Na luta contra o machismo, mulheres conquistam espaço no mundo do esporte

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Rotulada de sexo frágil, a mulher conquistou um espaço especial na sociedade. Elas simplesmente invadiram os campos de futebol, as quadras, piscinas e todo complexo esportivo, onde antes, os homens eram maioria. Cada vez mais conquistando espaço as mulhrers hoje em dia brilham dentro e fora das quadras como campeãs e vencedoras de seus próprios limites, rompendo, os ainda existentes, preconceitos.
Não foi tão fácil conquistar esse espaço. Somente com o surgimento da industrialização e da era moderna é que as mulheres começaram a se organizar e a lutar por um espaço ao lado dos homens. Tiveram que passar por grandes esforços físicos, pois era de conceito geral a fragilidade do próprio corpo feminino e ainda quebrar a barreira que a principal tarefa da mulher era apenas a reprodução. Além disso, havia o medo do esporte masculinizar. Hoje temos presidentas de clubes, árbitras e jogadoras de futebol.

Machismo no jornalismo esportivo
As mulheres, que nas últimas décadas têm conquistado um espaço importante no mundo do esporte, ainda sofrem com o preconceito no mundo do futebol. Hoje é comum jornalistas mulheres trabalharem na área do esporte, seja como repórter de campo, narrando jogos ou até mesmo na função de comentaristas. A realidade do Brasil, no entanto, não é tão confortável. Recentemente a hashtag “Deixa Ela Trabalhar” reuniu jornalistas contra o assédio. Pelo menos 50 dessas profissionais se uniram na campanha. Através de um vídeo lançado nas redes sociais, as jornalistas relembram agressões que sofreram durante coberturas esportivas e fazem um apelo para que simplesmente possam trabalhar em paz.
No Brasil, o movimento ganhou as redes sociais no último mês, trazendo para discussão os episódios de assédio vividos por mulheres no jornalismo esportivo. A ideia surgiu com Bruna Dealtry, do “Esporte Interativo”, após ela ter sido beijada à força por um torcedor durante uma transmissão ao vivo, e ganhou representantes como Fernanda Gentil, Cris Dias e Carol Barcellos.
E, para a surpresa de ninguém, no mesmo dia em que a campanha foi lançada mais uma repórter foi vítima do machismo que assola os estádios brasileiros. Em Porto Alegre, Kelly Costa foi xingada por um torcedor, durante a partida São José x Brasil de Pelotas. O homem foi retirado do estádio por seguranças.
“Mesmo falando sobre isso, o assunto não se esgota. Já fui alvo de ofensas da torcida, sofri ato de machismo envolvendo técnico de futebol. A gente vê que se esse movimento envolvendo mais de 50 jornalistas é para mostrar nossa indignação. A gente não quer conviver com isso”, disse Kelly no programa Troca de Passes, do Sportv, após o episódio. Ela é uma das profissionais que lançou o manifesto.
Bruna comentou o episódio em entrevista ao Purepeople e disse que desde que começou a falar com colegas de profissão, foi ficando ciente de novos episódios de machismo. “Acontece de vários tipos: na redação, em colega de trabalho. Todas nós já sofremos nas redes sociais, porque as pessoas ficam mais corajosas para falar. Ao invés de falar da matéria, falam da nossa aparência… Tem assédio e machismo de diferentes formas. Sem falar na resistência que a gente encontra para entrar nesse meio. Os homens, assessores, jogadores, colegas de trabalho, tem muito mais dificuldade em confiar no nosso trabalho do que se fosse outro homem”, pondera.
A visibilidade do caso foi tamanha que ganhou repercussão internacional, a exemplo do episódio de assédio envolvendo o ator veterano José Mayer, em abril do ano passado. “Foi muito maior do que eu imaginava, rodou em todas as emissoras, acabei de dar entrevista para o ‘The Guardian’. Acho que estamos conseguindo levantar um debate saudável, educado, sobre um assunto para a gente aprender mais”, afirma Bruna, listando novas ações para o projeto: “Lançamos o primeiro vídeo, mas queremos fazer mais, talvez depoimentos, vídeos…”. Com palavras como sororidade e empoderamento ganhando cada vez mais força, ela vê o panorama atual como ideal para uma discussão mais abrangente: “As pessoas estão muito mais abertas para receber a informação que eu passei. Acho que estão muito mais conscientes e o momento é perfeito para a gente debater esse tema”.

A luta por trás da história
A história das mulheres no esporte começa nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, onde os homens competiam nus e as mulheres eram proibidas até de assistir às competições. A sentença das mulheres estava no primeiro item do regulamento olímpico, que proibia a participação de mulheres em qualquer modalidade. Na Grécia a lei de participação da mulher em esportes era tão rígida, que no regulamento dos jogos, artigo 5º, dizia que as mulheres casadas não podiam assistir as competições, com sanção de morte. Entretanto, uma mulher chamada Caripátida desobedeceu esta lei ao assistir a participação de seu filho, Psidoro, no pugilato, disfarçou-se de treinador colocando uma túnica e ingressou no local dos jogos. Psidoro venceu a competição e Caripátida acabou invadindo a arena para abraçar seu filho, e foi descoberta, porém por ser de família influente de esportistas campeões olímpicos, ela escapou da morte.
Após conquistar a Grécia, no período de domínio Romano, o imperador Teodósio, proibiu as práticas esportivas por considerá-las festas pagãs. As mulheres participavam como dançarinas ou acrobatas para divertimento de convidados, não tendo nenhum aspecto de caráter esportivo. Só a partir do Renascimento é que as mulheres foram liberadas a praticar algumas modalidades femininas. A mulher só consegue conquistar um espaço mais significativo no esporte após a mudança provocada pelas idéias dos filósofos humanistas. Elas só poderiam fazer ginástica, com objetivo se preparar para ter filhos.

Apesar de vários avanços, a participação efetiva do sexo feminino nos esportes competitivos aconteceu apenas nos Jogos Olímpicos de 1900. Onze mulheres foram até Paris, na França, para participar dos I Jogos Olímpicos da era Moderna. Uma das mulheres mais importantes para a inclusão feminina nas olimpíadas foi a francesa Alice Melliat, que através da Federação Esportiva Feminina Internacional, reivindicou, junto ao Comitê Olímpico Internacional a entrada efetiva do sexo feminino nas competições de atletismo e de outras modalidades nos Jogos Olímpicos.
Maria Lenk foi a primeira mulher sul- americana a participar das olimpíadas, ela tinha apenas 17 anos. Desde então, a participação feminina nos jogos cresceu constantemente, fazendo com que na maioria dos esportes sirvam para os dois sexos. O surgimento do fitness na década de 70 contribuiu na aceitação da força de músculos para as mulheres devido ao culto da beleza e juventude do corpo feminino.As mulheres conseguiram se destacar através das lutas contra os preconceitos na sociedade, e até mesmo em atividades onde homens predominavam no esporte.

Brasileiras no esporte
Na primeira metade do século XX o país não contava com um número significativo de mulheres praticantes de atividades físicas e esportivas de qualquer natureza.
A participação da mulher nos esportes e atividades físicas começa nos clubes na década de 20 através das jovens filhas de imigrantes europeus que já
apreciavam o valor do exercício, na importância da saúde física e incentivavam a prática das filhas. Pois o cenário sociocultural que o Brasil apresentava-se ainda era desfavorável para as mulheres.
A participação de Maria Lenk foi fundamental para história da natação feminina dentro do esporte brasileiro. Ela foi a primeira a representar o Brasil e a América do Sul nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, e ainda inovou com o estilo borboleta. A década de 1930 ainda é marcada pelo primeiro campeonato feminino de bola ao cesto (São Paulo), com as mesmas regras dos homens e duração de quatro períodos de dez minutos, vencido pelo City Bank Club.
Maria Esther Bueno foi um dos ícones e conquistou espaço esportivo internacional ao vencer o campeonato de Wimbledon de tênis em 1959, 1960 e 1965 na disputa individual e nas duplas em 1958, 1960, 1963, 1965 e 1966.
Nas olimpíadas de 1964 em Tóquio, Aída dos Santos, outro importante ícone na evolução feminina nos esportes, obteve a melhor participação brasileira em olimpíadas. Hortência do basquete, Marta (futebol), Sandra Pires (vôlei de praia), Fofão (vôlei de quadra) Maurren Maggi (atletismo), Fernanda Keller (triathlon), Daiane dos Santos (ginástica), Magic Paula (basquete) se destacam entre outros nomes de peso. Essas e muitas outras atletas venceram não só campeonatos e receberam títulos, mas o preconceito e o direito de viver com saúde praticando e adquirindo profissionalismo no mundo esportivo que é para todos.