Não só as mulheres afegãs perdem direitos com o Talibã no poder

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Aqui no Brasil, onde está em vigor em pleno 2021 a absurda lei que a mulher tem que ter permissão do marido/pai para colocar um dispositivo para não engravidar ou fazer laqueadura ainda tem muitas batalhas para ganhar. A Mulher não pode esquecer que é a maioria da população e de votos e, que a decisão de escolher quem vai lhe representar ou defender seus diretos, está única e exclusivamente em suas mãos.

Com a volta do Talibã ao poder no Afeganistão – amplamente noticiado nos últimos dias – as mulheres mais uma vez perdem direitos e liberdades básicas. No Afeganistão pré-Talibã as mulheres podiam estudar e trabalhar. Hoje as escolas estão fechadas e o novo regime tirou os direitos das mulheres de ir e vir. Hoje temos vários vídeos que rodam na internet de mulheres sendo humilhadas, espancadas publicamente e assassinadas em plena rua, só porque ousaram estar na rua.

Nunca um pensamento da escritora francesa, filósofa existencialista, memorialista e feminista, Simone de Beauvoir (1908-1986) esteve tão atual: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.
Diante de nossos olhos estarrecidos desfilam inúmeras imagens de abuso extremo praticados por homens inseguros (sob o empoderamento do efeito manada) que, cometem os mais bárbaros crimes contra as mulheres, como se elas fossem alguma ameaça ao seu poder

Mas, o que isto tudo tem a ver com todas as mulheres do mundo? tudo!
A religião – indistintamente – sempre lutou para diminuir ou extinguir a participação da mulher. Muitos grupos (leia-se associações de toda ordem de homens de deus e outros sobre símbolos de carpinteiros e seus assemelhados) excluem a participação de mulheres.
Esquecendo que foram elas que lhes pariram, que lhes ensinaram, das quais dependem umbilicalmente.
Hoje, dolorosamente, as mulheres talibãs voltam à escravidão sexual, sem trabalho e sem direitos básicos.

Este grupo extremista, que hoje está no poder no Afeganistão, surgiu depois da década de 1990, quando ainda o Afeganistão era um país tão livre quanto os demais, com mulheres e homens roupas roupas que escolhiam vestir e não eram determinadas pelo grupo que se dá o direto de falar em nome de um deus. Na década de 80 (e foi ontem) as afegãs eram professoras, funcionárias públicas, tinham direito ao estudo e ocupavam 15% das cadeiras legislativas do país.
Tudo mudou quando, de 1996 a 2001, o grupo extremista, usando como base uma visão rigorosa da lei islâmica (o sharia), cortou direitos e liberdades principalmente, claro, das mulheres. A partir dali as mulheres não tinham o direito de fazer nada: nem estudar, nem se candidatar a cargos públicos, nem sair de casa sem a permissão do marido, nem trabalhar em empresas privadas, e deveriam se vestir da forma considerada adequada pelo governo – ou seja, com uma burca ou vestimenta similar que apenas deixassem os olhos de fora ( e às vezes nem isto).

O pânico, que o mundo todo assistiu atônito, das pessoas tentando fugir desesperadas, tem a ver com o fato de que durante o governo Talibã, as mulheres a partir de 12 anos foram proibidas de estudar e muitas escolas foram destruídas – além de muitas mulheres, mortas. Vale lembrar que, apesar de não ser afegã, mas paquistanesa, a ativista Malala foi vítima do talibã e levou um tiro no rosto quanto tentava ir à escola.

Os assustadores relatos da campanha de retorno ao Afeganistão, as ocupações talibãs exigiam listas com os nomes das mulheres com idade entre 15 e 45 anos para que fossem casadas com os guerrilheiros. Isso sem contar o histórico de transformá-las em escravas sexuais, uma alegação comum feita ao grupo extremista.

Apesar do Talebã anunciar – para conseguir apoio internacional ao golpe – que agora seria diferente e pedir que as mulheres colaborem com o novo governo, as imagens e vídeos de mulheres sendo assassinadas e humilhadas publicamente mostram exatamente ao contrário.

Perdas para todas

Cada vez que uma mulher perde o seu direito básico de ir e vir, todas perdem junto, infelizmente, e foi-se o tempo em que o que acontecia do outro lado do mundo ficava por lá. Hoje, com a internet, o acesso à informação em países democráticos e abertos e com as conversas cada vez mais comuns sobre mudanças estruturais na sociedade e no mundo em que vivemos, ignorar o perigo que essas mulheres correm há décadas, mas, especialmente, a partir de agora é colaborar para que a sensação de medo siga acompanhando até mesmo aquelas que têm os seus direitos garantidos.
O papel da religião

Todas igrejas no Brasil e no mundo – independente da “vertente”- têm como premissa não dar espaço para mulheres. É histórico e incontestável.

O Brasil, que assiste a crescente escalada de evangélicos na área política – e portanto com poderes de mudar leis ao seu interesse (como a absurda lei em vigor aqui no Brasil ,que a mulher ainda em 2021, tem que ter permissão do marido/pai para colocar um dispositivo para não engravidar ou fazer laqueadura) vê também crescer a falácia proferida pelo bispo evangélico Edir Macedo – que em 1996, ficou preso por apenas 11 dias acusado de charlatanismo e curanderismo, que rendeu um livro. Macedo prega que as suas filhas foram proibidas de cursar faculdade antes do casamento, com a justificativa que caso elas estudassem e fossem mais inteligentes que os homens, seriam ”cabeças” da família e o fracasso da união seria certo (!!!).Esta aberração – professada em tom particular- está sendo apregoada pela maioria dos pastores, incluindo os que não são da igreja do tal bispo.

 

Infiltrados em todas as esfera políticas, (municipal, estadual e federal) os que batem no peito e bradam as doutrinas de seu deus estão aumentando absurdamente, tanto que hoje, até para se candidatar a um comum cargo de conselheiro tutelar há a “necessidade” de haver uma “igreja” que lhe apoie.
Qual o preço disto? Uma moeda de muitas facetas, incluindo a servidão de mulheres, que aqui no Brasil têm uma régua para altura de saias e cabelos, para ficar em dois exemplos somente.

Não querendo personificar a culpa somente na igreja evangélica, a igreja católica, que se apoderou da imagem do messias, foi a pioneira em apagar os rastros da importância do papel das mulheres dentro da religião, desde os primórdios da criação do catolicismo.

Enfim, voltando à Simone de Beauvoir “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.
Estejamos sempre alertas e façamos do nosso voto um diferencial, afinal: somos a maioria da população, e por isto, somos o fiel da balança, somos nós quem decidimos qualquer eleição e não devemos nos deixar influenciar por absolutamente ninguém, dentro ou fora de nossa esfera familiar, social ou religiosa, sobre quem queremos que esteja no poder para nos representar e defender causas que nos interessem. E, antes de tudo, que não deixem que percamos o que outras mulheres já conquistaram com muitas lutas por nós.
Não precisamos ser Malalas, e muito menos levar um tiro na cabeça para conquistarmos o que é nosso de direto: o nosso espaço, as nossas decisões.
Não precisamos de ninguém para decidir por nós, quando o espaço da voz é nosso.