Mês de agosto tem somente 17 horas de frio, quando ideal deveria ser de 75 para uma boa safra de uvas

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O calor fora de época continua sendo crucial para definir a próxima safra da uva. Segundo o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Henrique Pessoa, até segunda-feira (28), foram registradas apenas 188 horas de frio (abaixo de 7,2°C), sendo que dessas, apenas 17 horas em agosto, quando o ideal deveria ser de 75 horas. “O normal seria em torno de 350 horas de frio, ou seja, há uma redução de 46% em agosto, quando teria que ter o somatório de 75 horas”, explica. “Se nós fizermos um comparativo com 28 de agosto de 2016, naquela ocasião já eram 519 horas de frio. Ou seja, teve redução de 64% de horas de frio”, avalia.
Segundo Pessoa, em função da restrição, muitas plantas anteciparam a brotação. Outras, podem apresentar falhas de brotação, ou seja, muitas gemas deixam de brotar. “Como regra, algumas pessoas vão ainda podar. Este ano o recomendado é a poda curta”, indica. De acordo com o pesquisador, a poda curta apresenta homogeneidade melhor, além de prever tratamento para indução de brotação.
Pessoa ainda ilustrou dois possíveis cenários para os três próximos meses. O primeiro, é o caso de não acontecer mais frio este ano. “Nesse caso, as plantas que já brotaram vão ter produção plena. Já as que ainda não brotaram, podem ter queda. Se forem bem manejadas, pode não haver problema”, pontua. Já o segundo é o de ocorrência de geadas tardias. “É preciso salientar que a geada não acontece de modo uniforme. Com o risco de ocorrer, essas brotações vão queimar”.
O prognóstico de setembro, outubro e novembro é de aproximadamente um aumento de 0,5ºC na temperatura média. Mas não se deve descartar a ocorrência de dias frios. Ainda, pode haver estiagem de 10 a 15% da frequência de chuvas.
 
Família Munari prevê boa safra
Rosane Munari Cristofoli, de 46 anos, mora com o pai Bruno, o marido Valdir, e a filha Luana em São Valentim, no interior de Tuiuty. A família tem videiras de Isabel precoce, comum, seibel (seibel Pica Longa) e Niágara. Com uma colheita de 150 mil kg de uva por ano, que vendem para cooperativas, Rosane projeta uma boa sofra, apesar de já ter brotação nos parreirais. “Pelo que a gente vê, este calor fora da época prejudica muito e algumas uvas já estão brotando. Mesmo assim, pelo que estamos vendo, vamos ter uma boa produção este ano”, conta.
A produtora se criou no interior, mas se mudou para a cidade. Há cinco, aposentada, voltou para ajudar o pai viúvo com a produção. “Amo morar aqui, a companhia das amigas, dos vizinho”. No entanto, lamenta o preço da uva. “O preço é um pouco baixo por tudo aquilo que o colono trabalha, das seis da manhã, até de noite. E no frio também é bem puxado, tem que amarrar, podar a parreira. A gente trabalhando na colônia dia-dia, sol, chuva, batalhando”, relata.
Para ela, o colono deveria ter melhores estradas, mais acesso à saúde e à sinal de serviço de internet e telefone. “Infelizmente, os filhos novos desanimam, vão embora, ganham as vezes um salário mais baixo, só pra não estar na agricultura”, diz. A filha Luana, de 9 anos, já diz que quer ser veterinária. “Seria importante que eles gostassem daqui, porque um dia vai ser deles”.
 
Amigas fazem quitutes e pretendem abrir empresa
Com quatro amigas, as também produtoras de uva, Maria Cristina Mena, Graziele Pelizzer, Sirlei Caminatti e Rozeleine Maria Zaleski, Rosane criou uma espécie de confraria há três anos. Elas se reúnem em encontros, onde cada uma faz algum quitute. “A gente faz os quitutes, é uma terapia. Depois a gente toma um café. Temos a ideia de começar um negócio, de expandir a produção”, enfatiza.
“Tudo começou numa amizade. A gente começou a fazer encontros de jantas, a se reunir, e então ficou esta turma aqui. Aí começou a aparecer os aniversários e ao invés de comprar as coisas, começamos a fazer em casa”, comenta. “Fazemos pasteis, coxinhas, trufas, docinhos de nozes, empadinhas, pizzas. Cada uma sabe fazer uma coisa”. Elas inclusive fazem em grande quantidade. Há duas semanas, para o aniversário de Luana foram dois mil salgados e doces. As amigas ainda decoraram a festa e tem um “dj” com aparelhagem de som que garante a diversão das comemorações: Valdir, o marido de Rose.
Todas as amigas ajudam na produção rural. Maria Cristina, “a mais da roça de todas” e o marido também plantam melão. Já Graziele e o esposo produzem mel. “Morei na cidade anos, mas há uns sete anos estou de volta. Gosto muito daqui, a gente tem o costume de descansar de meio-dia. Escutar o barulho dos passarinhos, o sol, o zunido das abelhas. Eu não trocaria mais aqui pela cidade”, conclui Graziele.
 
Como fazer a poda curta
Neste ciclo faz-se a desbrota retirada de folhas basais dos brotos com cachos (desfolha), e desponte terminal, quando as varas estiverem com cerca de 1,50 m a 1,60 m. Durante a desbrota deixa-se 60.000 brotos por hectare, objetivando-se, no final cerca de 50.000 a 55.000 varas por hectare.
Neste sistema, preconiza-se retirar todos cachos neste ciclo vegetativo, objetivando-se obtenção de varas com maior espessura para produção no ciclo de poda longa.
Caso o produtor decida por uma safra menor, deve deixar somente um cacho por broto, porque se deixar todos os cachos, a espessura dos ramos após o último cacho é reduzida ocasionando menor produção e tamanho de cachos no ciclo seguinte.