. “Não existe comprovação científica de que ele traga os benefícios prometidos. Muito pelo contrário, ele nada mais é do que gordura saturada, que aumenta muito os níveis de colesterol ruim no organismo, provoca aumento do nível de triglicerídeos, sobrepeso e pode trazer problemas cardiovasculares e sobrecarga hepática a quem ingerir em altas quantidades”.

Especialistas alertam para infundadas “recomendações de uso” na internet
A endocrinologista mostra preocupação, principalmente, em relação às supostas “recomendações de medidas diárias” que falam em quatro colheres (de sopa) do óleo para alcançar os benefícios apontados. “As pessoas têm tendência a se automedicar e isso é muito perigoso. Se você tomar essa quantidade indicada, estará ingerindo um índice absurdo de calorias, que só queimaria com mais de seis horas de exercícios”, alerta.
Segundo a especialista, óleo de coco pode ser recomendado apenas em casos específicos. Sendo uma gordura de absorção rápida, pode auxiliar o tratamento de alguns tipos de doenças, como as que envolvem alterações gastrointestinais. Mas para o uso comum, a indicação abrangeria apenas a substituição a outros óleos usados na culinária, e ainda assim, não seria o mais recomendado.

A nutricionista Greice Simioni chama a atenção para o cuidado com os supostos alimentos, suplementos e dietas considerados “milagrosos”

Nutricionista relata a necessidade de investigações não contraditórias e de longo prazo
A nutricionista Greice Caroline Baggio Simioni, que atua em Bento em região, explica que o óleo de coco vinha se destacando por promessas de possuir ação antibacteriana, antiviral e antifúngica, além de sua contribuição à perda de peso, por ação termogênica. “Esses benefícios do óleo são supostamente atribuídos ao ácido láurico. Mas vale lembrar que ele é um dos óleos vegetais com maior quantidade de ácidos graxos saturados (90% de sua composição), apresentando significativa capacidade de elevar o colesterol LDL e o HDL”, frisa.
Ela destaca que não há razão para eliminar as gorduras saturadas da dieta, porém, é preciso ter cautela no consumo – seja como alimento ou suplemento. E completa. “O fato do óleo de coco possuir maior quantidade de ácidos graxos de cadeia média AGCM, diferentemente das demais gorduras saturadas, faz com que ele tenha um comportamento metabólico diferente. É claro que o coco é um alimento rico em nutrientes, mas o óleo não pode ser considerado um alimento milagroso, seja para fins de emagrecimento, prevenção e ou cura de doenças”.
Segundo Greice, os estudos que relacionados à questão são escassos. “São necessárias mais investigações não contraditórias e de longo prazo”. E em relação à suplementação de óleo de coco, a nutricionista destaca que as evidências científicas são insuficientes. “Além disso, benefícios a longo prazo também não são conhecidos”.

A propagação dos boatos envolvendo suplementos milagrosos
Greice ressalta que todos os dias, inúmeras informações sobre alimentação e nutrição são divulgadas pela mídia – seja em jornais, televisão, revistas, sites, blogs, redes sociais – seja com o objetivo de reduzir peso, prevenir certas doenças ou melhorar a saúde de forma geral. “Contudo, certas informações com contraditórias evidências promovem modificações bruscas e muitas vezes desnecessárias na dieta, não levando em consideração seus efeitos prejudiciais a longo prazo, nem os costumes e preferências de quem as seguem”, lamenta.
Dentre esses mitos estão o uso de óleo de cártamo, a dieta isenta de glúten, dieta detox, ração humana, água de berinjela e outros. Ele explica que é preciso entender que o crescimento da obesidade está correlacionado aos hábitos alimentares e ao sedentarismo, e sendo de causa multifatorial, seu tratamento é complexo e multidisciplinar, com a necessidade de mudança gradativa no estilo de vida. E alerta. “Não há um alimento “milagroso” que possa trazer resultados efetivos e duradouros. É preciso mudanças no estilo de vida – o que inclui cautela no consumo de gorduras que trazem benefícios no perfil lipídico e que diminuem o risco de doenças cardiovasculares (como o óleo de coco)”.

O cuidado com as dietas milagrosas
Para a nutricionista, essa discussão se estende às dietas da moda. “São muitos livros que aparecem a todo o momento, revistas prometendo quilos a menos, rapidamente”. Ela associa essa realidade às inúmeras dúvidas que surgem a respeito do que comer e quando comer, e que fazem muita gente sofrer com dietas malucas, deixando de lado a preocupação real com saúde.
Greice destaca. “Dietas prontas são baseadas em perda de peso a curto prazo. E você corre o risco de perder músculo e não gordura corporal – uma perda de tempo. “Ainda mais – cortando um determinado grupo de alimento completamente – você pode deixar de obter nutrientes essenciais, vitaminas e minerais que seu corpo necessita para funcionar, e para garantir proteção contra as doenças e do envelhecimento precoce”, atesta.
Ela cita também o perigo de dietas da moda baseadas na inclusão de um único alimento na refeição, não modificando outros pontos da dieta, como a dieta da “banana verde”. “Onde estão os alimentos de preferência e o prazer das refeições nestas horas? Onde estão as evidências que garantem a saúde?”, avalia. Para Greice, esse modismo traz uma importante questão: afinal, existe realmente uma preocupação com a saúde ou somente a busca de resultados imediatos e ou “milagrosos”?

Algumas das principais características dos óleos e gorduras que usamos diariamente:

Óleo de coco
Rico em ácidos graxos saturados. Estudos mostram aumento do colesterol e o ponto de fumaça não é alto (177ºC). Mesmo possuindo substâncias antioxidantes, especialistas sugerem limitar ingestão.

Óleo de Palma/Azeite de Dendê
Rico em ácidos graxos saturados. Especialistas sugerem limitar ingestão e possui ponto de fumaça alto (232ºC). Rico em Ômega 9, pobre em Ômega 6, rico em vitamina E.

Manteiga
Rica em ácidos graxos saturados. Ponto de fumaça baixo (150ºC) –não indicada para frituras. Possui algumas vitaminas, como A, por exemplo.

Azeite de oliva
Grande proporção de ácidos graxos monoinsaturados. Quando aquecido, pode perder parte das propriedades antioxidantes. Presença de Ômega 9 e compostos antioxidantes

Óleo de soja
Maior parte da composição é de ácidos graxos insaturados. Ponto de fumaça elevado (234ºC) –bom para frituras longas, de imersão. Costuma possuir custo baixo.

Óleo de girassol
Predominância de ácidos graxos insaturados. Ponto de fumaça elevado (209ºC) – bom para frituras longas, de imersão. Boa proporção de Ômega 9.

Óleo de canola
Proporção alta de ácidos graxos insaturados. Ponto de fumaça elevado (220ºC – 230ºC) –bom para frituras longas, de imersão. Presença de Ômega 3 e vitamina E.

(Fonte: Folha de São Paulo)