Mãe de criança com autismo rebate declarações da 16ª CRE e aciona a justiça

2015-04-10_190211
Criança de dez anos portadora do autismo estuda há três anos na escola José Farina

Secretaria da educação afirma que criança não é medicada pelos pais e que precisa de atendimento especial, mas mãe do menor diz que declarações são mentirosas 

Nos últimos dias o caso envolvendo uma criança de dez anos com autismo dividiu opiniões. O menino cursa a 4ª série da escola Estadual de Ensino Fundamental José Farina e por supostamente ser um aluno agitado ­- conforme relata a assessora pedagógica da 16ª Coordenadoria Regional de Educação, Rosane Aparecida Borges Machado – não estaria apto para estar numa sala de aula convencioal.
A equipe de reportagem da Gazeta conversou com as assessoras pedagógicas Rosane e Anaci Maria. Na explicação das profissionais, o menino estuda há três anos na escola, após sair de um educandário da rede particular. Os pais do menino, nas palavras de Rosane, não aceitam a condição do filho, não medicando e negando o fato de ter autismo.
“Desde o começo do ano a escola verificou que o aluno teria mais dificuldade. Ele tem necessidades e manifestações conforme a deficiência, gritando, cantando e interrompendo a aula”, afirma. Foi por conta do mau comportamento que a 16ª CRE diz que o correto é que o menor tenha um atendimento especial. A proposta da secretaria é que a criança ficasse em sala de aula até às 10 horas, e após esse horário recebesse um atendimento especial, em particular.
“Propomos que o menino ficasse em sala de aula das 7h30 às 10 horas, e após esse horário iríamos disponibilizar uma professora especializada para atendê-lo. A ideia era trabalhar por 30 dias dessa forma e solicitamos se os pais aceitavam buscar a criança no horário do intervalo para verificar a real situação e necessidade”, explica.
Segundo a secretária, a mãe não aceitou a proposta por achar que o filho tem o direito de ficar em sala de aula todo o tempo. “Numa assembléia de pais que a mãe não foi, houve relatos de que a criança prejudicava o andamento das aulas”, afirma Rosane.
A secretária acusa ainda a mãe de deixar o próprio filho sem a medicação para o tratamento contra o autismo. “A medicação não tem uma sequência. A escola observou que ele vinha muito agitado. A familia reluta muito com a medicação. ele ficou sem o remédio em dezembro, janeiro e fevereiro”, afirma.
Rosane e Anaci afirmam ainda que na última semana o pai da criança esteve na 16ª CRE e quase teria as agredido. “O marido entrou furioso, gritando e só não me bateu porque tinha mais gente na sala. Ele ficou uma hora aos gritos, foi grosseiro”, conta.

Mãe rebate 16ª CRE
As afirmações das secretárias são rechaçadas pela mãe da criança, que sem se identificar, ela diz que as declarações se tratam de inverdades. Ela conta que o filho foi diagnosticado com o transtorno aos quatro anos de idade, e que desde então é medicado.
“Ele faz uso de medicação prescrito pela psiquiátrica, que é para ajudar na prática pedagógica e é considerado um nível de autismo leve.”, diz. A mãe, que defende o filho, é enfática ao se posicionar. Segundo ela a medicação é somente para o foco pedagógico. “Nas férias ele não precisa fazer uso. Eu faço a compra do medicamento desde 2014 sempre por cartão de crédito e toda vez o cpf é acionado no governo”, afirma.
A indignação da família é pelo fato da 16ª CRE tentar forçar os pais, nas palavras da mãe, de buscar o filho na escola depois das 10 horas. Ela conta que no dia que esteve na na secretaria, foi avisada que o seu filho não pdoeria ficar em sala de aula depois das 10 horas. “As secretárias fizeram uma ata dizendo que a partir do dia 3 de abril o meu filho poderia ficar somente na escola das 7h30 as 9h30 em sala e participar do recreio. Caso eu não fosse buscá-lo, elas iriam acionar o conselho tutela para buscá-lo e conduzir até a residência”, lembra.
A mãe afirma que a criança não é agitada e que todos na escola gostam dele. “Ele é calmo, uma criança tranquila. A professora desse ano não está muito preparada para um aluno com inclusão. Na primeira semana ele voltou sem conteúdo no caderno. O meu filho escreve, mas não lê, é a particularidade do quadro de doença, mas copia tudo do quadro, só que a professora não espera ele terminar de copiar”, se emociona.
Ainda segundo a mãe, não houve entendimento entre ela e as secretárias, que no seu entender, não tiveram compostura para lidar com a situação. “Foi humilhada, chorei muito, fiquei muito nervosa e liguei para o meu esposo. Ele chegou assustado e pediu o que tinha acontecido, mas elas não queriam explicar. Tudo que elas falaram de tentativa de agressão é mentira”, desabafa.

O caso na justiça
A família acionou a justiça, e entrou com um processo contra o estado e a Coordenadoria de Educação por abandono e danos morais, por querer mandar o menino para casa. O caso entrou na vara da infância e juventude e está sob responsabilidade do juíz.
A mãe confirma que não cogita em tirar a criança da instituição. “Não vou tirá-lo da escola porque o meu filho tem direitos e o espaço dele está garantido em sala de aula. Ele vai ficar das 7h30 às 11h30”, garante.