Mais de 140 alunos abandonam a escola em agosto

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No mesmo período do ano passado foram 139 alunos infrequentes. Os números deste ano já são considerados os piores desde 2012

 

A evasão escolar é um dos principais problemas da educação de Bento Gonçalves. Em entrevista exclusiva para a Gazeta, o conselheiro tutelar, Leonides Lavinicki afirma que agosto bateu o recorde de alunos que deixaram de frequentar escolas do município. Pelo menos 143 alunos deixaram de ir para a escola no último mês, sendo que a maioria é da faixa etária entre 15 a 17 anos. No ano todo já são 641 estudantes fora do ambiente escolar. Em agosto do ano passado foram 139 alunos infrequentes. Os números de agosto já são considerados os piores desde 2012. Os dados são da Ficha Comunicação de Aluno Infrequente (FICAI), divulgados pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul.
Os motivos para a infrequência são variados, expondo uma situação dramática no ensino da cidade. “A dificuldade de aprendizagem, reprovação, trabalho e falta de transporte são os motivos principais pela infrequência escolar. Falta de transporte é um dos principais e é um absurdo. É um motivo muito grave e a situação poderia ser revista. Reprovação e suspeita de negligência, tanto dos pais quanto do estado também são destaques negativos pelo abandono escolar”, afirma.
O agravante do ensino médio é destacado pelo conselheiro tutelar, que demonstra preocupação pela falta de preparação dos alunos. “O ensino médio é o que mais tem alunos infrequentes. Além de serem infrequentes eles também têm dificuldades de aprendizagem do português, de até mesmo formular uma frase”, lamenta. Lavinicki é enfático ao criticar a falta de investimento na educação por parte da prefeitura.
“Tem que ter projetos sociais principalmente de contra turno escolar, na área do esporte, música, dança. Só assim que se consegue combater a evasão escolar e consequentemente melhorar a segurança pública. Tem que parar de asfaltar rua e investir na criança e adolescente. O prefeito tem que fazer alguma coisa para fazer a busca ativa dos alunos que não estão indo para escola”, desabafa.
O esforço do Conselho Tutelar no combate à evasão também foi destacado por Lavinicki, que lamenta a falta de ajuda do poder público. “Conseguimos fazer com que 30% dos alunos infrequentes retornem à escola. No ano passado mais de 300 alunos retornaram através do conselho tutelar. Nós chamamos os pais e aplicamos as medidas pertinentes, medidas de proteção para que os alunos infrequentes tenham direito a educação. Eles são obrigados a mandar os filhos para a escola. São medidas por escrito e os pais assinam. Eles retornam, o restante que não retorna encaminhamos para o Ministério Público e eles fazem a parte deles”, explica.

Consequências futuras
O conselheiro tutelar ressalta ainda que a falta de investimento na educação pode ser um agravante na segurança pública. Para ele, alunos que hoje abandonam o ambiente escolar têm grandes chances de ingressarem na criminalidade. “Cidades que tem o índice de frequência maior de Bento se desenvolvem melhor em outros aspectos. É um número muito alto de alunos que deixam de ir para aula. Vamos ter dificuldade de ter mão de obra qualificada no futuro. O aluno deixa de ir para escola e parte para o crime”, alerta.
Ainda segundo o conselheiro tutelar, Carlos Barbosa, Veranópolis e Nova Prata são exemplos de municípios que melhor investem em educação, comparando com Bento.

Bento entre as cidades com mais evasão
Em julho a gazeta havia abordado o tema da evasão com o próprio Lavinicki. Foi lembrado que no ano passado, 976 alunos entre 4 e 17 anos deixaram de frequentar a escola em Bento Gonçalves. Desses, 560 eram da rede estadual, 415 da municipal e apenas um da particular. Os dados da Ficha Comunicação de Aluno Infrequente (FICAI), divulgados pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, colocam o município na décima posição estadual, na frente de cidades com maior número de habitantes, como Sapucaia do Sul (11°-974), Cachoeirinha (12°-957), Uruguaiana (13°-948), Santa Maria (15°-622), São Leopoldo (19°-542) e Santa Cruz do Sul (22°-508).

Ensino Médio tem pequeno avanço, mas segue abaixo da meta
A evasão escolar em escolas de Bento Gonçalves e a preocupação com o grande número de abandono por parte de alunos do Ensino Médio expõe um problema nacional. Nesta segunda-feira, dia 3, foi divulgado a meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estabelecida para 2017, sendo constatado que foi cumprida apenas nos anos iniciais do ensino fundamental, etapa que vai do 1º ao 5º ano. A etapa alcançou 5,8 (em uma escala que vai de 0 a 10), quando a meta estipulada era de 5,5.
No ensino médio, etapa mais crítica, o índice avançou 0,1 ponto, após ficar estagnado por três divulgações seguidas, chegando a 3,8. A meta para 2017 era 4,7.
Nos anos finais do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, a meta foi descumprida pela primeira vez em 2013 e não atingiu mais o esperado. Em 2017, com Ideb 4,7, o país não alcançou os 5 pontos esperados.
“Apesar do crescimento observado, o país está distante da meta projetada”, avalia o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Ideb.
Divulgado nesta terça-feira,3, pelo Ministério da Educação (MEC), o Ideb é o principal indicador de qualidade da educação brasileira. O índice avalia o ensino fundamental e médio no país, com base em dados sobre aprovação nas escolas e desempenho dos estudantes no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). O resultado do Saeb foi divulgado na semana passada pelo MEC.
Desde a criação do indicador, em 2007, foram estabelecidas diferentes metas (nacional, estadual, municipal e por escola) que devem ser atingidas a cada dois anos, quando o Ideb é calculado. O índice vai de 0 a 10. A meta para o Brasil é alcançar a média 6 até 2021, patamar educacional correspondente ao de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nos estados
O ensino médio é a etapa mais crítica, com a meta descumprida em todos os estados. Além de não terem alcançado o índice esperado, cinco estados tiveram redução no valor do Ideb entre 2015 e 2017: Amazonas, Roraima, Amapá, Bahia e Rio de Janeiro. O estado com melhor Ideb, o Espírito Santo, obteve 4,4 pontos, não atingindo a meta de 5,1 para o estado.
Nos anos finais do ensino fundamental, sete estados alcançaram ou superaram a meta proposta para 2017: Rondônia, Amazonas, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Mato Grosso e Goiás. A situação melhorou em relação a 2015, quando cinco estados alcançaram a meta. No ano passado, Alagoas e Rondônia somaram-se à lista. Minas Gerais foi o único estado que teve queda do Ideb na etapa de ensino em 2017.
Já nos anos iniciais do ensino fundamental, apenas os estados do Amapá, Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul não alcançaram as metas para 2017. Oito unidades federativas alcançaram Ideb igual ou maior que 6: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Ceará, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Distrito Federal. Na etapa, a maior diferença positiva em relação à meta ocorreu no Ceará que, com um Ideb 6,2, superou a meta 4,8 para o estado em 1,4 ponto.
Na análise do Inep, os números mostram avanços importantes, sobretudo nos anos iniciais do ensino fundamental, mas também, algumas preocupações que precisarão ser discutidas no âmbito das escolas.

Maioria no ensino médio não aprende o básico de português e matemática
Cerca de 70% dos estudantes que concluíram o ensino médio no país apresentaram resultados considerados insuficientes em matemática. A mesma porcentagem não aprendeu nem mesmo o considerado básico em português. Os dados são do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), apresentados no último dia 30 pelo Ministério da Educação (MEC).
Em português, os estudantes alcançaram, em média, 268 pontos, o que coloca o país no nível 2, em uma escala que vai de 0 a 8. Até o nível 3, o aprendizado é considerado insuficiente pelo MEC. A partir do nível 4, o aprendizado é considerado básico e, do nível 7, adequado. Na prática, isso significa que os brasileiros deixam a escola provavelmente sem conseguir reconhecer o tema de uma crônica ou identificar a informação principal em uma reportagem.
Em matemática, os estudantes alcançaram, em média, 270 pontos, o que coloca o país no nível 2, de uma escala que vai de 0 a 10, e segue a mesma classificação em língua portuguesa. A maior parte dos estudantes do país não é capaz, por exemplo, de resolver problemas utilizando soma, subtração, multiplicação e divisão.

Desigualdades
Na média, 43 pontos separam os estudantes que pertencem ao grupo dos 20% com o mais alto nível socioeconômico dos 20% do nível mais baixo, em português, no país. A diferença, coloca os mais ricos no nível 3 de aprendizagem, enquanto os mais pobres ficam no nível 2. Embora mais alto, o nível 3 ainda é considerado insuficiente pelo MEC. Em matemática, a diferença entre os dois grupos é ainda maior, de 52 pontos. Enquanto os mais pobres estão no nível 2, os mais ricos estão no nível 4, considerado básico.

Ministério da Educação
Na avaliação do MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela avaliação, os resultados de aprendizagem dos estudantes brasileiros “são absolutamente preocupantes”.
No ensino médio, o país encontra-se praticamente estagnado desde 2009. “A baixa qualidade, em média, do Ensino Médio brasileiro prejudica a formação dos estudantes para o mundo do trabalho e, consequentemente, atrasa o desenvolvimento social e econômico do Brasil”, diz a pasta.
Os resultados são do Saeb, aplicado em 2017 aos estudantes do último ano do ensino médio. Pela primeira vez a avaliação foi oferecida a todos os estudantes das escolas públicas e não apenas a um grupo de escolas, como era feito até então. Cerca de 70% dos estudantes participaram das provas. Nas escolas particulares, a avaliação seguiu sendo feita de forma amostral. Aquelas que desejassem também podiam se voluntariar, mas os resultados não foram incluídos nas divulgações.