Número de casos de AIDS em jovens aumenta mais de 300% em Bento

2015-04-10_190211
Incidência de AIDS entre adolescentes é preocupante

O número de novos casos de Aids vêm diminuindo em diversos países, mas o Brasil parece andar na contramão dessa tendência, principalmente quando falamos de ocorrência entre jovens. Esses dados preocupantes constam no relatório anual do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS Brasil). E em Bento Gonçalves, segundo dados da Secretaria de Saúde, o crescimento na incidência da doença entre adolescentes é alarmante: 317,8%.
Para o enfermeiro sanitarista José da Rosa, que coordena o Serviço de Vigilância Epidemiológica do município, esses números mostram a importância de incentivar ações de conscientização para a prevenção da AIDS e de outras DSTs, ainda na juventude, através da educação sexual nas escolas. “É indispensável oportunizar aos alunos momentos de diálogo sobre a sexualidade, discutindo questões como: uso da camisinha, iniciação sexual, corpo humano, respeito à diversidade sexual, entre outros”, salienta.
Ele frisa ainda o papel importantíssimo da família nesse contexto, não só permitindo que os jovens tirem suas dúvidas, mas principalmente, abordando o assunto sem preconceitos. E ressalta. “Para tanto, é imprescindível que as escolas incluam na grade curricular temas relacionados à sexualidade e solicitem a cooperação dos pais para a participação nas suas atividades pedagógicas”.
O comportamento sexual dos jovens ainda é o principal motivo para esse aumento expressivo no número de casos de AIDS. Pietro B., de 19 anos, conta que escuta muitos amigos e conhecidos da sua faixa-etária falando que ninguém mais morre de AIDS. “Muitos não se dão conta da verdadeira gravidade da doença, eles não têm medo, não querem usar camisinha e acreditam que se acontecer, é só tomarem o remédio, que não é o fim do mundo”, relata.
Para o enfermeiro sanitarista, essa falta de conscientização só pode ser combatida com muita informação, muito diálogo e a intensificação de ações que permitam o esclarecimento de dúvidas. E novamente frisa o papel essencial dos pais e professores nesse processo. “Falar sobre AIDS e DSts, tanto em casa como na escola é importantíssimo. Não deve existir receio por parte da família nem dos educadores, porque a informação é um dos caminhos que levam à prevenção”, conclui.
Os dados apresentados acima foram elaborados pela Vigilância Epidemiológica da SMS, a partir da revisão histórica dos casos de AIDS residentes no município e ocorridos no período de 20 anos, compreendidos entre 1986 a 2015. As bases de dados são o Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação (SINAN), e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), gerenciados pela Vigilância Epidemiológica Municipal.

Números da AIDS no município

– Segundo dados do Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde – desde o início da epidemia da AIDS na década de 80 – o número de casos, bem como, a incidência da doença no município têm aumentado progressivamente.

Nos anos 80, quando foram confirmados os três primeiros casos da doença em Bento Gonçalves, a incidência era de apenas 1,1 casos para cada 100.000 habitantes, passando para 2,3/100.000 nos anos 90, para 24,4/100.000 nos anos 2000 e para 29,6/100.000 nos sete primeiros anos da década de 2010.
– Nos 20 anos que compreendem o período de 1986 a 2016 (até novembro), foram confirmados 481 casos novos de AIDS residentes no município.
– Com o natural crescimento da epidemia em todo o país, e com a qualificação do diagnóstico do vírus HIV e das notificações, o município viu o seu número de doentes passar de 24 casos ao ano, na década de 2000, para 31 casos ao ano, na década de 2010. Um aumento de 26,7%.
– Adultos jovens entre 20 a 39 anos de idade correspondem a 58,5% do total de casos em Bento Gonçalves.

Feminização da doença
Segundo a Secretaria de Saúde, a doença ainda afeta mais os homens do que as mulheres – 57,8% dos casos novos ocorrem no grupo masculino. Apesar disso, a taxa de mulheres doentes no município tem aumentado progressivamente nos últimos anos.

Na década de 90, existiam 28 homens para cada 10 mulheres com AIDS no município (razão de 2,8 homens para uma mulher). Nos quatro primeiros da década de 2010, a relação homem X mulher caiu para 11 homens para cada 10 mulheres doentes (razão de um homem para uma mulher), demonstrando a tendência de feminização da doença.

Os números mostram que a incidência feminina aumentou 46,8% nos últimos 16 anos. E esse quadro chama a atenção para a necessidade de maior conscientização das mulheres sobre os meios de prevenção da doença – principalmente, no que se refere ao uso de preservativo nas relações sexuais com os seus parceiros.

Principais formas de transmissão da AIDS:
– A grande maioria dos doentes declarou ser heterossexual (78,8%) e a minoria homo ou bissexual (8,5%).

– Os dados sugerem que a principal forma de transmissão do vírus HIV, entre os homens e as mulheres bento-gonçalvenses, seja as relações sexuais sem uso de preservativo (69,1% do total). Em 22,2% dos doentes a provável forma de infecção foi o uso drogas.

– A transmissão vertical (isto é, de mãe para filho) é a principal forma de infecção das crianças menores de 12 anos.

Mortes relacionadas à AIDS
– Apesar do aumento do número de casos de AIDS, o número de mortes pela doença vem caindo. A taxa de mortalidade por AIDS que era de 25% na década passada, atualmente é de 15,8%. Os homens morrem cerca de 2,7 vezes mais que as mulheres em virtude da doença.

Perfil do doente de AIDS em Bento Gonçalves
– Resumidamente, o perfil dos doentes de AIDS em Bento Gonçalves é caracterizado por homens heterossexuais entre 30 a 39 anos de idade que se infectaram através de relações sexuais sem uso de preservativo.