Mudanças para uso de rotativo do cartão geram dúvidas

2015-04-10_190211

Alguns bancos já anunciaram as taxas de juros que vão oferecer, mas consumidores ainda avaliam os reais benefícios das medidas

Foram anunciadas novas regras para o uso do rotativo do cartão de crédito. As determinações do Banco Central que entram em vigor a partir de abril, e incluem uma mudança que gera algumas dúvidas entre os consumidores: quem optar por fazer o pagamento mínimo da fatura não poderá fazer essa opção por vários meses consecutivos.
Essas regras surgem como uma forma de desestimular o consumidor em relação ao uso do rotativo. Outro ponto é que a mudança também leva os bancos a oferecer soluções para parcelamento para o cartão de crédito, com juros mais em conta. No ano passado, a taxa do rotativo chegou a 484,6% ao ano, segundo dados do Banco Central.
Atualmente, para não ficar inadimplente, o consumidor precisa pagar pelo menos 15% do valor da fatura até o vencimento da fatura. O restante da dívida segue para o mês seguinte, e aí é que a situação complica: os juros aplicados são altíssimos.
No mês seguinte, o cliente está com a fatura na mão, e os valores (com o saldo da dívida do mês anterior) já contem o juro incluso. Se ele não conseguir pagar integralmente essa fatura, ele paga novamente o valor mínimo, e a situação se repete. Esse é o motivo pelo qual as pessoas se referem ao efeito “bola de neve” quando falam no uso do rotativo.

Como fica a situação depois das mudanças anunciadas
A partir de abril, com as alterações já em vigor, quem não conseguir pagar o valor total da fatura do cartão de crédito só poderá utilizar a possibilidade de pagamento mínimo de 15% apenas por um mês, não podendo repetir o processo na fatura seguinte. A partir daí, o banco é obrigado a oferecer uma linha de crédito para que o consumidor consiga parcelar a sua dívida.
O próximo passo é o cliente entrar em negociação com a instituição financeira a respeito de prazos e taxa de juros relativos à pendência. Até o momento, quatro dos grandes bancos do país já anunciaram as taxas que vão oferecer para seus clientes – menores do que aquelas aplicadas no cartão – variando de 1,99% a 9,99% ao mês.
Simplificando: ao invés de alongar a dívida fazendo o pagamento mínimo da fatura por vários meses consecutivos, o cliente assume um financiamento de sua pendência, com prazo específico e juros mais baixos. Na prática, é um modo de desestimular o uso do rotativo e evitar o tão temido efeito bola-de-neve.

Mudanças ainda geram dúvidas
Para a consumidora F. C. de 46 anos, a expectativa é de que a dívida do cartão, que ela já acumula há oito meses, seja zerada em breve. “O rotativo é uma alternativa tentadora, e quando o orçamento aperta, acabamos usando, não tem jeito. Agora, tenho esperança de conseguir resolver isso logo, com juros menores, mas ainda não sei como vai funcionar, na prática”, explica.
Ela acredita que as novas regras vão, de certo modo, defender o consumidor e evitar um pouco o descontrole financeiro, mas tem medo de que as medidas não tragam a solução que ela espera “Essas mudanças vão obrigar a gente a mudar, e isso é bom. Mas no fim das contas, não sei se vai ser tão vantajoso quanto eu espero. Ainda tenho muitas dúvidas, e isso me preocupa”, avalia.
Para Renato Zimmmermann, 48 anos, empresário e economista, os juros dos cartões de crédito são os mais elevados do mercado financeiro. E esse já é um bom motivo para as pessoas usarem o cartão com cautela. “O consumidor que entra nesta cilada, pagará juros de 14% ao mês que capitalizados anualmente chegarão a um número astronômico de 480%”.
Ele destaca ainda que no Brasil, existe uma generalizada falta de educação financeira e as pessoas acabam por utilizar equivocadamente os cartões de crédito para tentar empurrar uma situação financeira ruim para o mês seguinte. E ressalta. “Entendo que já é momento de quebrar este ciclo perigoso. O ideal mesmo é evitar o uso desenfreado e tentar equilibrar as contas”.
Muitos especialistas destacam que o financiamento por parte dos bancos ainda é uma alternativa cara e que, por isso, deve ser evitada pelo brasileiro. Para o economista, quem já sente dificuldade para fazer o pagamento mínimo também vai sentir o peso das parcelas do financiamento junto ao banco. “A melhor saída é, sem dúvida, tentar reorganizar o orçamento familiar, cortar gastos desnecessários e buscar instituições financeiras que ofereçam as melhores condições na hora de negociar dívidas”, enfatiza.