Estudo genético mapeia 11 mil anos da evolução canina

2015-04-10_190211

Mesmo com tantos anos retrocedidos, a origem dos cães é ainda mais antiga do que a pesquisa foi capaz de analisar

Um estudo publicado na última quinta-feira (29) na revista científica Science mostra que a história canina é paralela à história humana. A pesquisa, que é a maior já feita com genomas antigos de cães, sugere que, até certo ponto, para onde as pessoas iam, seus amigos de quatro patas as seguia.
Até pouco tempo atrás, a história canina era contada a partir do DNA de cães modernos, mas o método oferecia respostas inconclusivas, visto que muito da diversidade genética dos primeiros cães provavelmente foi perdido quando as raças modernas foram estabelecidas. Com os primeiros estudos envolvendo genomas caninos antigos, possíveis mudanças anteriores nas populações caninas começaram a ser notadas. No entanto, ainda com apenas seis genomas de cães ou lobos antigos, a pesquisa continuava sendo insuficiente.
Agora, com a análise de mais de duas dúzias de cães eurasianos antigos em mãos, os pesquisadores chegaram à conclusão que esses animais foram domesticados e se espalharam pelo mundo há mais de 11 mil anos. Embora as respostas sejam mais sólidas, o estudo ainda não foi capaz de responder quando ou onde aconteceu a domesticação.
“Os cães são um corante traçador separado para a história humana”, explicou Pontus Skoglund, geneticista populacional do Instituto Francis Crick, em Londres, que coliderou o estudo. “Às vezes, o DNA humano pode não mostrar partes da pré-história que podemos ver nos genomas dos cães”, acrescentou.
Para expandir as amostras de DNA de cães antigos disponíveis, o Instituto Francis Crick uniu forças com as equipes lideradas por Greger Larson, geneticista evolucionista da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e por Ron Pinhasi, arqueólogo da Universidade de Viena, na Áustria. Juntos, eles sequenciaram 27 genomas de cães antigos. As amostras vieram da Europa, do Oriente Médio e da Sibéria, e variaram em idades de 11 mil a 100 anos. “11 mil anos atrás, havia pelo menos cinco grupos diferentes de cães em todo o mundo, então a origem dos cães deve ter sido substancialmente anterior a isso”, afirmou Skoglund.
Com tantos genomas, os pesquisadores puderam seguir as antigas populações caninas à medida que se moviam e se misturavam, a fim de comparar essas mudanças com as das populações humanas. Até certo ponto, as viagens dos cães eram paralelas às das pessoas. Quando os fazendeiros do Oriente Médio começaram a se expandir para a Europa, há 10 mil anos, eles levaram cães e os animais, assim como seus donos, se misturaram com as populações locais. Já os antigos cães do Oriente Médio, que viveram por volta de 7 mil anos atrás, estão associados aos cães modernos da África Subsaariana, o que pode ter a ver com os movimentos humanos de “volta à África” naquela época.
Contudo, a partir de um certo momento isso mudou: há 5 mil anos, um grande afluxo de pessoas das estepes da Rússia e da Ucrânia levou a uma mudança duradoura na composição genética dos humanos europeus, mas não de seus cães.
A causa dessa desconexão fica para um próximo estudo com um viés diferente. “Foi um caso de introdução de algo como uma doença? Preferência cultural? Abandono do velho pelo novo?”, questionou Angela Perri, zooarqueóloga da Universidade de Durham, também no Reino Unido. “Essas são provavelmente questões culturais que o DNA não consegue responder”, concluiu.