Falta de atenção e hábito elevam chances de acidentes com máquinas ágricolas

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A morte do agricultor Ivo João Tasca, de 69 anos, que foi encontrado no início do mês por familiares embaixo de um trator, na Linha Santo Isidoro, em Monte de Belo do Sul, reacende uma questão muito importante nos meios rurais: a segurança com equipamentos de trabalho.
O Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (CEREST-Serra) divulgou que já foram contabilizados no primeiro semestre de 2017, 43 acidentes relacionados à máquinas agrícolas na regisão. Em 2016, foram 40 em todo o ano.

De acordo com o técnico em segurança do trabalho da Embrapa Uva e Vinho, Ildomar Engroff dos Santos, o número é considerado elevado, no entanto não há como precisar a causa exata. “Podemos dizer que é uma soma de fatores, a questão do fator humano, do relevo, da topografia da nossa região. Os agricultores têm muita dificuldade porque os terrenos são acentuados. Mas dizer o que contribui é difícil, porque teria que fazer uma investigação de cada caso”, analisa.
Para ele, o excesso de confiança eleva a incidência dos acidentes. “As pessoas aprendem com seus pais, e vão dando sequência. Mas hoje possuímos acesso à informação. Um exemplo é o Senar-RS, que oferta inclusive cursos para operador de trator”, cita. “É o pensamento do ‘aprendi com meu pai, meu tio, meu avô, porque eu vou fazer um curso para operar trator, se eu já sei’, mas isso evitaria o pior”, comenta.
Segundo Santos, os acidentes com máquinas agrícolas podem ser comparados aos acidentes de trânsito. “Hoje não espanta mais um acidente, quantas pessoas morrem diariamente em acidente de trânsito? As pessoas perderam o medo e acredito que isso seja preocupante, porque no momento em que as pessoas perdem o medo e o receio, os acidentes aumentam estatisticamente”, pondera. “No meio rural, as pessoas perderam o medo de manusear aquela máquina, de trabalhar com ela e isso faz com que elas em algum momento ou outro, por desatenção ou pela rotina de trabalho, acabe se acidentando”, pontua.
O técnico relata que nesta época do ano a atividade dos agricultores é intesificada nos parreirais, com mais tratamento, exigindo um cumprimento de prazos em menos tempo, que pode acarretar problemas com a segurança.

Conhecer bem a máquina
Santos indica que o produtor conheça bem a máquina que vai trabalhar, desde o momento da compra. “Outro problema que temos é que é previsto que o trator saia da fábrica com o sistema de anticapotamento, mas a questão é: em nosso parreiras, é possível utilizar esse sistema?”, questiona, “se nosso parreiral é de 1,60m de altura, a máquina não vai passar lá, então o pessoal acaba retirando o sistema que previniria o acidente”. O técnico sita ainda as normativas de segurança que preveem outras proteções, como o cinto de segurança.
Ele orienta a consultar a capacidade de trabalho da máquina, inclusive em relação ao pulverizador. E a manutenção deve ser vista como essencial, com pneus calibrados. “É necessário perguntar, ‘será que o pneu vai aguentar trabalhar naquele terreno acidentado?’”, indica.

Conscientização
O técnico da Embrapa registra que, apesar do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prever que o condutor do trator tenha habilitação categoria B e que o Ministério do Trabalho exija a capacitação mínima de 20 horas para conduzir a máquina, os acidentes são comuns porque muitos trabalhadores estão em meio familiares e não têm fiscalização.
Para ele, um dos meios de evitar isso seria campanhas de conscientização.
“A Embrapa não tem trabalho direto nesse sentido, mas os técnicos orientam nos dias de campo”. Outra questão que a Embrapa trabalha com os produtores é o uso do agrotóxico, para ter conhecimento do que está utilizando, para que eles sigam corretamente a bula, a receita.