Homens usam saia cada vez mais, mas ainda precisam adaptar os modelos

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No último ano o ator norte-americano Jaden Smith lançou uma marca de roupa unissex que vai comercializar saias para o público masculino

Artistas consagrados aderem ao estilo “sem gênero”, e ajudam a desconstruir ideia que saia ou vestido devem ser usados apenas por mulheres

Ver homens de saia pelas ruas não é mais tão incomum, mas eles ainda têm que se desdobrar para manter o estilo e encontrar modelos que adaptem melhor ao corpo. No último ano o ator norte-americano Jaden Smith lançou uma marca de roupa unissex que vai comercializar saias para o público masculino, a MSFTSrep. No Brasil, iniciativas como essa ainda são tímidas, o que abre um nicho de mercado para investidores antenados, pois cada vez mais homens buscam a peça.
Um exemplo é o músico Sânzio Brandão, de 42 anos. A primeira vez que ele usou uma saia foi em 2000, no lançamento de um disco da banda Cálix, da qual é integrante. “Um estilista fez roupas especiais para a banda toda. Como disse que queria algo como um guerreiro medieval ele desenhou uma saia. Fiquei surpreso mas encarei”, rememora ele, que subiu ao palco de saia muitas outras vezes e hoje tem uma pequena coleção de sete peças. “A segunda saia foi feita de um pano que achei legal e fiz bem parecido com um kilt (vestimenta escocesa). Vou garimpando em lojas. Mas acaba sendo modelos femininos mesmo. Tenho mais saias que a minha esposa”, brinca.

Origem
O músico comenta que nunca sofreu com nenhuma reação negativa. “Homens em geral comentam que sou corajoso por usar uma peça tradicionalmente feminina. Já as mulheres comentam que o visual remete aos homens da idade média ou samurais”, conta ele, que compartilha dessa visão.
Historicamente, as saias foram usadas por homens da Antiguidade até a Revolução Industrial. “Elas eram comuns no Antigo Egito, foram usadas pelos gladiadores de Roma e pelos samurais. Até hoje fazem parte da indumentária tradicional dos escoceses, que usam o kilt. A própria sandália gladiadora que hoje as mulheres usam era do vestuário masculino”, defende.

Uma peça como outra
Há 14 anos o também músico Emílio Dragão, de 32, utiliza saia em ocasiões especiais. “Aos 18 anos fiz um mochilão pela Bahia. Por causa do calor peguei uma canga e fiz de saia a viagem toda”, lembra o rapaz, que desde então integrou a peça ao seu guarda-roupa. “Para mim ela é uma peça como outra qualquer. Uso saia como uso uma calça”.
Com duas peças no armário – uma foi presente da esposa –, Emílio vai com elas a diferentes lugares. “Já fui em um casamento de saia e muita gente torceu o nariz para mim. Mas não me incomodo com isso”, garante.
Quem compartilha da visão de Emílio é o arquiteto Gustavo Paiva, de 28 anos. “Não faço distinção do que é de homem ou de mulher. Se é confortável, eu uso”, simplifica. Para ele os homens têm poucas opções na hora de se vestir. “É difícil achar peças diferentes para os homens. São sempre as mesmas coisas”, exclama ele, que customiza suas peças ou compra em sites do exterior.

Famosos também aderem, mas peça ainda é alvo de preconceito
O fato de homens usarem saia ainda incomoda muita gente pelas ruas. No final do mês de julho, um jovem de 23 anos foi agredido no centro de BH por este motivo. Em resposta, o movimento “Nem Rosa Nem Azul”, liderado por 28 artistas da cidade, organizou o evento “#SaiaPraRua” na Praça da Liberdade, que reuniu dezenas de pessoas no último sábado de agosto.
O músico e articulador cultural Carlos Linhares, do grupo Nem Secos, compôs a música “Saiaço” que circulou nas redes sociais para chamar para o evento. “Infelizmente esse não foi o primeiro caso. A cada dia cresce a intolerância e não podemos deixar isso passar para outras gerações. Fazemos eventos para celebrar a diversidade e refletir”, elucida Linhares.
Para ele essa situação é reflexo da opressão que cerca a figura feminina. “O papel do homem é limitado e qualquer movimento em direção ao que possa ser considerado feminino é visto como algo que o denigre. Isso consagra uma visão que o feminino é inferior. Traduzindo nas diversas formas de opressão da mulher e limitando o espaço dos homens se expressarem”, avalia.
Linhares diz que muitos dos passantes apoiaram o movimento durante o “saiaço” na última semana. “Teve muita gente que xingou e olhou torto para nós. Mas nos surpreendemos com a quantidade de gente que parou e deu apoio aos participantes”, relata o músico, que está finalizando um clipe da música com imagens do bloco-performance #SaiaPraRua.
O “saiaço” na Praça da Liberdade foi a segunda manifestação em repúdio ao caso do jovem agredido. Em julho, o grupo foi, usando saia, para a esquina da rua da Bahia com avenida Augusto de Lima, local onde ocorreu o fato.