Estudo comprova relação entre birras e bactérias intestinais

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A ligação entre os dois fatores se mostrou mais intensa nos meninos do que nas meninas

Em um minuto, seu filho está feliz e saltitante ao seu lado. No outro, se joga no chão do supermercado aos berros. A explicação para as mudanças de humor das crianças pequenas podem estar em um lugar muito diferente do que você imaginava: no intestino. É o que sugerem pesquisadores da Universidade de Ohio. Para chegar a essa conclusão, eles analisaram em 2015 o trato gastrointestinal de 77 meninos e meninas entre 18 e 27 meses e descobriram que a abundância e diversidade de certas bactérias tinha influência no comportamento deles.

De acordo com os pesquisadores, as crianças que tinham a maior diversidade de bactérias intestinais demonstravam com mais frequência bom humor, curiosidade, sociabilidade e impulsividade. A relação se mostrou mais intensa entre os meninos e apenas entre eles a personalidade extrovertida foi ligada à abundância de micróbios das famílias Rikenellaceae e Ruminococcaceae e do gênero Dialister e Parabacteroides.

Nas meninas a associação entre temperamento e microbioma intestinal foi menos consistente. Porém, o estudo mostra que as que tinham comportamentos como autocontrole e concentração tinham uma diversidade menor de bactérias intestinais.

Para fazer essas correlações, os pesquisadores pediram que as mães respondessem questionários sobre o comportamento das crianças. “Definitivamente existe uma ligação entre as bactérias que vivem em nossos intestinos e o cérebro, mas ainda não sabemos como essa conversa começa”, afirmou o microbiologista Michael Bailey,um dos autores do estudo, em nota divulgada pela Universidade de Ohio. “Talvez as crianças mais extrovertidas tenham menos hormônios de estresse impactando seu intestino em comparação às crianças tímidas. Ou talvez as bactérias estejam ajudando a diminuir a produção de hormônios do estresse quando as crianças encontram algo novo. Ou pode ser uma combinação dos dois”.

Um microbioma intestinal costuma ter entre 400 e 500 espécies de bactérias diferentes e sua composição varia de pessoa para pessoa. Os estudiosos ainda não sabem o que é um microbioma “perfeito” e acreditam que cada organismo pode encontrar um equilíbrio diferente. Segundo a pediatra Vera Lúcia Sdepanian, presidente do Departamento de Gastroenterologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, a partir dos 2 anos de vida, a microbiota intestinal que era instável torna-se estável e cada pessoa passa a ter sua própria composição, como uma impressão digital.

A pediatra ressalta que ainda são escassos os estudos em relação ao microbioma intestinal, mas algumas medidas que o ajudam a se desenvolver normalmente já são conhecidas. “Sabemos que atitudes como o nascimento por parto normal, aleitamento materno e não uso de antibióticos contribuem para uma microbiota saudável”, afirma. Depois dos seis primeiros meses de vida, uma alimentação diversificada e rica em fibras também tem efeito positivo.

Fonte : Revista Crescer