Índices de cesarianas caem em Bento

2015-04-10_190211

A taxa, que vinha aumentando progressivamente, teve sua primeira queda em anos. Dados condizem com os índices nacionais, que também apontam decréscimo

Uma boa notícia chega com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde na última semana: é a primeira vez, desde 2010, que os números de cesarianas caem no país. Apesar de tímido ainda, o índice de decréscimo de 1,5 pontos percentuais em 2015 mostra um avanço nessa questão. Aqui em Bento Gonçalves – segundo informações da Secretaria de Saúde – dados parciais também apontam a primeira tendência à queda nos últimos dois anos, passando de 70,1% (2014) para 56,9% (2016).
Segundo o enfermeiro sanitarista José Antônio R. Rosa – Coordenador da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde – entre os partos realizados pelos convênios de saúde Não-SUS, 88,4% são cesarianos. Já nos procedimentos pelo SUS, essa taxa é de 44,5%. “Esses dados deixam visível a questão do poder aquisitivo interferir de forma expressiva nos resultados das pesquisas relativas ao assunto”, explica.
O coordenador ressalta ainda que nas últimas duas décadas, as cesarianas vinham aumentado em todas as faixas etárias maternas. “Em 1999, por exemplo, do total de partos registrados entre mulheres menores de 15 anos, 23,1% foram cesarianas. Esse número passou para 40,0%, em 2014. E entre as mulheres com 40 anos ou mais, o índice saltou de 48,7% (1999) para 90,0% (2014)”.
Ainda de acordo José Rosa, é importante observar que as faixas-etárias citadas funcionam como indicadores. “Em geral, quando o primeiro parto de uma mulher é cesáreo, os seguintes tendem a ser também. E ele chama a atenção para o fato de que, apesar do decréscimo percebido nos últimos dois anos, as taxas no país e no município ainda estão muito acima daquelas preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – ou seja, 15% do total de partos.
Por essa razão, José Rosa considera fundamental que as equipes dos hospitais-maternidade adotem medidas para reduzir continuamente seus índices de cesarianas. “Como por exemplo, vigilância periódica dos números de cesarianas, supervisão nas condutas médicas sobre a indicação das cesarianas, revisão dos conceitos sobre sofrimento fetal e incentivos internos para a realização do parto vaginal.

Taxas ainda são consideradas muito altas pela OMS
O enfermeiro sanitarista destaca que segundo a Organização Mundial de Saúde, não existem evidências que justifiquem, em qualquer população, taxas de cesariana superiores a 15%. “A despeito desta recomendação, o aumento das taxas de cesariana tem sido identificado em vários países, mais notadamente, em relação às cesáreas eletivas”.
Ele explica que esse fenômeno tem sido descrito por alguns pesquisadores, como uma “pandemia de cesarianas desnecessárias”, ou como “cultura da cesárea”, não estando relacionado a mudanças no risco obstétrico, e, sim, a fatores socioeconômicos e culturais.
Outro ponto importante apontado pelo coordenador é que alguns estudos mostram que 53,5% das mulheres que fizeram parto cesáreo agendaram o procedimento com antecedência, ainda no período pré-natal. ”O uso da cesariana, além do limite dos seus benefícios, incrementa a morbidade e os custos, transformando a solução em problema”. E completa. “As cesarianas primárias têm sido associadas a um risco quatro vezes maior de morte materna do que o parto vaginal, enquanto nas cesarianas secundárias estes riscos são 10 vezes maiores”.
José Rosa ressalta também que a infecção puerperal ocorre 5 a 10 vezes mais na cesariana do que no parto vaginal não complicado. “Além disso criança nascida por cesariana pode apresentar retardo da reabsorção do fluido pulmonar e demonstrar dificuldades respiratórias” conclui.
**Os dados sobre a natalidade apresentados a seguir referem-se aos nascimentos vivos residentes em Bento Gonçalves, e foram extraídos do Sistema de Informação sobre Nascimentos gerenciado pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde.

Saiba mais:

-No último dia 10, o governo anunciou novas diretrizes de assistência ao parto normal, que servirão de consulta para profissionais de saúde e gestantes. Segundo o Ministério da Saúde, a partir de agora, toda mulher terá direito de definir o seu plano de parto, que trará informações como o local onde será feito, as orientações e os benefícios do parto normal.

-As medidas anunciadas, segundo o ministério, visam ao respeito no acolhimento e mais informações para o empoderamento da mulher no processo de decisão ao qual tem direito. E assim o parto deixa de ser tratado como um conjunto de técnicas e representa momento fundamental entre mãe e filho.

-Em 2016, o governo publicou o Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para Cesariana com parâmetros que devem ser seguidos pelos serviços de saúde. A proposta é auxiliar e orientar profissionais da saúde a diminuir o número de cesarianas desnecessárias, já que o procedimento, quando não indicado corretamente, traz riscos como o aumento da probabilidade de surgimento de problemas respiratórios para o recém-nascido e grande risco de morte materna e infantil.