Evento apresenta uvas de mesa desenvolvidas pela Embrapa a produtores Brasileiros

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Mais de cem pessoas estieram na Embrapa Uva e Vinho para apresentação de resultados do Programa de Melhoramento Genético “Uvas do Brasil”, para a Serra Gaúcha. Variedades do Grupo Itália. As cultivares de uva de mesa, BRS Vitória, BRS Isis e BRS Melodia, que estão em domínio público, cultivadas a partir de material propagativo mais sadio, disponibilizado pelo Programa de Qualidade de Mudas também foram apresentadas ao público. Os participantes foram divididos em quatro grupos e puderam conhecer as uvas no parreiral modelo, além de esclarecer dúvidas sobre a implantação do vinhedo; o sistema de condução; o manejo recomendado, os cuidados e as características de cada uma das cultivares. Também foi abordada a importância do uso de mudas de qualidade e com sanidade superior. Ao final, as uvas das variedades apresentadas puderam ser degustadas pelos participantes.

Um dos grupos foi dirigido por Daniel Grohs que ressaltou: “o sucesso de um parreiral, com boa produção de uvas, começa com uma muda de qualidade, que poderá ser adquirida num viveirista ou produzida na propriedade, desde que seguidas algumas condições técnicas”. Essa é uma das orientações que o engenheiro agrônomo da Embrapa Uva e Vinho, Daniel Grohs, coordenador do Programa “Mudas de Qualidade Superior”, procurou passar para o público do evento. Além de disponibilizar as plantas matrizes aos viveiristas, a equipe do Programa realiza capacitações e orientações técnicas para a reestruturação das instalações e processos de produção, repassando aos viveiristas credenciados as melhores tecnologias existentes para obtenção de mudas de qualidade.

Roque Zílio, técnico da Embrapa Uva e Vinho que trabalha há mais de 25 anos no Programa de Melhoramento “Uvas do Brasil”, apresentou o manejo recomendado para a BRS Vitória, desde a condução do vinhedo, o espaçamento, tipo de porta-enxerto, o sistema de condução, o manejo da copa, o manejo dos cachos. Também foram abordadas questões de fitossanidade e a preocupação com determinadas doenças, como o oídio, que é a principal doença em sistemas de cobertura plástica. Produtos recomendados na produção de uvas de mesa e os detalhes para o manejo adequado de cachos, recomendados para a BRS Vitória, como a quantidade de baga por cacho, o número de cachos por ramos e o tamanho do cacho também foram tratados. Durante a exposição, um dos participantes, um produtor de Marau, RS, mostrou um jornal com uma publicação sobre a uva que ele cultiva naquela região. Ele relatou que seguiu todas as orientações e teve sucesso: “se o grupo seguir as orientações que a Embrapa repassa, todos vão ter sucesso com a produção dessa uva”. Roque enfatiza: “na dúvida, sempre procurem a Embrapa; ouvir outras pessoas sobre o que fazer, pode causar um insucesso na cultura”.

A pesquisadora e coordenadora do Programa de Melhoramento Genético Uvas do Brasil, Patrícia Ritschel trouxe informações sobre a BRS Isis que, por ser uma variedade tardia, ainda não havia atingido o ponto de colheita. Foi abordado o conjunto de recomendações para o cultivo desta variedade, desenvolvido especialmente para as condições da Serra Gaúcha, destacando-se a necessidade de controle da forte dominância apical durante a formação do vinhedo; o controle da carga; e o manejo de cachos, todos bem específicos para a cultivar. Em se tratando de uma variedade com alta produtividade, foi enfatizada a necessidade de se fazer o desbaste de cachos, deixando-se dois cachos por ramos. Além disso, o bom tamanho natural de bagas da BRS Isis dispensa a aplicação da giberelina para crescimento de bagas. “Seguindo as recomendações da Embrapa, o viticultor pode atingir uma produtividade de cerca de 25-30 t/ha de uvas sadias e saborosas” comentou a pesquisadora.

O pesquisador João Dimas Garcia Maia foi responsável pela apresentação da BRS Melodia e comenta: “Essa cultivar rosada sem sementes atende a demanda dos viticultores da Serra Gaúcha, que não conseguiam produzir a cultivar importada Crimson Seedless”. A nova cultivar, lançada em 2019, apresenta alta fertilidade de gemas, sendo fundamental adotar uma série de práticas para melhorar a qualidade das uvas, começando com a desbrota para o controle de carga, deixando-se cerca de 40 a 45 cachos por planta. Na sequência, recomenda-se alongar a inflorescência, despontar o cacho para uniformização do tamanho e fazer o raleio de bagas. Para aumento e padronização do tamanho das bagas recomenda-se a aplicação de giberelina e para a uniformização da expressão da cor rosada, o uso do ácido abscísico.

As cultivares da Embrapa
BRS Isis – A BRS Isis é uma cultivar de uva sem sementes, de cor vermelha, sabor neutro e agradável. É uma alternativa para várias regiões brasileiras desde o Nordeste do país, onde se cultivam áreas maiores, muitas vezes em condições empresariais, até as áreas de agricultura familiar do Rio Grande do Sul. A BRS Isis é bastante vigorosa e a produtividade pode atingir 25-30 t/ha nas condições da Serra Gaúcha A cultivar é tolerante ao míldio, reduzindo os custos financeiros e ambientais derivados dos tratamentos fitossanitários.
BRS Melodia – A BRS Melodia foi desenvolvida para consumo in natura, e se destaca pelo sabor de mix de frutas vermelhas. É uma uva crocante e de casca fina, fácil de mastigar, que se adaptou muito bem à Serra Gaúcha, no sistema de cultivo protegido sob cobertura plástica. A cultivar apresenta tolerância à antracnose e ao oídio. Porém é sensível à podridão cinzenta, causada por Botrytis e à podridão ácida. Seu manejo é mais simples em comparação às variedades do grupo Itália. Para a qualidade da produtividade de 25 ton/ha, são necessários tratamentos com reguladores de crescimento para melhorar o tamanho e cor das bagas.
BRS Vitória – A BRS Vitória é uma cultivar de uva de mesa preta sem sementes, com sabor aframboesado extremamente agradável, bem adaptada ao cultivo em todas as regiões do país. Vem conquistando consumidores no Brasil e exterior. A BRS Vitória é tolerante à principal doença da videira, o míldio. Isso a diferencia de outras variedades, pois necessita de menos tratamentos fitossanitários, diminuindo os custos de produção e riscos de contaminação ambiental, garantindo a segurança de produtores e consumidores. Essa cultivar é a principal uva em exportação pelo Brasil, especialmente para o mercado europeu.

Os produtores
Produtores de uva, técnicos agrícolas e representantes do ramo vitivinícola gostaram do evento. Maria de Fátima Arioli Garcia é produtora rural em Ibiaiaras, RS; ela participou do dia de campo para receber instruções para dar início a uma produção de uvas: “Considero maravilhoso o evento de hoje. As uvas também são uma delícia, bem docinhas e sem semente”. Cleriton de Souza trabalha com fruticultura na região de Petrolina, PE: “Gostei muito das explanações principalmente da BRS Melodia que é uma novidade para mim. Acredito que a BRS Melodia possa agregar bastante a nossa região.” Vlademir J Megier é produtor de uvas na região de Ijuí, RS: “Tenho todas as BRS (variedades da Embrapa) e outras também. Um evento como esse é o que estava faltando. O pessoal não tá sabendo como trabalhar com elas. Gostaria de um evento desses mais seguido, mais vezes”.

Os Parceiros
Thayse Rafaela de Noronha Martins é engenheira agrônoma e hoje trabalha na Associação de Produtores de Uvas do Vale do São Francisco, detentora da marca Francis, onde acompanha a produção de uvas, especialmente no que tange à qualidade da fruta. São 93 fazendas com foco na BRS Vitória. Para evitar que a fruta seja colhida por volta dos 90 dias, logo quando começa a mudar de cor, ainda antes de atingir o ponto correto de maturação, a Associação estabeleceu um padrão de qualidade para a BRS Vitória. “A BRS Vitória chegou no Vale do São Francisco e deu uma levantada na economia. Conheci aqui a BRS Melodia, provei, e já me encantei; tem um sabor de tutti-frutti, bem diferente”.

Jorge Antonio Deon é viticultor em Petrolina, PE, e integrante da Cooperativa de Produtores Exportadores do Vale do São Francisco (COOPEXVALE), uma cooperativa com 28 produtores, conhecida pela realização de um controle rígido da qualidade das variedades de uva produzidas pelos associados. Deon possui 13 ha de BRS Vitória e oito ha de BRS Isis. Para ele a BRS Vitória foi muito bem aceita no mercado consumidor tanto interno como externo. “Cultivamos e comercializamos essas uvas para o Brasil inteirinho e no exterior também. Nosso mercado é o interno, no Brasil, que consome 70% da uva produzida na cooperativa e 30% para exportação”. A COOPEXVALE entra no Mercado Comum Europeu pela Holanda, a partir de onde a fruta é distribuída para os outros países da continente, além de exportar também para os Estados Unidos: “Precisamos de mais variedades e a Embrapa está providenciando isso”, conclui.

Um parceiro gaúcho presente no evento foi Joel Andrioli, da Frutícola e Viveiros de Mudas Freiberg & Andrioli de Alto Feliz, RS, que cultiva a BRS Vitória e a BRS Isis e recebe turistas na propriedade para realizar a colheita, além de vender nos mercados da região: “O sabor é inigualável, uma uva sem semente e com coloração (BRS Vitória)”. Os interessados fazem a colheita direto no parreiral, o que agrega valor ao produto. No carnaval do ano passado a Freiberger & Andrioli recebeu em média umas 1000 (mil) pessoas. “Só no final de semana, umas 300 pessoas, estamos muito satisfeitos e a tendência do mercado é um interesse maior pela BRS Vitória”, conclui Andrioli.